sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O nome da rosa




Minha mãe ouviu o meu filho, de oito anos, reclamar que levou uma bolada no pinto.

_Meu filho, como você deixou isso acontecer? - ela me disse.

_Ué, mãe, foi no futebol de salão. Os pais não podem entrar em campo. E eu nem estava perto. Essas coisas acontecem. Sei lá - eu disse.

_Não é disso que eu estou falando. Como você deixa o seu filho falar "pinto"? Por quê você não ensinou ele a falar o nome certo?

_Eu também falo pinto. Bráulio. Qual é o nome certo?

_Pipiu ou piu-piu - ela me disse.

_Ah, ele não gosta de falar piu-piu. Ele prefere pinto.

_Mas pinto é muito feio.

_Minha mulher também acha. Ela ensinou ele a chamar de pirulú, que é uma espécie de abreviação de pirulito. Lá em São Paulo é muito comum chamar assim. Tem gente que fala peru e quando é muito grande, tem uns caras que chamam de benga, que é um encurtamento de bengala.

_Me respeite e deixe de graça. Pirulú também é muito feio. Bonito mesmo é pipiu - disse a minha mãe.

_Tudo bem, mãe, eu vou pedir pra ele falar pipiu, pelo menos quando a senhora estiver po perto - eu disse.

_Não, senhor, eu não quero que ele fale nem de pirulú e nem de pipiu perto de mim - ela disse.

_Sim, tudo bem, está entendido, ele não vai falar de pintos e nem de pipius. Mas acho que isso é pura implicância com um nome à tôa. E ele só falou do pinto porque a bolada doeu, normalmente pipiu não é assunto nem dele nem de ninguém lá em casa - eu disse.

_De ninguém? - disse a minha mãe.

_Bom, a senhora entendeu o que eu quis dizer. Fique tranquila - eu disse.

_E qual foi o nome que você ensinou para a menina?

_Borboleta. As vezes também chamamos de perereca - eu disse.

_Que horror, que horror! - ela disse.

_Ué, e qual é o nome que eu deveria ter ensinado?

_Vagina.

_Aí sou eu que acha um horror.

_Mas é o nome certo - disse a minha mãe.

_Mas pênis é o nome certo e a senhora prefere pipiu.

_Olha, cuidado com o que fala. Eu sou sua mãe, com mais de 70 anos bem vividos. Acontece que pênis é muito feio.

_Tudo bem, não tem o menor problema. Vou corrigir isso. Vagina para as meninas e piupiu para os meninos - eu disse.

Mas por via das dúvidas acho que vou entrar numa aula de mímica.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Aretha Franklin - Won't Be Long (Live 1964)



Parabéns Guina e Vanessa pela chegada de Bianca, com 3,765 kg de saúde!

Gisele proibida e o dólar na cueca



O vídeo acima é aquele da Gisele Bundchen, que é linda e não deve nada a ninguém, em propaganda inteligente e bem-humorada de roupa íntima. Minha mãe não gostou. Achou que ela não precisava aparecer só de calcinha e sutiã num comercial para vender calcinha e sutiã. Mas não falou nada sobre proibir o comercial. E nem achou uma ofensa à mulheres. Pelo menos à mulheres da maior idade.

_Nem acho a Gisele bonita. Para mim ela é muito magrinha - disse a minha mãe.

Eu discordo humildemente da minha mãe. Mas ela não quer saber de discussão.

_Ela precisa engordar um pouquinho - disse minha mãe.

Eu procuro uma saída negociada.

_Tudo bem, eu concordo, talvez com uma dieta rica em protéinas ela ficasse ainda mais bonita - eu disse.

_Agora sim, você está comigo. Acho que mais um ou dois quilos não fariam mal nenhum à moça - ela disse.

_Eu não diria tanto, mãe. Estava pensando em coisa pouca, umas cem gramas ali, cinquenta acolá - eu disse.

_Isso tudo! De jeito nenhum - disse o meu pai.

_É, talvez fosse demais. Mas parece que proibiram ou vão proibir o comercial - eu disse.

_Ué, e por quê? - disse a minha mãe.

_Alguém do governo considera esse comercial uma ofensa às mulheres - eu disse.

_Inveja agora mudou de nome. Eu fico ofendida é com a burrice de certa gente - disse minha mãe.

_Eles deveriam proibir o dólar na cueca - disse o meu pai.

_E nas meias. É, no mínimo, muita falta de higiene - disse a minha mãe.

_É contra a saúde pública - disse o meu pai.

_É pior do que a volta da CPMF - disse a minha mãe.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Semi-enterrado e A-S

Nós estávamos na garagem do edifício. Eu, meu pai e minha mãe. Fui fazer companhia aos dois, que iriam colocar aparelhos de monitoramento cardíaco. Dirigir é muito estressante, o que pode provocar alterações nos registros dos aparelhos, então me ofereci para bancar o motorista por 24 horas. No caminho, minha mãe ficou me ensinando onde virar e como chegar à clínica.

