Muitas coisas na vida da gente não dão certo. É como chegar do supermercado e perceber que aquele pacote com quatro lâminas de barbear que você comprou por uma ninharia não vão servir para nada. Você não tem o aparelho certo. As lâminas não encaixam. É uma sensação tão horrorosa quanto a perspectiva de ficar barbado para sempre. E justamente quando você achou que estaria levando a melhor sobre o sistema. Você volta ao supermercado e acaba comprando outro aparelho, porque não aceitam a devolução de produtos em promoção. Há sempre uma solução para tudo. E o mais importante é descobrir que as soluções que encontramos são absolutamente nossas. Sua e de quem te deu a idéia. Não dá para pensar em tudo, né?
Demorei muito a entender aquela coisa do livre arbítrio. Eu agora sei que muitas vezes não há uma recompensa para as decisões certas. Assim como muitas decisões erradas não acarretam punição, embora deixem uma sensação muito ruim no coração. Não há muita diferença entre Mach 3 e Sensor 3. Ambos servem para fazer a barba. Ou a careca. Mas é preciso ter o aparelho certo.
Tudo é metáfora. Tudo aquilo que aconteceu contigo no trote da faculdade deverá se repetir na sua vida profissional. Aquele ônibus errado que você pegou tem um significado extra. O motorista da sua vida não tem carteira de habilitação e está embriagado. Aqui se faz, aqui se enterra, diz o gato.
Adeus 2009, você já vai tarde.
Seja bem-vindo, 2010.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Mach 3 e Sensor 3
Eu gosto de ir ao supermercado. Minha mulher não gosta. Mas adora fazer compras. Para ela, seria melhor se o supermercado viesse até ela. Embora não tenha nada contra uma saidinha para ir ao shopping.
Felizmente, consegui me livrar da minha obsessão por prateleiras. A minha mania de ferramentas também está contida pela minha meta de economia. Desde que estabeleci controle mais rígidos para os meus impulsos gastadores, ir ao supermercado se tornou mais prazeroso. Não é que eu seja masoquista. Mas a verdade é que me sinto super bem ao olhar para uma ferramenta multiuso mini-retífica Dremmel e nem parar para ler as especificações técnicas. Passo direto. Também parei de analisar alicates, parafusadeiras, lixadeiras, plainas, serras tico-tico e furadeiras. Não fico mais tanto tempo na seção de ferramentas. Não analiso a composição de colas, tintas e material de bric-a-brac como antes. Para não dizer que estou completamente curado, de vez em quando compro uma caixa, pequena, de parafusos com bucha e fita isolante. Tenho uma gaveta quase cheia de fita isolante. Devo ser o único sujeito do mundo com fita suficiente para se isolar, de corpo inteiro, do elétrico universo circundante.
Pura poesia, né? Na verdade, se fosse possível qualificar o meu instinto poético eu diria que eu sou do tipo desconfiado. Desconfio tão intensamente das coisas que eu sinto, que chego a sentir as coisas que desconfio. (continua)
Felizmente, consegui me livrar da minha obsessão por prateleiras. A minha mania de ferramentas também está contida pela minha meta de economia. Desde que estabeleci controle mais rígidos para os meus impulsos gastadores, ir ao supermercado se tornou mais prazeroso. Não é que eu seja masoquista. Mas a verdade é que me sinto super bem ao olhar para uma ferramenta multiuso mini-retífica Dremmel e nem parar para ler as especificações técnicas. Passo direto. Também parei de analisar alicates, parafusadeiras, lixadeiras, plainas, serras tico-tico e furadeiras. Não fico mais tanto tempo na seção de ferramentas. Não analiso a composição de colas, tintas e material de bric-a-brac como antes. Para não dizer que estou completamente curado, de vez em quando compro uma caixa, pequena, de parafusos com bucha e fita isolante. Tenho uma gaveta quase cheia de fita isolante. Devo ser o único sujeito do mundo com fita suficiente para se isolar, de corpo inteiro, do elétrico universo circundante.
Pura poesia, né? Na verdade, se fosse possível qualificar o meu instinto poético eu diria que eu sou do tipo desconfiado. Desconfio tão intensamente das coisas que eu sinto, que chego a sentir as coisas que desconfio. (continua)
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Coisas a fazer antes da virada
Fiz uma lista hoje. Falta um montão de coisas para fazer antes da virada. A maior parte é organizar as coisas desse ano, que já acabou e não admite. E também pequenos consertos.
Já arrumamos os armários da cozinha. A máquina de lavar louça (que foi detonada pelo cara que arrumou os armários da cozinha). As lâmpadas do banheiro. As lâmpadas dicróicas que estavam de reatores queimados. Pendurei os dois painéis de metal que usamos para pendurar recados, fotos e outras coisas legais no quarto do meu filho e no meu quarto. Disfarcei todas as mordidas do Rafael nos móveis da sala (usei graxa de sapato preta, e quase não se percebe os cantos roídos e os outros arranhões).
