Meu filho se agita. Às vezes, simplesmente não consegue ficar quieto na hora do jantar. Fica balançando as pernas e os pés. Sacode o corpo sentado na cadeira. Inclina a cadeira o máximo que pode. Outro dia, num almoço de aniversário, ele exagerou com essa peripécia e acabou passando um grande susto em todo mundo, porque a cadeira virou e ele caiu de costas no chão. Corri, aflito, pensando que havia desmaiado. Felizmente foi coisa à toa, mesmo assim, machucou o queixo, mordeu a língua. Menos de dez minutos depois, já estava como antes, saracoteando na cadeira, testando ao máximo o equilíbrio.
E quase sempre também é como um teste para mim. Às vezes acho que ele, sem ter consciência disso, com sete anos acho que não temos muita consciência de nada, fica o tempo todo testando até onde pode ir, até onde pode dobrar o que é que há para dobrar. E em geral, eu perco esse jogo, porque sempre acho que ele poderia ter parado antes, porque eu teria parado antes, porque os meus limites são mais estreitos. Eu digo então que ele não sabe a hora de parar de brincar. Mas porque tem que ter essa hora? Porque não deixar que ele mesmo perceba qual é o limite?
Quando eu era menino, o limite estava bem claro. E se dúvida eu tivesse, bastava um olhar para os olhos da minha mãe para saber quando parar. Às vezes, nem isso. Eu adivinhava os olhos dela em mim se extrapolasse a medida. Era muito raro recorrer à torre de controle dos olhos do meu pai. Dele, a menor das reprimendas já me enchia de vergonha por semanas a fio.
Depois, um pouco mais tarde, ainda no jantar, meu filho sacode as pernas e balança o corpo sem parar. Eu me lembro daquela piada antiga e cruel, do menino que não fica parado. O menino fica girando feito carrossel e o pai, furioso com o barulho do pé batendo no assoalho, ameaça: fica quieto, menino, senão eu prego o outro pé no assoalho! E por isso eu me calo, porque talvez eu esteja contendo demais o garoto. E é estranho lembrar dessa piada justo agora, que o seu pé está ferido, com um pequeno caroço que parece um calo. Nessa semana iremos ao médico, para ver o que é. Tomara que não seja nada, uma coisa à tôa. Ele age como se realmente não fosse nada, não reclama, é estóico à beça, descobri o calo quase por acaso outro dia, quando tentei fazer uma massagem nos seus pés.
Quando ele era um bebê, eu às vezes cortava as suas unhas, que eram muito, muito finas e cortantes. E depois eu gostava de massagear as plantas dos seus pés. E devagar, eu pressionava o polegar contra a planta do pé e os dedos, bem devagar, até que se descontraíssem, até que um sorriso relaxado surgia no seu rosto e ele adormecia. Ele sentia cócegas quando eu esfregava o queixo no seu calcanhar. Seu pé, um dia, foi menor do que o meu nariz.
Mas agora ele cresceu. Os meus limites nunca serão os dele, todo mundo sempre me disse que eu era tímido demais, introvertido demais. É muito bom que ele seja o contrário. Acho que os extrovertidos são mais amados, sim, mas isso não quer dizer que sofram menos. Então fico quieto e deixo que ele se sacuda um pouco. Talvez seja o melhor que possamos fazer, nos sacudir enquanto há tempo, ficar parado é que é um erro.
Uma vez alguém me disse que só corremos porque podemos. Achei que era brincadeira, uma coisa espertinha para se dizer para outra pessoa. Eu mesmo não sou muito de correr, prefiro nadar, andar de bicicleta. Mas hoje vejo que a pessoa tinha razão nesse jeito de definir o gosto de correr. As pessoas correm porque gostam de sentir o ar nos pulmões, o ritmo, a cadência da corrida, o cansaço dos músculos, o vento, a brisa, o suor. Porque é este usufruto com um pouco de esforço que lhes proporciona a gratitude de viver. Não. Isso é muito rebuscado. É uma coisa mais simples. As pessosas correm porque podem. Porque lhes é permitido. Porque lhes é concedido.
E de repente, como se o plug tivesse pulado fora da tomada, toda a agitação se encerra e meu filho dorme no sofá. No canto da boca, um sorriso. Ele ainda dorme quando o carrego até o seu travesseiro. Outro dia quase não consegui carregá-lo e fiquei com uma baita dor nas costas. Deposito com cuidado o pequeno em sua cama. Quando puxo o cobertor, ele ainda sorri, maroto. Na verdade, acordou quando o tirei do sofá e só fingiu dormir para que eu o carregasse.
_Boa noite, pai!
_Durma bem, meu filho!
É um ritual antigo, limitado em peso e altura. Pretendo prolongá-lo ao máximo.
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