Meu filho nasceu no hospital em frente à clínica, mas em oito anos o lugar ficou muito diferente. Está tudo lotado e apertado. Sem ajuda, eu não encontraria a clínica. E se o edifício da clínica não tivesse estacionamento pago, eu não encontraria vaga. O estacionamento público e gratuito estava lotado. O gramado estava lotado. E os flanelinhas agiam ostensivamente. Essa cidade é muito legal, mas está ficando pequena para tanto automóvel. Estacionamento gratuito é coisa do passado.

O edifício da clínica devia ter uns seis andares, contando os subsolos. Os subsolos eram estacionamentos caros, coisa de quatro reais a hora. Sem opção e em cima da hora, seguimos para o estacionamento pago. Depois de algumas manobras inusitadas acabei conseguindo uma boa vaga. Seguimos para o elevador e esperamos.

_Mãe, qual é o andar? - eu disse.

_A-S - ela disse.

_Não, mãe. O andar. Qual é o andar?

_A-S, está escrito aqui.

Eu pensei ter ouvido errado novamente e o elevador chegou. No painel, os botões de números 1,2 e e e mais SE, AS, SS1 e SS2. Dentro do elevador, uma coroa e uma garota. A menina usava óculos redondos e prateados, tipo John Lennon, e era obviamente Síndrome de Down.

_Mãe, qual é o andar? - eu disse.

_Não sei, parece AS, mas vamos para o térreo - ela disse.

Olhei para o meu pai, que concordou. Apertei o botão que eu achava que era o térreo, nível do chão. Mas não era ali. Descemos num corredor amplo. A mulher e a menina mongol continuaram no elevador.

_Não é aqui - disse a minha mãe.

Eu vi um sujeito dentro de um cinzeiro gigante.

_Ô da portaria, esse aqui é o A-S?

_Não, aqui é o S-E.

_E que diabos é S-E?

_Semi-enterrado - ele disse.

_Semi-enterrado?- eu disse.

_Semi-enterrado - ele disse, novamente.

_Pai, estamos no semi-enterrado - eu disse para o meu pai, que continuava esperando por mim e por minha mãe, dentro do elevador.

_Semi-enterrado? - ele disse.

_Isso mesmo- eu disse.

_Que coisa fúnebre - ele disse.

A menina com síndrome de Down olhava para nós, alegremente. A mãe estava furiosa.

_Mãe, não é aqui, vamos para o A-S - eu disse. E apertei o botão.

Todos do elevador desceram no A-S. Era o andar certo.

Esperamos uma eternidade e depois os dois entraram e colocaram os aparelhos. Eu fiquei desenhando no meu caderno moleskine de desenhar em sala de espera de consultório. É um caderno dedicado à Mona Lisa. Só desenho Monas Lisas nesse caderno. Tenho esperado uma eternidade em consultórios. Já desenhei mais de trinta Monas. Muitas nem se parecem com a Mona Lisa. Depois de meia hora, meu pai saiu do consultório usando um rolter. E alguns minutos depois minha mãe saiu com uma máquina de mapeamento cardíaco, não sei o nome.

_Descobriu o que é A-S? - perguntou a minha mãe.

_Não, depois do S-E fiquei com medo de perguntar - eu disse.

Na saída, no elevador, encontramos a menina Down e a mãe. A menina continuava com o mesmo ar de felicidade. E a mãe continuava furiosa. Pagamos o ticket e fomos até o carro. Depois quando estávamos saindo, vimos a mãe e a menina Down na bilheteria do estacionamento. A menina continuava feliz. Depois fiquei pensando que A-S significa Acima do Semi.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Pra não dizer que não falei de Oswaldo Montenegro

Havia um ninho sobre uma das lâmpadas da varanda da casa. Descobri ainda antes da mudança e pedi para que o jardineiro o retirasse logo nos primeiros dias. Hoje reparei que um novo ninho foi feito no mesmo lugar. O ninho fica sobre uma lâmpada que quase não acendemos. Fica bem ao lado da pérgula. Acho que é um ninho de rolinhas, mas pode ser de coruja, ainda não vi o pássaro.

Quase tirei o ninho eu mesmo na tarde de hoje. Mas fiquei com pena, porque talvez ele já tenha sido usado para desova. Pensei em verificar mas fui fazer outra coisa e quando me lembrei já era noite.

_Você viu o ninho? - disse a minha mulher.

_Vi - eu disse.

_Não vai tirar de lá?

_Talvez amanhã - eu disse.

_Viu se tinha ovo?

_Não - eu disse.

_E por que não?

_Sei lá, tenho medo de haver alguma lei que proíba a gente de olhar ninho à noite. Tem lei pra tudo, hoje em dia. E ninguém pode dizer que desconhece a lei.

_Pode ir tranquilo que sobra lei mas falta fiscal.

_Certo, mas é uma questão de princípios. Eu não gosto de cometer infrações.

_Você está com preguiça.

_Nunca, jamais - eu disse.

_Então vá lá e veja se o ninho está com algum ovo.

_E se estiver? O que farei com os ovos? E se for de uma coruja? E se eu for atacado por uma coruja daquelas do meu corujoporto?

_Daquela pequetitinha?

_Pequena?! Pequena nada. Aquela coruja tinha pelo menos um metro e setenta só de envergadura!

_Uma ova! Era uma corujinha anã, outro dia eu vi.

