sábado, 30 de janeiro de 2010

Avatar impressiona o Careca

Meninos, eu vi. Eu e a minha mulher. Nós deixamos os filhotes e um sobrinho que estava com a gente na minha sogra e corremos para o cinema. Foi o primeiro filme em 3D realmente 3D que eu vi em toda a minha vida. Confesso que meu queixo caiu. E olha que eu uso óculos. Então foram óculos 3D sobre os meus óculos para a minha miopia, mesmo assim as imagens me impressionaram. Positivamente.

Eu sou do contra, mas é preciso dar o braço a torcer. O filme é um show envolvente. Um monte de gente falou sobre a previsibilidade do roteiro, da enormidade de clichês que existem em Avatar, mas isso não é demérito. As histórias de amor são sempre um amontoado de clichês e o difícil é exatamente mostrar o encadeamento de uma maneira empolgante. Todo mundo sabe o final de Romeu e Julieta, mas você assiste à peça bem encenada até o final. Não precisa ser diferente. Avatar enche os olhos. É uma história de amor bem encenada, com ritmo, ação e aventura.

Mas tem um ou dois momentos de humor e não empolga os ouvidos. Os sons dos efeitos especiais são legais, nada de novo, e não gostei da música. É muito ôooÔOOoo. É meio tântrico demais, um abuso do clichê xamãnico, um excesso de tubas tibetanas. Fiquei com vontade de ter levado um Ipod com o rock que eu curto para algumas partes. Colocaria Wolfmother - Cosmic Egg em vários momentos, com certeza. A música do letreiro final, por exemplo, dá vontade de sair correndo do cinema. Parece Enya. É um New Age prálá de chato.

E talvez tenha sido o xarope sonoro que não tenha permitido uma maior imersão na fita. Mesmo assim, gostei.

Imersão é uma palavra chave para o cinema de Cameron. Ele fez O Segredo do Abismo antes de Titanic, lembra? E o próprio Avatar é um ser que só vive quando outro ser mergulha no interior da sua mente. Não é preciso ser James Cameron para saber que o objetivo de Hollywood (A Madeira Sagrada) e da indústria de efeitos especiais é fazer com que a gente mergulhe de cabeça e se sinta parte da história, mesmo que a gente pague caro por isso. E ele, se não fosse toda aquela música melosa e uns exageros ecochatos e muito metidos a sério, por pouco não conseguiu permitir que eu mergulhasse no filme durante mais de duas horas, junto com o personagem principal. Isso, entretanto, acontece em alguns momentos, especialmente nos momentos de imersão total. E num deles a câmera vai com você junto para debaixo dágua, de uma maneira muito bacana.

Por outro lado, mesmo sabendo que esse filme será a maior bilheteria da história no mundo, acho que será sempre considerado um filme brega. Cameron abusa da sua tentativa de aproximação conosco, os silvícolas. Ele flerta claramente com os cucarachas, com o povo do mato, com os dominados, com os perdedores. Os gringos, os poderosos e donos da poderosa máquina de guerra falam inglês e são marines, ou ex-marines. O povo do mato fala uma língua incompreensível que só os cientistas mais babacas têm paciência para estudar. Os fuzileiros americanos são tratados como lunáticos belicistas ou ingênuos pacifistas no limite da traição. O povo azul (não é preto, nem vermelho,nem amarelo, nem cucaracha) é todo interativo com a natureza e é totalmente do bem. Nenhum é ruim da cabeça, não tem ninguém doente do pé.


Mas isso é papo de boteco, daquela conversa mole sobre dominação cultural. A verdade, meninos, é que Avatar é uma fantasia das mais bacanas que assisti em 2010. Vale a pena sair de casa e usar aquela moedinha que o Chaplin e o Robert Downey Jr. jamais desdenharam.

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