quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O maior tesouro do mar




Desenhei um bocado nessas férias. Fiz um caderno novo de sketchs. Como sempre, chego em casa e fico com preguiça de scanear o caderno. É bem verdade que poderia ter desenhado mais, mas é preciso deixar a preguiça vencer durante as férias. Levei um kit de aquarela, para ver se aprendia um pouco a mexer com isso. Mas não deu certo. Tenho pouca paciência para nuances e pequenas adições. Além disso, levei um papel que não é muito adequado para aquarela. As pinceladas não surtiam muito efeito naquele papel. Ou melhor, com a minha miopia, o único efeito era um sono profundo que me atirava para uma merecida soneca depois do almoço.

Então me agarrei à minha caneta 0.5 gel preta e comecei a desenhar conchinhas que eu encontrava na praia. Eu voltava com o boné cheio de búzios e conchas comuns. Aí desenhava. As crianças ficavam me observando. Não fiz nenhum desenho especial, nem nada. Só conchas.

As crianças não tiravam os olhos da mesa, onde eu havia separado as conchas meticulosamente. Dividi em quatro grandes grupos: conchas comuns, espirais pontudas, espirais tipo disco voador e búzios mini-ânforas. Essas últimas são um meio termo das espirais pontudas e as tipo disco voador, parecem umas garrafinhas pontudas com uma alça larga para segurar.

Uma hora fui ao banheiro e quando voltei não havia mais nenhuma concha à vista. Dei de ombros. No dia seguinte, aconteceu a mesma coisa. Separei os quatro tipos de conchas e desenhei alguns. As crianças ficaram me observando. Aí quando fui para o banheiro, guardei as conchas dentro do boné e coloquei o boné sobre um armário alto da casa. Quando voltei, o boné estava no armário, mas não havia nenhuma concha. E nenhuma criança por perto. Só um banco onde um menino se equilibrou para pegar as conchas.

E assim foi. Durante os dias que passamos na praia, todos os dias eu pegava um monte de conchas, separava em quatro tipos e desenhava um pouco. Quando voltava do banheiro, os búzios haviam desaparecido.

No penúltimo dia, as crianças estavam à espreita, esperando que eu fosse ao banheiro. Mas eu resisti. Usando o meu excelente poder de concentração, evitei pensar em cachoeiras, em água corrente, aquedutos, em torneiras pingando, em rios, mares, lagos e oceanos. Aguentei o máximo que pude. Fui o Cavaleiro Jedi da Uretra Presa.

Os meninos foram se aproximando. Pensei que estivessem curiosos para ver os desenhos, mas não tinham olhos para isso, só queriam as conchas. Um a um, os búzios foram desaparecendo da mesa. No final, pegavam as conchas aos montes. Não sobrou nada para desenhar. Dei de ombros.

No dia seguinte, localizei o esconderijo das conchas. Estavam todas juntas e misturadas, num grande caminhão baú de plástico. Parecia um tesouro. Por via das dúvidas, guardei uns búzios no bolso para desenhar quando tivesse vontade. Não são desenhos muito bons, nada disso. São pequenas coisas, que só têm sentido para mim. É como colecionar ventos. Engarrafar nuvens. São pequenas inspirações para um exercício diário de digressão, nessa minha vida minúscula.

Hoje encontrei duas conchas numa calça jeans.
Daqui a pouco vou cultivar lembranças.

4 comentários:

Paulo Bono disse...

bicho, como eu queria saber desenhar.

franka disse...

nossa como você desenha bem, careca. parece foto. como conseguiu cor com caneta pilot preta?

Careca disse...

Bono, é que nem andar de bicicleta.

Careca disse...

Franka, dãããrrn. É claro que é uma fota da Internet. Eu disse que tenho preguiça de scanear.

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