Hoje arrumei o meu pc. Fui no cara que sempre consertava, mas ele fechou a loja. Mudou de ramo. Agora o negócio dele é tatuagem. Eu não preciso consertar a minha tatuagem. Até mesmo porque não tenho tatuagem, já quis ter, mas faltou coragem. Ele também faz piercing. Mas eu também não tenho piercing. Já quis ter um piercing no nariz, mas de manhã eu espirro muito, teria sido um transtorno dolorido.
Seja como for, o cara mudou de ramo. Encontrei um outro cara que abriu uma loja pertinho. Expliquei para ele que o computador havia parado de funcionar. Que não reinicializava nem a pau. E que eu suspeitava de um problema elétrico, uma perda de pilha, ou um problema na fonte. O cara fez hum, hum, como só os informáticos sabem fazer. Mas foi profissional, não me olhou como se eu fosse uma ameba que só sabe mexer no teclado. E num instante ele encontrou o problema do pc.
_O que aconteceu? - eu perguntei.
_Não tenho a menor idéia. Primeiro não ligou com a sua fonte. Ligou com outra fonte. Depois ligou com a sua fonte. Depois não ligou. Testei a fonte mas ela está legal. Agora ligou. Não sei o que aconteceu. Juro.
Por via das dúvidas, ligamos e desligamos o computador umas vinte vezes. Não falhou nenhuma vez.
_E quanto foi? - eu perguntei.
_Nada. Não possou cobrar pelo que não sei se fiz.
_Cobre pelo seu tempo.
Ele cobrou. Cheguei em casa e testei o pc. Está funcionando. Fiz a lista de coisas que ainda preciso fazer nele, no velho e bom pc. Ainda falta muita coisa.
Já arrumamos os armários da cozinha. A máquina de lavar louça (que foi detonada pelo cara que arrumou os armários da cozinha). As lâmpadas do banheiro. As lâmpadas dicróicas que estavam de reatores queimados. Pendurei os dois painéis de metal que usamos para pendurar recados, fotos e outras coisas legais no quarto do meu filho e no meu quarto. Disfarcei todas as mordidas do Rafael nos móveis da sala (usei graxa de sapato preta, e quase não se percebe os cantos roídos e os outros arranhões).
Hoje arrumei o meu pc. Fui no cara que sempre consertava, mas ele fechou a loja. Mudou de ramo. Agora o negócio dele é tatuagem. Eu não preciso consertar a minha tatuagem. Até mesmo porque não tenho tatuagem, já quis ter, mas faltou coragem. Ele também faz piercing. Mas eu também não tenho piercing. Já quis ter um piercing no nariz, mas de manhã eu espirro muito, teria sido um transtorno dolorido.
Seja como for, o cara mudou de ramo. Encontrei um outro cara que abriu uma loja pertinho. Expliquei para ele que o computador havia parado de funcionar. Que não reinicializava nem a pau. E que eu suspeitava de um problema elétrico, uma perda de pilha, ou um problema na fonte. O cara fez hum, hum, como só os informáticos sabem fazer. Mas foi profissional, não me olhou como se eu fosse uma ameba que só sabe mexer no teclado. E num instante ele encontrou o problema do pc.
_O que aconteceu? - eu perguntei.
_Não tenho a menor idéia. Primeiro não ligou com a sua fonte. Ligou com outra fonte. Depois ligou com a sua fonte. Depois não ligou. Testei a fonte mas ela está legal. Agora ligou. Não sei o que aconteceu. Juro.
Por via das dúvidas, ligamos e desligamos o computador umas vinte vezes. Não falhou nenhuma vez.
_E quanto foi? - eu perguntei.
_Nada. Não possou cobrar pelo que não sei se fiz.
_Cobre pelo seu tempo.
Ele cobrou. Cheguei em casa e testei o pc. Está funcionando. Fiz a lista de coisas que ainda preciso fazer nele, no velho e bom pc. Ainda falta muita coisa.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Rafael é um cão diferente
Choveu muito nesses dias de festa. E o Rafael, o cãozinho shi tsu daqui de casa, se esbaldou de correr para um lado e para outro. Especialmente no dia 25 de dezembro, quando ele passou o dia inteiro correndo atrás do Prince, um falso poodle-toy de propriedade da prima da minha filha. Rafa é só um filhote de seis meses, da mesma idade do poodle que não é toy, é um poodle normal. Mas que foi comprado como "toy". Pois o Rafa e o Prince passaram o dia correndo um atrás do outro, foi uma canseira danada.
