Tudo bem, eu concordo. Ser mãe é mais difícil que ser pai. E isso não tem nada a ver com biologia, com afetividade e nada. Acho que é mais difícil ser mãe por causa do Dia das Mães. Tudo bem, nós pais também temos o nosso dia, mas nada se compara ao Dia das Mães. É fogo. Pra começar tem todo o pseudo-segredo que envolve as celebrações na escola. As crianças treinam canções secretas durante semanas, às escondidas da mãe, antes do dia da apresentação especial do Dia das Mães na Escola.
No Dia dos Pais, se tiver um parabéns é lucro. Com hip-hip, é lucro triplo.
Neste ano, por exemplo, as crianças treinaram durante dois meses a canção especial do Dia das Mães na Escola. Todos os dias, elas também cantaram para o papai aqui a canção no carro, antes de ir para a escola. E é bem verdade que nos primeiros dias a coisa é meio tocante, mas depois de uma semana ouvindo aquelas canções você sente vontade de subir pelas paredes. Do carro. Em movimento. É um horror.
Mesmo assim sobrevivi. E na Escola Nem Tão Alternativa Assim em que as crianças estudam, todo ano tem cantoria das crianças, palco, declamação de poesia e pique-nique dos pais. É muito legal. As mães se acabam, é claro. Minha mulher chora lágrimas de esguicho quando os pimpolhos se apresentam, com as canções treinadas.
Mas antes da canção das crianças, tem que ouvir o discurso da diretora da escola. Desde que eu me entendo por gente, discurso de diretora de escola é uma coisa chata. Deve ser uma espécie de unanimidade universal. Pensa bem. O discurso da diretora da escola é chato. É até um pleonasmo, né? Pois então. E nesse ano, a diretora caprichou, ou então a minha gripe, a Gri, é que reduziu o meu bom-humor.
Se bem que o meu humor acordou um pouco mais reduzido porque eu não pude dormir a hora extra de sábado. A festa das Mães na escola começava às oito e meia, e para sair de casa com duas crianças, é preciso acordar pelo menos uma hora antes.
Com um pouco de esforço, conseguimos chegar às nove e quinze na escola, exatamente na hora da apresentação da minha filha mais nova. Estava mais lotado que um shopping em dia de liquidação da loja de sapatos femininos. Minha filha conseguiu chegar ao palco a tempo e cantou a sua canção a plenos pulmões, com toda a coreografia perfeitamente encenada. Minha mulher chorou copiosamente (nem foi tanto assim, mas sempre quis escrever copiosamente e não poderia perder esta chance). Eu chorei copiosamente de inveja. E então comecei a procurar, desesperadamente, pelo meu filho, que havia desaparecido no meio daquele mar de gente da escola.
Para qualquer lugar que se olhasse havia um casal sentado sobre um quadrado de pano, com pelo menos uma criança aos berros, gritando, brincando, pulando ou simplesmente berrando de alegria. Parecia um dos círculos do inferno de Dante, numa versão Disney. Quando eu comecei a ficar desesperado encontrei o meu filho junto com um monte de crianças, na quadra de esportes da escola, bem longe de toda a confusão.
Apesar da minha vontade de ficar por ali, voltamos para dentro da escola e também nós sentamos no nosso quadrado de pique-nique, comemos salgados e biscoitos e tomamos suco. Na confusão, meu filho não conseguiu se apresentar. Depois de comer tudo, fomos embora.
Agora, lembrando um pouco de tudo o que aconteceu na parte da manhã, revejo mentalmente os casais e a escola lotada. As crianças cantando, emocionadas. O tantão de presentes, e cartões, e recitações, e embrulhos, e coisinhas feitas pelas crianças. Se fosse Dia dos Pais, não teria nem um terço do quórum. Nem se a programação fosse refeita para o período da tarde. Eu mesmo acho que não iria. Preferiria ficar em casa, dormir até mais tarde. Abrir uma lata. Assistir um futebolzinho...
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