quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Rái-Tóim-Jô

A vida da gente é repleta de exemplos. Positivos e negativos. Desde criança, é muito difícil fugir dessa lógica de preto e branco. E nem sei se é bom ou ruim ter essas noções bem categorizadas na cachola. O bandido usa chapéu preto. O mocinho usa o chapéu branco. Darth Vader usa armadura preta. Luke Skywalker nem usa armadura.

Minha mãe sempre usou exemplos negativos para me corrigir.

_Não lê na mesa, senão vai ficar zarolho que nem o André Queijo - sendo o André Queijo um cara que vendia queijo de porta em porta onde a gente morava.

_Para de balançar a perna, que agonia, vai ficar manco que nem o Joaquim Paroba - sendo esse Joaquim um maluco de rua.

Às vezes a coisa atingia níveis globais, quase cósmicos.

_Come o fígado todo, tem menino morrendo de fome na África - na época eu acho que doaria com prazer aqueles pedaços de fígado do meu prato. Hoje eu disputaria a guloseima a tapas, minha mãe é uma senhora cozinheira.

_Acho bom estudar muito e aprender tudo, senão vai acabar pra trás - ela dizia.

_Pra trás, onde, mãe? - eu perguntava, chato.

_Atrasado num canto, sozinho, sem ninguém. Não há quem ature gente ignorante.

E ela tem razão. Eu mesmo tenho baixa tolerância à ignorância, inclusive à minha. E não posso dizer que esteja muito à frente de alguma coisa. Embora garanta que não haja ninguém atrás de mim. Por via das dúvidas, ando com as costas coladas na parede.

Mas nem tudo é tão simples, afinal em Guerra nas Estrelas os "starship troopers" usam armaduras brancas. E eles são da turma do Vader não? Bom, não importa muito. Embora seja verdade que às vezes, os exemplos também se confundam e nos deixem confusos. Tem uns sujeitos que às vezes são exemplos do bem e que depois, sem que a gente se dê conta, acabam se tornando perigosos exemplos de agentes do mal.

No meu tempo de menino, os principais exemplos oscilantes eram os irmãos Raimundo, Antônio e José. Individualmente, os irmãos cearenses eram excelentes. Rái era um atleta dedicado, campeão de judô. Tonho era um investigador da natureza, obcecado por temas científicos, enxadrista com medalha e troféu. E Jô era o melhor mecânico que havia nas redondezas desde os doze anos de idade. Era capaz de desmontar e montar um carburador de olhos vendados. E às vezes fazia isso mesmo, no escuro da garagem. Entretanto, juntos, os irmãos eram sinônimo de brigas e confusão da grossa.

Um dia, não lembro mais o motivo e nem sou capaz de inventar uma coisa dessa, minha mãe inventou a expressão "Rái-Tóim-Jô". Acabou por se tornar um dos principais exemplos negativos da minha meninice.

_Isso aí é muito Rái-Tóim-Jô! - ela dizia, e a gente sabia que aquilo era o fim da picada.

Essa minha primeira semana de trabalho depois das férias também está totalmente Rái-Tóim-Jô.

Um comentário:

Beeh M. disse...

Oi, tudo bem?
Vim retribuir a visita que fez ao meu blog e já o estou seguindo. =)
Gostei das suas postagens, são muito interessantes e curiosas de se ler. Parabéns pelo blog!
beijos;*

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