_Careca, olha só o que o seu cachorro está fazendo com o cachorro da minha filha! - disse o meu co-cunhado.
_Caramba! Tapem os olhos das crianças! Isso é filme triple x!
_Desempata que é briga! - disse a minha cunhada.
_Não, repara bem. Love is in the air!
_E o Rafa é tão baixinho!
_Parece que o Prince deu pezinho pra ele alcançar!
_É safardanagem descarada!
_Quiéisso! São dois filhotes inocentes!
_É, é só uma sacanagem inocente!
_Inocente, nada. O Prince já está pedindo preservativos com sabor morango...
A coisa durou umas sete horas, no máximo, foi esse o tempo que passei na casa do meu co-cunhado. Na saída, ele ainda ofereceu para ficar com o Rafael, quando estivermos viajando. Minha mulher e eu agradecemos ao cunhado, mas nós achamos melhor deixar o Rafa em outro lugar.
De volta à casa, foi preciso lavar o Rafael com sabão de coco e secar bem. No dia seguinte, ele estava feliz e bem disposto. E acabou se molhando e ficando um bocado sujo com as crianças no parquinho. Hoje, segunda-feira, nós escoltamos o pequeno shitsu até o pet-shop para uma lavada caprichada.
Uma hora depois, eu fui buscá-lo no pet-shop. O atendente quis, primeiro, me empurrar um outro shitsu, com manchas amarelas e pinta de ser uma fêmea. O Rafa é inconfundível, com manchas pretas e um jeitão brincalhão. Rafa protestou na gaiola e só sossegou quando eu o peguei.
Mas alguma coisa aconteceu com o cãozinho. Ele está bem tristonho e sonolento. Brinquei com as crianças, dizendo que o Rafa de verdade tinha ficado no pet-shop, aquele era um falso Rafa.
_É mesmo, paiê. Esse não é o Rafa. O Rafa é mais alegre e me lambe quando eu abraço ele, assim,ó, viu? - disse a minha filha, dona do cãozinho.
Mas é mesmo o Rafa. Fizemos todos os testes possíveis de reconhecimento no bicho. E ele achou a tigela de comida rapidinho. Só está meio brocochô. Queria que fosse apenas saudades do Prince, mas acho que o pobrezinho foi maltratado no pet-shop. É muito triste, bicho triste.
_Careca, olha só o que o seu cachorro está fazendo com o cachorro da minha filha! - disse o meu co-cunhado.
_Caramba! Tapem os olhos das crianças! Isso é filme triple x!
_Desempata que é briga! - disse a minha cunhada.
_Não, repara bem. Love is in the air!
_E o Rafa é tão baixinho!
_Parece que o Prince deu pezinho pra ele alcançar!
_É safardanagem descarada!
_Quiéisso! São dois filhotes inocentes!
_É, é só uma sacanagem inocente!
_Inocente, nada. O Prince já está pedindo preservativos com sabor morango...
A coisa durou umas sete horas, no máximo, foi esse o tempo que passei na casa do meu co-cunhado. Na saída, ele ainda ofereceu para ficar com o Rafael, quando estivermos viajando. Minha mulher e eu agradecemos ao cunhado, mas nós achamos melhor deixar o Rafa em outro lugar.
De volta à casa, foi preciso lavar o Rafael com sabão de coco e secar bem. No dia seguinte, ele estava feliz e bem disposto. E acabou se molhando e ficando um bocado sujo com as crianças no parquinho. Hoje, segunda-feira, nós escoltamos o pequeno shitsu até o pet-shop para uma lavada caprichada.
Uma hora depois, eu fui buscá-lo no pet-shop. O atendente quis, primeiro, me empurrar um outro shitsu, com manchas amarelas e pinta de ser uma fêmea. O Rafa é inconfundível, com manchas pretas e um jeitão brincalhão. Rafa protestou na gaiola e só sossegou quando eu o peguei.
Mas alguma coisa aconteceu com o cãozinho. Ele está bem tristonho e sonolento. Brinquei com as crianças, dizendo que o Rafa de verdade tinha ficado no pet-shop, aquele era um falso Rafa.
_É mesmo, paiê. Esse não é o Rafa. O Rafa é mais alegre e me lambe quando eu abraço ele, assim,ó, viu? - disse a minha filha, dona do cãozinho.
Mas é mesmo o Rafa. Fizemos todos os testes possíveis de reconhecimento no bicho. E ele achou a tigela de comida rapidinho. Só está meio brocochô. Queria que fosse apenas saudades do Prince, mas acho que o pobrezinho foi maltratado no pet-shop. É muito triste, bicho triste.
domingo, 27 de dezembro de 2009
A virada está quase aí
Toda vez que eu penso em passagem de ano eu me lembro das viagens de automóvel, com a família. Nós ficávamos de olho nas placas das divisas entre os Estados e quando faltava cinco quilômetros para a divisa todo mundo começava a berrar a sigla do Estado de saída:
_DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF...