_Anã? Se existisse campeonato de tamanho de coruja aquela subiria ao pódio com medalha de ouro. Era um corujão, sim, senhora.

_Ah, sei, do tamanho de um condor.

_Con... putz, não fala isso, eu sempre lembro do Oswaldo Montenegro.

The Bartlebees - Safety Pin Stuck In My Heart



The Bartlebees - Safety Pin Stuck In My Heart

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A Suécia vence a Copa de 2014



Sacanagem, parece que o Br não chega nem às quartas...

Charles Bradley



Charles Bradley - The World (Is Going Up in Flames) (Live on KEXP)

Escutei hoje pela primeira vez, depois de ler a dica sempre preciosa no blog do Gravetos e Berlotas, do Edson Daquino. Coincidência total, porque ontem coloquei uma música do The Budos Band, que também se apresenta com Charles Bradley.

domingo, 25 de setembro de 2011

O céu sobre nossas cabeças

Estamos esperando a chuva. Aqui em casa todos os sinais foram observados e festejados durante a semana que passou. As andorinhas voaram baixo. O vento forte derrubou até as folhas secas do emaranhado da pérgula. As pombas e as rolinhas fizeram o seu barulho de fogo-apagou. Contamos três redemoinhos dos bons, com saci dentro. E por último, as formigas com asas, que minha mulher chama de "tzirís" começaram a entrar dentro de casa. Na última sexta-feira, os caras da previsão do tempo também juraram de pé junto que deste domingo não passava, a chuva viria forte e torrencial.

Mas até agora não veio.

Por causa disso, ensaiamos uma dança da chuva no meio da manhã. Mas acho que não usamos tambores suficientes. Ou faltou chocalho. Não sei. Nem chuviscou. Mas por precaução, todas as janelas estão fechadas, estamos no maior cuidado. Fiz revisão no telhado, trocamos noventa telhas Monte Carmelo na semana passada.

Apelei para a mandinga. Mandei lavar o carro. Todo mundo sabe que lavar o carro é batata para fazer chover. Mas nada. Nem nuvem escura apareceu no céu. Foi nessa hora que fizemos a dança da chuva. As crianças se cansaram e correram para a piscina. Fizeram chover sobre o Rafa e só não ligaram a mangueira porque a conta de água extrapolou as nossas previsões orçamentárias, sim, senhor. A piscina está dois azulejos abaixo do nível. O calor é tão grande em algumas horas do dia que daria para cozinhar uns pastéis japoneses.

Acabei pegando umas mandingas emprestadas de outras coisas para fazer chover. Experimentei jogar sal no fogo. Sim, dizem que isso é bom para espantar visitas e por isso eu resolvi usar para espantar a seca. Mas resolvi parar porque as poucas nuvens gordas do céu ficaram fininhas, fininhas. Talvez porque eu tenha usado aquele sal grosso de churrasco. Talvez só funcione com sal de cozinha ou flor de sal. Seja como for, com magia forte não se brinca.

Por último, depois de varrer a minha varanda, deixei a vassoura atrás da porta. Dizem que essa mandiga nunca falha para afastar gente chata. Como não existe nada mais chato do que 106 dias sem chuvas, achei que iria funcionar. E bem na hora que eu coloquei a vassoura atrás da porta da cozinha, pensei ter ouvido algumas gotas caindo no telhado. Mas foi engano ou passarinho. Seja como for, essa mandinga não funcionou porque a minha mulher começou a correr atrás de mim com a vassoura por causa da bagunça que eu fiz com o sal no fogo.

_Amor, se não chover a culpa vai ser sua - eu disse.

_Espera aí, espera aí, vai chover vassoura na sua careca - ela gritava.

Para escapar da fúria tempestuosa da minha mulher, eu me refugiei tempestivamente no escritório. Aqui, continuo trancado a observar com cuidado o céu sobre nossas cabeças. Mas até agora não há sinal de vassouras, digo, de chuvas...

sábado, 24 de setembro de 2011

As críticas de Rafa


The Budos Band - Mark of the Unnamed

Existem pencas de cachorros que pensam que são humanos. Rafa tem certeza. E mais, ele, além de sapiens sapiens, é da família. O cãozinho shi-tsu da minha filha faz de tudo para participar integralmente do nosso cotidiano. Isso inclui as refeições e a hora do banho. Rafa só não fica por perto quando vai dormir, porque nessa hora ele gosta de privacidade. Rafa gosta muito de sonecas, mas é um especialista em dormir de verdade. O fato de cochilar praticamente o dia inteiro não lhe tira o sono sagrado. Às dez da noite ele apaga. É fácil saber disso porque ele fica com a barriga pra cima, todo largado. Quando ele está desse jeito, o melhor é não encostar no Rafa. Uma vez encostei de leve e levei uma mordida forte, a única que o Rafa me deu em dois anos de convivência.

Quando as crianças estão na piscina, Rafa se preocupa. Ele late quando os meninos pulam de ponta e também quando dão salto mortal. Nessa hora, se alguém jogar água no Rafa ouvirá protestos latidos até cansar. Rafa também defende as crianças quando estou dando bronca. Ele fica latindo até que eu me canse dos latidos e esqueça porque estou bronqueando as crianças.

