domingo, 17 de julho de 2011

Nada é o que parece ser

Visitamos a livraria na semana passada. Saí de lá com “Nada é o que parece ser”, da Patrícia Highsmith. Voltamos para casa e cada um foi para o seu canto. Eu tinha um armário para terminar. Minha mulher foi arrumar as estantes.

Daí a pouco ela me chamou correndo. Ela riu da minha memória porque encontrou outro exemplar de “Nada é o que parece ser”, no meio de uma pilha de livros novos.

_As capas são diferentes. O mais novo é da Editora Benvirá e este outro, mais velho, é da Editora Arx – eu disse.

Mesmo assim minha mulher achou graça da minha memória. Dei de ombros. Essas coisas acontecem, eu pensei. Não significam nada. É só uma vontade muito grande de ler o livro. Além disso, é uma grande escritora. Posso embrulhar para presente e deixar guardado. Sempre aparece um aniversário de última hora, é muito bom e recomendável ter algo à mão. E um livro é sempre um ótimo presente.

Voltei para o armário que eu estava pintando de vermelho. Pensei em deixá-lo com uma aparência mais envelhecida, usando graxa de sapato e cera. Trabalhei com cuidado, usando uma cera de sapato velha que tinha. Ia começar a usar uma lixa fina quando a minha mulher me chamou novamente.

Ao entrar no escritório ela gargalhava. Havia encontrado mais um volume de “Nada é o que parece ser”. Dessa vez era outro exemplar da Editora Arx. Eu não tinha desculpas.

_Deixe aí, vou embrulhar os dois. Vão ficar prontos para algum presente de emergência – eu disse.

_Mas por quê você não troca o exemplar que acabou de comprar?

_Porque não fiz a ficha de troca e nem sei onde coloquei a nota de compra. Mas não se preocupe – eu disse.

_Você não tem medo de esquecer os livros embrulhados?

_Não, mas essas coisas podem acontecer, você sabe. Uma vez fiz um pente fino na estante e encontrei quatro exemplares de “O alvo móvel”, de Ross Macdonald. Eram livros de bolso, certamente comprados na época em que eu almoçava sempre no shopping. Naquele tempo eu lia muitos romances policiais. Uma outra vez encontrei cinco exemplares de “Moby Dick”, dois ainda estavam com o plástico. Mas isso também é compreensível, porque é um clássico e um dos meus livros prediletos. Os três “Invisible”, do Paul Auster, seriam mais difíceis de explicar, se você não soubesse tratar-se de um clássico contemporâneo, um dos livros mais brilhantes da década. Então?

_Então o quê?

_Posso ir agora?

_Só depois de você me dizer que livros são aqueles ali, embrulhados para presente.

_São presentes, oras.

_Você não acha que vamos ficar com muitos presentes de aniversário?

_Não, de jeito nenhum. Além disso, agosto e setembro são meses campeões de aniversários, periga até faltar algum...

3 comentários:

Selva Brasilis disse...

Rola uma teoria que tu so compra livro para enfeitar estante; uma versão do cabeça, mas com bom gosto.
http://selvabrasilis.blogspot.com/2011/07/voce-le-os-livros-que-compra.html

Careca disse...

Selva, é verdade. O problema é que muitos livros repetidos deixam a estante feia.

Quanto ao artigo, é isso mesmo. Ninguém lê livro de jornalista. E poucos se dão ao trabalho de ler os artigos nos jornais.

Ah, o Cabeça não compra livros, ele ganha do avô, que é intelectual.

Anônimo disse...

Você me deu este livro há uns anos atrás.. Não sei se me emprestou e não devolvi, se me deu mesmo, mas, agora com suas novas aquisições, devo lhe pedir que me dê de novo.. Não sei se te devolvi, se emprestei pra alguém ou se o escondi pra ninguém me pedir emprestado..
Aliás estou com o "Do que eu falo quando falo de corrida" do Murakami Okada Fukuda e acho que não vou devolver, ok?

PS: Meu niver é dia 04 de agosto p´roximo rsrsrs
Bejins,
Maira

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