E assim que passávamos debaixo do arco de metal com a placa de divisa, na saída do Distrito Federal, o coro mudava para GO,GO,GO,GO. Era um prazer bem infantil. Uma bobagem divertida. Por isso mesmo mantida com o devido carinho com os meus filhos. Em toda viagem que fazemos de carro, o ato de berrar a sigla do estado "sainte" e a do estado "chegante" é exaustivamente repetido. Quanto mais longa a viagem, melhor.
Em final de ano eu fico quase do mesmo jeito. Fico com aquela expectativa infantil sobre o que pode surgir depois da badalada final de 2009. Felizmente, é uma expectativa positiva. E quando eu olho para trás, para o ano que passou, agradeço pelas coisas boas que aconteceram.
2009, 2009, 2009, 2009,2009, 2009, 2009, 2009,2009, 2009, 2009, 2009,...
_DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF...
E assim que passávamos debaixo do arco de metal com a placa de divisa, na saída do Distrito Federal, o coro mudava para GO,GO,GO,GO. Era um prazer bem infantil. Uma bobagem divertida. Por isso mesmo mantida com o devido carinho com os meus filhos. Em toda viagem que fazemos de carro, o ato de berrar a sigla do estado "sainte" e a do estado "chegante" é exaustivamente repetido. Quanto mais longa a viagem, melhor.
Em final de ano eu fico quase do mesmo jeito. Fico com aquela expectativa infantil sobre o que pode surgir depois da badalada final de 2009. Felizmente, é uma expectativa positiva. E quando eu olho para trás, para o ano que passou, agradeço pelas coisas boas que aconteceram.
2009, 2009, 2009, 2009,2009, 2009, 2009, 2009,2009, 2009, 2009, 2009,...
sábado, 26 de dezembro de 2009
Granadas no restaurante do shopping
Depois de tantos almoços e jantares espetaculares, nós hoje fomos almoçar no shopping. Não há nada de errado em almoçar no shopping, mas não faça essa besteira no dia 26 de dezembro. Não, senhor. Ficamos horas procurando um lugar para estacionar no estacionamento pago. Seguimos em fila indiana para entrar no shopping. Minha filha escolheu um restaurante que parecia caro e vazio. Fomos bem recebidos, mas o meu sentido de alerta emitia sinais inequívocos de que havia algum problema com o local. Descobrimos qual era o problema após a primeira das quase duas horas de espera para receber os pratos com a comida. Estava deliciosa, é verdade, mas fria. E na saída, para coroar a estadia, a conta veio a mais. Nem dá para dizer que fiquei com raiva. Só não volto mais lá.
Ao final, como sempre faço nessas ocasiões, eu simulei o ato de puxar o pino de uma granada imaginária na saída do restaurante. Atirei a granada imaginária com estilo, tapando os ouvidos na sequência. Mirei no caixa que trouxe a conta errada. Bum!
Minha mulher não viu. Só a minha filha.
_Pai, você é bem maluco, hein...
_
Ao final, como sempre faço nessas ocasiões, eu simulei o ato de puxar o pino de uma granada imaginária na saída do restaurante. Atirei a granada imaginária com estilo, tapando os ouvidos na sequência. Mirei no caixa que trouxe a conta errada. Bum!
Minha mulher não viu. Só a minha filha.
_Pai, você é bem maluco, hein...
_
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Surge uma arara azul
A grande novidade do Natal deste ano foi um pássaro. Uma gigantesca arara azul apareceu na véspera de Natal no quintal da casa do meu pai. É uma ave impressionante. Pela manhã, após a enorme confusão da abertura dos presentes que o velho Noel deixou para as crianças que acreditam no bom velhinho, nós fomos alimentar a arara. Ela estava sobre a grade do canil e ficou particularmente contente com o pedaço de banana que meu pai estendeu. Despedaçou a fruta em alguns minutos. Estava faminta. E depois comeu um pedaço de maçã. As crianças depois me perguntaram se meu pai havia recebido a arara do velho Noel.
_Pode ter sido um presente provisório - eu disse. O vovô deve ficar com a arara até que o dono seja encontrado. Ela deve estar com saudades de casa.
_Pode ter sido um presente provisório - eu disse. O vovô deve ficar com a arara até que o dono seja encontrado. Ela deve estar com saudades de casa.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
O ladrão de carrinhos II
"Trata-se de um tio, já meio idoso. Esse tio não gosta muito de fazer compras. Nunca gostou. Sempre fez muitas reclamações dos supermercados, que não é bem atendido e coisa e tal. E esse tio, com o passar do tempo, desenvolveu a técnica de "pegar o carrinho pronto". Tem sempre alguém que passa horas fazendo compras, no maior capricho, aí encosta o carrinho num lugar que passa pouca gente e descansa um pouco, em outro corredor, ou sai para ir ao banheiro, sei lá. Pois esse tio, na hora, passa ali e pega o carro pronto, indo direto para o caixa.