Mas, apesar disso, Rafa é um cão silencioso. Quando estou no escritório, passa horas aos meus pés, sem um latido sequer. Se bem que ele ronca. E soluça. Nunca vi um cachorrinho ter tanto soluço. Às vezes ele para de cochilar só porque começou a soluçar. E então ele tosse um pouco e pronto, volta para a soneca.

Rafa foi o presente de aniversário de cinco anos da minha filha. Desde que entrou para a família tem me ajudado a ser mais humano e menos canino. E isso vale para tudo. Ultimamente, por exemplo, Rafa tem sido um crítico impiedoso da minha marcenaria. Outro dia fiz um banco simples com umas sobras de tábuas e estacas. Rafa fez xixi numa das pernas. Eu vi e entendi o recado. O banco não estava legal. Lavei e incrementei o banco com espaçadores e cantoneiras reforçadas. Rafa não fez nada com o banco no dia seguinte, sinal de que a coisa tinha progredido.

Outro dia fiz um armário e o Rafa ficou me vigiando, esperando para ver qual era a cor que eu pretendia usar. Eu queria pintar de amarelo, mas o Rafa havia detonado um baú que pintei com essa cor, por isso pensei melhor. Como dá muito trabalho lavar madeira, eu decidi deixar o Rafa escolher a cor do armário. Usei todas as cores que eu tenho para madeira em pequenos pedaços de madeira que coloque ao alcance do Rafa. Rafa não gostou do verde, que ficou muito mordiscado. Também não gostou do amarelo, que foi regado em abundância. Para resumir, sobram intactos somente os pedaços pintados de vermelho e azul. Segui as sugestões e o Rafa deve ter gostado do resultado porque o armário continua sequinho e cheiroso.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A mais bela das canções de amor



Em 1976, durante um show em Montreux, Nina Simone perguntou se David Bowie estava na platéia e pediu que ele subisse ao palco. Fez isso repetidas vezes, parecia estar em surto.

_Tenho certeza de que se meu amigo David estivesse na platéia subiria agora ao palco - ela disse.

David Bowie não subiu ao palco. Ela achou que David estava em trânsito, ainda não estava na platéia. Se estivesse teria percebido o olhar de desamparo estampado no rosto de Nina, que continuava a procurá-lo com os olhos. Eram tão grandes aqueles olhos de Nina, mas ela não o encontra e tateia o pescoço. Encontra um colar. Explica que foi um presente, é uma antiguidade grega, tem mais de duzentos anos.

_Foi feito para uma rainha. E eu sou uma rainha - diz Nina Simone.

Então ela se levanta e faz uma mesura, inclina a cabeça. É uma rainha humilde e ainda assim, orgulhosa.

Bowie a encontraria mais tarde, eram tão diferentes e mesmo assim grandes amigos. Por causa dela gravou uma versão de "Wild is the wind".

Para mim, na voz de Nina, é a mais bela de todas as canções de amor.

Love me, Love me, Love me
Say you do
Let me fly away
with you
For my love is like the wind
And Wild is the Wind
Give me more than one caress
Satisfy this hungriness
Let the wind blow through your heart
Wild is the wind
You touch meI hear the sound of mandolins
You kiss me
With you kiss, my life begins
You're spring to me
All things to meYou're life itself
Like a leaf clings to a tree
Oh, my darling, cling to me
For we're creatures of the wind
And wild is the wind
Wild is the wind
Wild is the wind

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Over, over, over

Ninguém canta "At last" como Etta James cantou uma vez. Nem mesmo George Benson conseguiu tocar tão bem quanto no disco aquela versão de "On Broadway". Os Pretenders tentaram e tentaram, mas só existe uma versão gostosa de "Don´t get me wrong". David Bowie cantou a melhor versão de "Heroes" num show ao vivo em Paris. E o Clash fez a melhor versão de Police and Thieves" num palco fuleiro, que aparece no filme "Rude Boy". Conheci "Helicopter", do Bloc Party, porque estava vendo vídeos de gols do Ronaldo Fenômeno. O mesmo vale para "This picture", do Placebo.

Meu ipod travou mas descobri no site oficial que eu só precisava apertar o botão do centro e menu ao mesmo tempo para reinicializar e consertar o aparelho. Ele funciona muito bem. Mas Rafa, o cachorro shi-tsu da minha filha, conseguiu colocar os dentes nos meus fones de ouvido. Vou precisar de fones novos. Tem que ser da marca da maçã, porque experimentei um de outra marca e o som estava muito ruim.

Minhas cantoras prediletas de MPB estão mortas ou bem velhinhas. As minhas bandas favoritas também. Todos, todos, todos têm o mesmo defeito: fazem um "over" na música predileta da gente. Elis Regina era a campeã do over, detonando as músicas mais legais dos LPs gravados em estúdio. Rita Lee ainda segurava um pouco a onda, mas também assassinava uma "Ovelha Negra" ao vivo. Os caras das bandas também. Ao vivo extrapolavam nas versões das músicas mais legais gravadas em estúdio.

Quase não tem exceção. Lá fora também é do mesmo jeito. Mas Paul ex-Beatle e nos caras do Kings Of Leon costumam ser bem fiéis ao que gravam no estúdio. E Elton John, em meados dos anos 70, costumava ser melhor ao vivo do que no estúdio. Uma vez vi um show do Beatles Forever, uma banda cover, que reproduzia fielmente todas as músicas que tocavam. Até a tosse de alguém no início de Taxman.

Os Beatles gravaram alguém tossindo no início de uma música. Os caras do Pink Floyd gravaram uma risadinha sinistra em uma das faixas de The Wall. Pete Townshend ficou irremediavelmente surdo do ouvido direito durante uma apresentação ao vivo num show de TV em 1967. O The Who destruía os instrumentos ao final das apresentações naquela época e por isso o bateirista Keith Moon resolveu aprontar uma bela explosão ao final da apresentação de "My generation". O estrondo pegou Pete de surpresa.

Houve uma época em que os mesmos discos tocavam em todas as festas. E todas as músicas boas tinham uma história interessante e envolvente. Robert Cray lançou "Nothin but a woman" em 1987, mas só fui ouvir uns dois anos depois durante um almoço na casa do Niltão. Para mim, a melhor versão de "Run like hell" é de um show ao vivo do Pink Floyd de 1980, mas já não consigo encontrar no You Tube.

Mas quem se importa? Who gives a shit? Quais são as perguntas que importam?

Tenho reparado em algumas respostas. Muitas se parecem com as versões over das músicas que mais gostamos.

Dojo Cuts - Say What You Mean



Dojo Cuts featuring Roxie Ray play the song "Say What You Mean" (from their debut album) at The Basement in Sydney.

Roxie Ray.

Marque na agenda. Dia 04 de outubro de 2011 George Benson lançará "Guitar Man".

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ambição zero

A vida sem nenhuma ambição pode ficar um bocado monótona. Desde o meu desligamento imediato venho diminuindo drasticamente as minhas ambições. Não é que já não tenha nenhuma, longe de mim. É só que diminuí os quereres. Passei a chamá-los de projetos. Assim, ao invés de mero capricho a ser satisfeito, eu exercito a minha vontade de fazer.

Desde que mudamos para a casa nova, por exemplo, decidi perder um pouco de barriga. Eu estava acima do peso e não conseguia nem jogar adedonha por mais de cinco minutos. Quase comecei a correr, mas desisti a tempo. Meus joelhos agradeceram. Criei um programa de exercícios simples. De vez em quando eu paro o que estou fazendo e começo a fazer flexões de braço. Nos primeiros dias, eu conseguia fazer umas cinco flexões sem parar. Depois o número foi aumentando. Hoje consigo fazer trinta flexões. A idéia é conseguir chegar a quarenta flexões sem parar até dezembro. Numa boa. Fazer progressos aos poucos é o que me interessa. Quero melhorar a forma física, mas sem exageros, sem fazer careta e sem aporrinhações. Minha ambição para o corpo é controlar a endorfina.

Outra ambição é controlar melhor o tempo, especialmente o de leitura. Os anos de apartamento me deixaram viciado em ler começar o dia com um livro, no banheiro. Quando nos mudamos, tentei mudar a rotina, mas não consegui. Começo o dia com leitura. E também termino o dia com pelo menos meia hora de leitura de um livro.

O tempo de escrever vai do período pós-jantar até perto das onze e meia. Se a leitura me fisgar, estendo por mais meia hora. O único problema é que às vezes a fisgada é boa e me pego lendo às duas da manhã. No dia seguinte fico só pior que a capa do Batman.

Tenho desenhado menos do que gostaria e faz tempo que não atualizo o blog de desenhos. Tenho procurado ouvir coisas novas, de preferência música instrumental. As buscas no You Tube não tomam quase nenhum tempo e é fácil encontrar alguma coisa de qualidade. Encontrei uma cantora (Roxie Ray) com voz e estilo que lembra a Amy Winehouse e descobri que até a Beyoncé regravou "I´d rather go blind" na versão celebrizada pela Etta James.

Tenho pensado em coisas que não consigo colocar em palavras. Tenho ficado cada vez mais distante do que se pareça com fantasia e imaginação. Fica cada vez mais forte a sensação de que só consigo escrever para mim mesmo. E não adianta inventar projetos de escrever para os outros. Pareço sempre estar monologando. Falo sozinho e ao vento. Discurso.

_Parece que nunca acontece nada nesses seus textos - reclamou um dia, um grande amigo meu.

Ele tem razão.

Diplomats Of Solid Sound - B-o-o-g-a-l-o-o



Diplomats Of Solid Sound - B-o-o-g-a-l-o-o

Todo mundo Boogaloo!!!!!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Ocote Soul Sounds- Contigo Jamas.wmv



Ocote Soul Sounds- Contigo Jamas.wmv

Já não me atrevo.

Hackers capturam foto do Careca no celular



Os piratas dos celulares atacaram o meu Aifone e estão espalhando essa foto por aí. Mas esse traseiro não é meu. Vou acionar os meus advogados Uni, Duni & Tê. Hackers, tremei!!!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Cochemea Gastelum - Arrows Theme



From album "The Eletric Sound Of Johnny Arrow".