_E lá no caixa ele só vai tirando as coisas que não precisa levar de jeito nenhum do carrinho. Ai, meu Deus, onde é que eu estava com a cabeça quando peguei essa coisa? Camembert? Nunca comi isso, vou experimentar. E assim por diante.
E o melhor de fazer compras no estilo "carro pronto" é que as pessoas que encostam carrinhos costumam escolher muito bem as carnes, frutas, verduras e legumes.
_E esse tio nunca foi pego? - alguém sempre pergunta.
_Claro, mas ele sabe fazer uma cara de coitado de fazer dó em porteiro de boite. Nunca falha. "
E escutando a história, na casa do meu amigo, eu me lembrei de uma bem parecida com um tio meu, que também é famoso por fazer a mesma coisa. Aí depois, bem depois, eu pensei na cidadezinha pequena, no meu tio idoso, e nas diversas possibilidades de explicações.
_E lá no caixa ele só vai tirando as coisas que não precisa levar de jeito nenhum do carrinho. Ai, meu Deus, onde é que eu estava com a cabeça quando peguei essa coisa? Camembert? Nunca comi isso, vou experimentar. E assim por diante.
E o melhor de fazer compras no estilo "carro pronto" é que as pessoas que encostam carrinhos costumam escolher muito bem as carnes, frutas, verduras e legumes.
_E esse tio nunca foi pego? - alguém sempre pergunta.
_Claro, mas ele sabe fazer uma cara de coitado de fazer dó em porteiro de boite. Nunca falha. "
E escutando a história, na casa do meu amigo, eu me lembrei de uma bem parecida com um tio meu, que também é famoso por fazer a mesma coisa. Aí depois, bem depois, eu pensei na cidadezinha pequena, no meu tio idoso, e nas diversas possibilidades de explicações.
O ladrão de carrinhos
Eu sou do interior. As pessoas das cidades pequenas costumam contar as mesmas histórias, com pequenas variações. é natural. O que aconteceu com o meu vizinho, eu vi e contei. O vizinho por sua vez, também pode contar a mesma história. E o primo dele, que ouviu a história, vai acrescentar um ponto, como no telefone sem fio.
Mesmo assim, isso me surpreendeu. Na festa de aniversário de um amigo, na terça-feira, ouvi uma hístória que ouço desde criança, na minha família. Só que a pessoa que me contou não é da minha família. Mas a família desse cara é da mesma cidadezinha onde eu nasci.
Mesmo assim, isso me surpreendeu. Na festa de aniversário de um amigo, na terça-feira, ouvi uma hístória que ouço desde criança, na minha família. Só que a pessoa que me contou não é da minha família. Mas a família desse cara é da mesma cidadezinha onde eu nasci.
Veneza
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Ainda não é Natal pra todo mundo
Sou um tolo que adora efemérides. Essa época do ano me influencia. Eu me sinto um aniversariante. Eu acredito na esperança. Na boa fé. Na tolerância. Na boa vontade. E isso me dá uma sensação de bem-estar comigo mesmo.
Mas no shopping, onde eu levo cotoveladas e pisões no dedão do pé de pessoas "distraídas", o espírito de Natal passou longe. No trânsito, onde o maluco que pisca o farol apressado atrás de mim e me xinga, do alto da caminhonete, o espírito de Natal não chegou perto.
Evito as manchetes lúgubres dessa época do ano. Não dá vontade de ler jornal. Nem internet. No trabalho, quem pode já se mandou.
Ainda não é Natal para todo mundo, eu sei. Mesmo assim, já é hora de começar!
Feliz Natal a todos.
E um recado: não pretendo folgar. Devo blogar todos os dias até a primeira semana de janeiro. Acompanhe.
Blim-blom. Jingle Bell!
Mas no shopping, onde eu levo cotoveladas e pisões no dedão do pé de pessoas "distraídas", o espírito de Natal passou longe. No trânsito, onde o maluco que pisca o farol apressado atrás de mim e me xinga, do alto da caminhonete, o espírito de Natal não chegou perto.
Evito as manchetes lúgubres dessa época do ano. Não dá vontade de ler jornal. Nem internet. No trabalho, quem pode já se mandou.
Ainda não é Natal para todo mundo, eu sei. Mesmo assim, já é hora de começar!
Feliz Natal a todos.
E um recado: não pretendo folgar. Devo blogar todos os dias até a primeira semana de janeiro. Acompanhe.
Blim-blom. Jingle Bell!