Eu não sei vocês, mas escutar música instrumental sempre me dá vontade de ler poesia.

Poema atravessado na garganta

Tenho muito para dizer a você
Meu bem
Mas eu me perco em outros caminhos
Em trilhas retas é que me confundo todo
É minha a culpa
De manter intocado num canto
Um tanto assim de paciência
E amor
Tenho entulhado rancor, saliva e
uma tonelada de bons argumentos
Sobre o meu mais recente fracasso
E raiva
Você nem imagina
Como é difícil andar descalço em meu deserto
Até os meus melhores sonhos ficaram tristes
Eu juro
As linhas tortas e quebradas do meu destino
Jamais serão porto
Seguro
É falta minha, eu acho
Ainda tenho lembrança do tempo
Foi ontem
Em volta de um café, sem açúcar
Tudo o que você queria ouvir
É que eu estava pronto para escutar

Purple Rain (acoustic cover) - Dred Scott (homeless Denver man) - Tyler Ward Featured Artist



Dica do meu amigo Selva Brasilis.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A horta do meu quintal



Começamos a fazer uma horta aqui em casa. Quero dizer, eu só jogo água nos quatro canteiros. Minha mulher é que decide o que será plantado. Ela foi à feira e trouxe um monte de mudas. E também plantou tomate, alface, couve e cenoura.

_E você, não vai plantar nada? - disse a minha mulher.

_Eu sou ruim de hortaliças. Mas talvez eu plante um pé de pimenta. Eu gosto daquelas amarelinhas bem ardidas - eu falei.

Isso foi há uns dois meses. O jardineiro preparou os canteiros com capricho. Trouxe esterco, terra escura. E usou um pouco da serragem e do pó de madeira da minha oficina improvisada como terra vegetal. Desde que plantamos as mudas e sementes, a horta vem sendo regada regularmente, todas as manhãs, pela minha mulher. De vez em quando ela precisa sair mais cedo para o trabalho e então sou eu que vou regar a horta.

_Não se esqueça de molhar os morangos. E também molhe aquela planta que o meu pai trouxe de São Paulo, é uma lembrança da minha tia, que morreu - diz a minha mulher.

Eu não me esqueço. O sol anda inclemente por aqui. E a grama do meu quintal está seca, com cor de palha. Você anda uns trinta passos no gramado seco e chega à horta, no fundo do quintal, beirando a cerca do vizinho. De um lado da horta fica o pé de limão-china, que está carregado. Do outro fica o pé de jabuticaba, que deve frutificar em dezembro. Eu jogo bastante água nessas duas árvores. Eu adoro limão-china e amo jabuticabas.

A horta é vigiada e atacada diariamente. As folhinhas verdes e tenras das couves e alfaces exercem uma atração muito louca sobre as aves. Um dia minha mulher comenta que está furiosa com os pássaros.

_Dá vontade de pegar uma espingardinha de chumbo.

_Mãe, você tem coragem de atirar em passarinho?

_Eu não, mas seu pai tem.

_Eu tinha. Hoje não tenho mais - eu disse.

_Ué, nem sabia que a gente tinha espingardinha de chumbo.

_É velha, está estragada.

O jardineiro veio e deu um jeito de colocar umas folhas de palmeira para cobrir a horta. Aumentou a sombra e os pássaros diminuíram os ataques.

_Também, já comeram toda a couve e acabaram com a alface - disse a minha mulher.

_Não é "o" alface? - eu disse.

_Sei lá, já comeram tudo, mesmo.

E é verdade. Sobraram as cenouras, mas nem sombra de tomate. Parece que mexeram no canteiro de morangos. E, ai, a muda de lembrança daquela tia está só um palito, não resta nenhuma folha.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

My Time is Gonna Come - Roger Daltrey (The Who)



McVicar is Roger Daltrey's fourth solo album, and also the soundtrack album of McVicar, the film of the same name. It also has all of the members on the Who playing on the album, with Kenney Jones on drums.
The album was released in June, 1980.
The album reached #22 in the US charts and #39 in the UK charts.

O álbum inteiro é muito bom. Nem o Cabeça tinha esse disco. Quem me emprestou foi o Ruble, que na época só escutava Duran Duran. Gravei numa fita cassete que estava quase esfarelando quando sumiu.

sábado, 10 de setembro de 2011

Onze de setembro



Eu gosto dos Estados Unidos da América. Gosto do cinema, da música, dos escritores, dos artistas, das roupas, da comida(hot-dog e hamburguer), do jeito de falar, do modo como procuram fazer as coisas eles mesmos, da maneira como cada pessoa que nasceu ou que lá vive protege e luta por aquele modo de viver. Deus abençoe a América.

Pelos poderes de Greyskull

As crianças brincavam no parquinho e as mães e babás vigiavam, meio distraídas.

_Aí eu virava areia e zum...

_Ah, é, e eu virava água e pá, póf e tum.

_Mas aí eu tinha o poder do raio e zac, pró, táááá.

_E eu tinha o poder do diamante e tuiimmm, cortava tudo.

_E eu tinha o poder do fogo...

_E eu tinha o poder da terra...

_E eu tinha o poder de falar com os mortos!