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Duas observações de Ivam Lessa, da BBC
“Os comerciais para homens são geralmente em branco e preto e os para mulheres em cores.”
“As pessoas já se desejam Merry Christmas e não o tradicional e mui britânico Happy Christmas.”
“As pessoas já se desejam Merry Christmas e não o tradicional e mui britânico Happy Christmas.”
domingo, 20 de dezembro de 2009
O ano que passou e a carta anônima
Era uma festa de amigos. E começamos a falar das coisas que aconteceram no ano. A avaliação geral é de que foi um ano bom. Poderia ter sido melhor, mas não foi um ano ruim. Teve gente que fez mais ressalvas. Eu mesmo fiz algumas, pequenas. Sempre acho que poderia ter feito mais coisas. Ido a mais lugares. Conhecido mais gente. Aprendido mais. Mas agora acho que estou aquietando o facho. Só lamento não ter lido mais.
Fui hoje para a casa dos meus pais. Tenho ainda muitos livros espalhados pelas estantes de lá. Encontrei um livro velho, de oitenta e quatro, no banheiro. Era uma republicação de crônicas de Rubem Braga. Todas as crônicas foram escritas nos primeiros dos anos 50. E Rubem Braga fala em tom de saudades de um Brasil que já não existia mais, com uma melancolia e um saudosismo poético, bonito e viril, ao mesmo tempo.
Li, rapidamente, duas crônicas que escolhi, folheando o livro ao mesmo tempo que perscrutava a memória. Uma crônica falava de Rubem olhando pela janela e vendo um nadador atravessar a linha do horizonte. Em outra, a crônica é uma carta dirigida ao morador do 903, sendo Rubem o vizinho morador do apê 1003 que o perturba com música, pessoas, visitantes e alegria. Ao final da primeira crônica, Rubem exalta o nadador, que, no mínimo, serviu de pretexto para a criação de uma crônica. Na outra, Rubem faz uma apologia ao congraçamento humano para que o vizinho incomodado suba e se junte às próximas festas.
Resolvi imitar o Rubem. Cheguei em casa e olhei pela janela. Um homem passeava com o cachorro. Era um cachorro grande. O cara estava visivelmente entediado com o cachorro. O cachorro tentava arrastar o sujeito para todos os lados. O cachorro fez umas trinta marcas territoriais em poucos minutos. No final, fez o número dois. O sujeito não recolheu os inúmeros números dois.
Sei onde o sujeito mora. É um vizinho de prédio. Vou escrever uma carta para ele. Em nome do congraçamento humano vou pedir para que ele deixe de cachorrada e recolha o que o totó fizer da próxima vez.
Mas aí pensei melhor. O diabo mora nos detalhes. Talvez não fosse prudente assinar a carta. Por outro lado, é uma covardia enviar carta anônima. Sempre achei. Ainda estou nesse dilema. Talvez seja melhor ficar na minha.
Fui hoje para a casa dos meus pais. Tenho ainda muitos livros espalhados pelas estantes de lá. Encontrei um livro velho, de oitenta e quatro, no banheiro. Era uma republicação de crônicas de Rubem Braga. Todas as crônicas foram escritas nos primeiros dos anos 50. E Rubem Braga fala em tom de saudades de um Brasil que já não existia mais, com uma melancolia e um saudosismo poético, bonito e viril, ao mesmo tempo.
Li, rapidamente, duas crônicas que escolhi, folheando o livro ao mesmo tempo que perscrutava a memória. Uma crônica falava de Rubem olhando pela janela e vendo um nadador atravessar a linha do horizonte. Em outra, a crônica é uma carta dirigida ao morador do 903, sendo Rubem o vizinho morador do apê 1003 que o perturba com música, pessoas, visitantes e alegria. Ao final da primeira crônica, Rubem exalta o nadador, que, no mínimo, serviu de pretexto para a criação de uma crônica. Na outra, Rubem faz uma apologia ao congraçamento humano para que o vizinho incomodado suba e se junte às próximas festas.
Resolvi imitar o Rubem. Cheguei em casa e olhei pela janela. Um homem passeava com o cachorro. Era um cachorro grande. O cara estava visivelmente entediado com o cachorro. O cachorro tentava arrastar o sujeito para todos os lados. O cachorro fez umas trinta marcas territoriais em poucos minutos. No final, fez o número dois. O sujeito não recolheu os inúmeros números dois.
Sei onde o sujeito mora. É um vizinho de prédio. Vou escrever uma carta para ele. Em nome do congraçamento humano vou pedir para que ele deixe de cachorrada e recolha o que o totó fizer da próxima vez.
Mas aí pensei melhor. O diabo mora nos detalhes. Talvez não fosse prudente assinar a carta. Por outro lado, é uma covardia enviar carta anônima. Sempre achei. Ainda estou nesse dilema. Talvez seja melhor ficar na minha.
sábado, 19 de dezembro de 2009
The walking dead
Sim, é uma revista em quadrinhos.Já foram publicados 68 edições, com média de 20 páginas cada, em formato americano. Existem várias possibilidades de downloads na Internet. É ficção científica, no modelo da tradição de Matt Matherson, o cara de "Eu sou a lenda", que virou filme co Will Smith.
Se você não viu nem leu nada disso, o resumo é o seguinte: O mundo acabou. Está cheio de zumbis. Acompanhe as aventuras do sobrevivente, que tenta levar a vida nesse cenário apocalíptico.
Por enquanto, li vinte revistas. Os desenhos são simples e envolventes. A trama é uma isca tênue em anzol de linha curta, com enredo tenso. Num instante você está feito um peixe fisgado, se debatendo para encontrar logo a próxima revista, baixar e ler.
Se você não viu nem leu nada disso, o resumo é o seguinte: O mundo acabou. Está cheio de zumbis. Acompanhe as aventuras do sobrevivente, que tenta levar a vida nesse cenário apocalíptico.
Por enquanto, li vinte revistas. Os desenhos são simples e envolventes. A trama é uma isca tênue em anzol de linha curta, com enredo tenso. Num instante você está feito um peixe fisgado, se debatendo para encontrar logo a próxima revista, baixar e ler.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Narval e o santo de casa
As viagens rápidas de avião acabam por fazer a gente criar alguns hábitos. Eu aperfeiçoei a minha mania de moleskine. É só entrar no avião e eu abro o moleskine. Tenho sempre uma caneta gel preta 0.7 no bolso. E vou desenhando até chegar ao destino. Às vezes nem percebo a moça oferecendo balinha e refrigerante. Também não me incomodo de responder perguntas sobre o desenho. Em geral, são as crianças que perguntam.
_Moço, isso é o quê? - perguntou esse menino. Devia ter uns oito anos. Viajava com a avó.
_É um narval - eu disse. Acho que é assim. Nunca vi nenhum.
_Tem chifre de unicórnio?
_É. Na verdade, dizem que é um dente gigante, não sei direito.
_Parece uma baleia com chifre de unicórnio - disse o garoto.
_E é de marfim. Os chifres são muito valiosos.
_Posso desenhar também?
_Desculpe, mas neste caderno só eu desenho. Mas pode usar essa folha branca.
_Obrigado - era um menino muito educado.
Continuei desenhando. O menino pegou uma caneta com a avó. Não gosto de emprestar canetas. Quando terminei, pouco antes do avião pousar, olhei de esguelha para ver o que o menino havia desenhado. Um unicórnio. Muito bem feito. Muito bem feito até para um adulto. Fiquei boquiaberto. Falei para o menino que era um dos melhores desenhos de unicórnios que eu já havia visto. A avó do menino não foi da mesma opinião. Quando recebeu o desenho, dobrou a folha ao meio, fazendo vinco e guardou na bolsa.
_Ele vive desenhando animais, esse menino. Mas não consegue desenhar pessoas - disse a avó. E depois ela reclamou que ele havia mordido a tampa da caneta.
_Moço, isso é o quê? - perguntou esse menino. Devia ter uns oito anos. Viajava com a avó.
_É um narval - eu disse. Acho que é assim. Nunca vi nenhum.
_Tem chifre de unicórnio?
_É. Na verdade, dizem que é um dente gigante, não sei direito.
_Parece uma baleia com chifre de unicórnio - disse o garoto.
_E é de marfim. Os chifres são muito valiosos.
_Posso desenhar também?
_Desculpe, mas neste caderno só eu desenho. Mas pode usar essa folha branca.
_Obrigado - era um menino muito educado.
Continuei desenhando. O menino pegou uma caneta com a avó. Não gosto de emprestar canetas. Quando terminei, pouco antes do avião pousar, olhei de esguelha para ver o que o menino havia desenhado. Um unicórnio. Muito bem feito. Muito bem feito até para um adulto. Fiquei boquiaberto. Falei para o menino que era um dos melhores desenhos de unicórnios que eu já havia visto. A avó do menino não foi da mesma opinião. Quando recebeu o desenho, dobrou a folha ao meio, fazendo vinco e guardou na bolsa.
_Ele vive desenhando animais, esse menino. Mas não consegue desenhar pessoas - disse a avó. E depois ela reclamou que ele havia mordido a tampa da caneta.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
"O Natal é triste pros pobres" e a preguiça de google
"O Natal é triste pros pobres".Esse é o título do primeiro conto de John Cheever que li. E tive o enorme de prazer de ler esse conto perto do Natal, depois de ler um artigo do Paulo Francis elogiando o escritor. Cheever se tornou um dos escritores prediletos do Careca desde então. Mas os romances dele são sofisticados demais para o meu pobre mau-gosto. Prefiro as histórias curtas.