Tensão na ala das mães e babás. Todas olharam para a loura de óculos que se apressou em explicar:

_É de um episódio de Harry Potter. Lá em casa todo mundo é católico, apostólico, romano.

(A história é de uma amiga da família que veio nos visitar)

Sugar Fix - Laura Vane & The Vipertones



Nanaranana.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Remendo reforçado



Falta fazer um monte de coisas aqui em casa, o que eu acho ótimo. Houve um breve período em que cheguei a pensar em cancelar a mudança e ficar onde estava, no velho apê. Pensava nisso muito em função do desligamento imediato, eu acho. E medo de enfrentar o desconhecido. Hoje a situação é diferente. Os mais de dez anos que vivi no velho apê parecem distantes e embaçados na minha curta memória. Com a minha mulher e as crianças também parece ser assim.

Todos os dias descobrimos pelo menos uma coisa nova e legal na casa. Outro dia, por exemplo, eu descobri um cano. Foi enquanto eu cavava um pequeno buraco na jardineira ao lado da piscina. Eu usava uma enxadinha de mão quando bati de leve nesse cano de pvc marom.

_Shhhhhhhh - espirrou o cano.

_Xiiiiiiii - eu disse para mim mesmo.

E corri para desligar o registro. Durante a corrida eu rezei para que o cano não fosse o que chegava da rua, mas o que entrava em casa depois de passar pelo registro da companhia de água. Dei sorte, consideradas as circunstâncias. Fechei o registro e a pressão da água espirrando do cano ficou bem menor.

_Shhh - espirrava o cano.


Naturalmente o acidente com o cano aconteceu quando faltava apenas dois minutos para as seis da tarde. Por isso, improvisei um remendo reforçado que reduziu o vazamento pela metade e deixei o conserto para o dia seguinte.

_Sh - espirrava o cano.

Fiz o remendo na manhã do dia seguinte.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sem graça

Minha filha me pede para contar uma história engraçada, antes de dormir. Eu conto uma história mas não consigo inventar nada engraçado. Hoje estou sem-graça como contas a pagar. Quando estou no meio da história ela me interrompe para dizer que não havia nada engraçado acontecendo.

_Eu sei, eu sei, a parte engraçada começa agora - eu disse.

Mas é tarde e já não consigo bolar nada de engraçado. É uma quarta-feira sem graça, não consigo nem contar uma piada. Não estou cansado nem entediado. Estou só sem graça. Quando termino ela me diz que a história não foi engraçada. Eu peço desculpas, eu nem sempre consigo fazer o que eu prometo. Mas digo a ela que tentei de verdade contar uma coisa com alto astral e provocar umas boas risadas. Mas não deu.

_Tudo bem, paiê.

Então eu fico deitado ao lado dela, dividindo o travesseiro. Para me consolar, ela fica passando de leve as costas dos dedos na minha bochecha. Ela faz isso até adormecer.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O maravilhoso folclore nacional

Eu acho o maior barato o folclore nacional. Saci, mula-sem-cabeça, iara, boitatá, curupira, boto, caipora, mãe-de-ouro, sempre me amarrei nessas histórias. Ninguém da minha família contava nada disso, é claro. Aliás, nunca conheci ninguém de família nenhuma que contasse história de saci ou de outro mito qualquer do folclore nacional. Mas dizem que essas são as histórias que o povo conta, ou contava, e a gente estuda isso na escola. Veja meus filhos, por exemplo. O mais velho, agora com oito anos, aprendeu tudo o que se deve aprender sobre os mitos folclóricos brasileiros com a idade de seis anos. Aprendeu rapidinho, num instante. Na época (e até hoje) ele estava muito ligado em Pokemon e por isso vivia me fazendo perguntas sobre a evolução dos mitos.

_Pai, qual é o segundo estágio do Saci?

_Como é?

_O Saci evolui e vira o quê?

_Evolui? Filho, o Saci não evolui. No máximo, vira um Sacizão, dos grandes.

_Ai, que sem-gracesa, pai. Saci fica saci para sempre?

_Mas ele se diverte, filho. Ele esconde as coisas dos outros, tem um gorro mágico...

_E ele solta raio, pai?

_Não, que eu saiba, ele solta só umas baforadas de fumaça do cachimbo.

_E ele não sabe que fumar faz mal?

_Sabe, mas ele não consegue parar, filho.

_E como ele perdeu a perna?

_Bem, ele, ..., não sei, acho que os sacis nascem sem uma das pernas.

_Qual? Direita ou esquerda?

_Tanto faz.

_Não tem saci de duas pernas?

_Não. Todo saci nasce com uma perna só.

_E por quê ele esconde as coisas dos outros?

_É só para chatear, eu acho.

E por um tempo ele pareceu satisfeito. Eu achei que tinha ido bem com as respostas. Depois, na escola, eu vi um desenho que ele fez de um saci. Ele parecia se transformar em um ser musculoso. O cachimbo estava num cantinho, apagado.

Neste ano, minha filha vai fazer sete anos. Ela também estuda o maravilhoso folclore nacional. Ela não quer saber de saci e nem de evolução.

_Paiê, sereia e iara é a mesma coisa?

_Não. Acho que as sereias só existem nos mares, elas gostam de água salgada. A iara só gosta de água doce, dos rios e lagos.

_E a iara só fala português, paiê?

_Acho que sim, filha.

_Sereias sabem falar todas as línguas.

domingo, 4 de setembro de 2011

Banco de Praça



Banco de Praça era um exercício para estudantes de teatro. Consistia em sentar ao lado de um outro estudante e criar uma situação em que um dos dois seria obrigado a se levantar e dar o fora. Um grande relógio ao fundo do palco marcava o tempo. Cada dupla dispunha de no máximo três minutos. Quem conseguisse permanecer sentado era considerado vencedor e deveria permanecer no banco. Era um exercício de improvisação que raras vezes derivava em pancadaria.

Os professores não costumavam impor nenhuma regra, então não era impossível que a coisa descambasse para o confronto quando dois homens se sentavam no mesmo "banco de praça". Mesmo assim nunca vi briga, só umas cotoveladas e tapas. Quando duas moças se sentavam no "park bench" a coisa deixava de ser tão física. Mas a porrada verbal era mais violenta. Mesmo assim, xingamentos e beliscões não eram comuns.

Eu era um estrangeiro perambulando pela universidade onde fazia um curso de extensão. Descobri os ensaios no teatro por acaso, num dia em que a moto quase congelou. Entrei no prédio para me esquentar e vi o primeiro exercício de "park bench" da minha vida. O cenário consistia apenas de um banco de ripas de madeira iluminado por um holofote. O professor orientava os alunos da platéia, onde todos ficavam. Cada um devia escolher um papel título de uma caixa cheia deles e agir de acordo com o personagem. Somente a primeira dupla era chamada pelo professor. Esgotado o tempo, caso os dois permanecessem no banco, uma nova dupla era chamada pelo professor. Achei super-interessante.

Às vezes, a escolha de papéis favorecia a criação de situações estereotipadas. Policial e vagabundo. Empresário e empregado. Branco e negro. Religioso e abortista. Mas as combinações eram aleatórias. Não lembro das cenas, minha memória é uma droga. Só me lembro de ficar impressionado com a qualidade de algumas interpretações.

Lembro que descobri a grade horária dos ensaios de teatro e de marcar presença em muitas tardes naquele teatro. Eu me diverti à beça. Mas devia dar risadas altas demais da platéia. Um dia, ao chegar no teatro, a porta estava com uma corrente e cadeado.

Frootful - September



Track: September. Artist: Frootful.
Album: Colours (FSRCD084)
Label: www.freestylerecords.co.uk
Video: Chris Mannell

Vale a pena procurar o álbum inteiro e escutar.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

The Bamboos - On The Sly feat. Kylie Auldist



Peço desculpas a vocês, da minha Kombi de leitores, porque prometi e não vou cumprir. Acabei desanimando com o post de ontem e estou sem a mínima vontade de falar de vilões e continuar com o texto. Às vezes tenho isso. Uma idéia que parece boa e de repente, depois de dois ou três parágrafos, a coisa some. A idéia que era uma das oitavas maravilhas do universo começa a escorrer entre os dedos, vira areia. E depois não adianta voltar e refazer. É bem fácil cortar palavras depois do texto pronto, mas quando se perde o fio da meada e o entusiasmo com uma idéia, não adianta. Daquele mato não sai mais coelho. Todas as vezes que tento quebrar essa regra acabo perdendo tempo precioso, como aconteceu hoje. É o mesmo que bater em ferro frio.

Outras vezes, corto palavras demais. Vou amputando o texto. Uma unha aqui. Um dedo ali. E quando vejo, os parágrafos estão tortos e desequilibrados. Fico parecendo um gago.

Ainda pior do que isso, é o dia branco. Já aconteceu diversas vezes. Eu tenho um acesso de verborragia, escrevo, escrevo e escrevo e quando vou ler detesto tudo.

Foi mal.

Mas curta o vídeo do The Bamboos. A banda é boa e merece uma busca no You Tube.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O vilão favorito do Careca

Em alguns filmes, eu confesso, torço para o vilão. Os filmes com aquele grandalhão que usa rabo de cavalo com gomalina, por exemplo. Não vou com os cornos dele. Mas não é só por causa do cabelo. É a atitude. O jeitão de quem pretende corrigir os outros na base da porrada. A pose de superioridade física que ele pretende que seja moral. As sobrancelhas que se encontram. Não sei direito. Mas me pego torcendo para o vilão. Como eu manjo o esquema dos roteiros de Hollywood, onde o herói apanha até a metade do filme e depois inicia uma trajetória de vingança e recuperação, eu só assisto filmes com aquele grandalhão até a metade.

Existem outros, existem outros. Filmes com aquele cara que faz biquinho, o novo James Bond. Ele mesmo. Vivo torcendo para ele perder. E ele é bom de levar porrada. Gosta mesmo. Com esse cara os roteiristas gostam de complicar o esquema do roteiro um pouco e colocam o herói apanhando do início até o finzinho do filme. Eu só paro de assistir na primeira metade da cena de pancadaria final.

Mas apesar de gostar dos vilões de muitos filmes, não guardo nome de quase nenhum.
(continua)

Frase do dia