O conto é uma brincadeira com o espírito de Natal. Conta a história de um ascensorista de um prédio de apartamentos ricos. Na véspera de Natal, vai contando as suas mazelas e recebendo as migalhas dos moradores. Mas a generosidade é tanta que o ascensorista perde as estribeiras.
Pelo menos é isso que ficou na minha cabeça. Estou tentando encontrar esse livro de contos há duas semanas, mas não há jeito. Esqueci o nome do livro. Sei que a capa é branca, da Companhia das Letras. O problema é que boa parte da minha estante tem a mesma aparência. Se não me engano, o livro se chama "O Mundo das Maçãs", um troço assim. Uma coletânea de histórias curtas que abriu a minha cabeça para uma parte da literatura americana de que ninguém falava. Nada de beatnicks, nada de Bukowski, nada de policiais e nem de ficção científica. Houve uma época em que eu consumia em larga escala os grandes escritores que apareciam na New Yorker. E Cheever era um campeão da revista.
E o que me surpreende é que escritores profundamente originais ainda surjam de vez em quando, como o grande Tibor Fischer, Hornby e Palatchuk. E também me surpreende o quanto os nomes estão ficando cada vez mais complicados e difíceis de soletrar.
Mesmo assim, estou adotando o hábito rudimentar de não gugar. Estou com uma síndrome de google que nem te conto. É que percebi que toda hora eu estava gugando e isso torrou. Cansei de usar essa muleta. Agora, só de pirraça, eu não entro no google. Fico cultivando a dúvida. Será que é isso? Será que não é? E não entro no corredor gugolês. Mas sempre quando estou no auge do meu anti-guguês, vem aquela vacilada básica. Se estou distraído nas minhas convicções pró-dúvidas, acabo gugando. Ô vício.
O conto é uma brincadeira com o espírito de Natal. Conta a história de um ascensorista de um prédio de apartamentos ricos. Na véspera de Natal, vai contando as suas mazelas e recebendo as migalhas dos moradores. Mas a generosidade é tanta que o ascensorista perde as estribeiras.
Pelo menos é isso que ficou na minha cabeça. Estou tentando encontrar esse livro de contos há duas semanas, mas não há jeito. Esqueci o nome do livro. Sei que a capa é branca, da Companhia das Letras. O problema é que boa parte da minha estante tem a mesma aparência. Se não me engano, o livro se chama "O Mundo das Maçãs", um troço assim. Uma coletânea de histórias curtas que abriu a minha cabeça para uma parte da literatura americana de que ninguém falava. Nada de beatnicks, nada de Bukowski, nada de policiais e nem de ficção científica. Houve uma época em que eu consumia em larga escala os grandes escritores que apareciam na New Yorker. E Cheever era um campeão da revista.
E o que me surpreende é que escritores profundamente originais ainda surjam de vez em quando, como o grande Tibor Fischer, Hornby e Palatchuk. E também me surpreende o quanto os nomes estão ficando cada vez mais complicados e difíceis de soletrar.
Mesmo assim, estou adotando o hábito rudimentar de não gugar. Estou com uma síndrome de google que nem te conto. É que percebi que toda hora eu estava gugando e isso torrou. Cansei de usar essa muleta. Agora, só de pirraça, eu não entro no google. Fico cultivando a dúvida. Será que é isso? Será que não é? E não entro no corredor gugolês. Mas sempre quando estou no auge do meu anti-guguês, vem aquela vacilada básica. Se estou distraído nas minhas convicções pró-dúvidas, acabo gugando. Ô vício.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Elmore Leonard e o novo PC do Careca
Quando eu estou sem paciência de ler literatura que faz pensar, eu leio a literatura que é puro relaxamento. Elmore Leonard, um dos maiores mestres do romance policial, é uma escolha natural desses momentos. Nas duas últimas semanas, estou emplacando uma dobradinha de E.Leonard. Em primeiro lugar, li Cárcere Privado. Na sequência, emendei com Pronto. Agora estou no meio de um terceiro Elmore Leonard. Já li há milênios atrás, vi o filme também. Mesmo assim me divirto.
Estou estreiando hoje, com esse post, um novo computador HP, com o novo Janelas 7. Eles nem mandam CD com os computadores novos. E ao invés daquele monte de livretos, CDs, ofertas, softwares e coiserada, agora é tudo pouco, sem fio, econômico. Nem isopor eles colocam dentro da caixa de papelão. O plástico parece mais biodegradável. Tem pouco papel. Parece que tem menos lixo. A aparência do PC também é mais compacta, pesada, hermética. Ele é mais estreito e mais baixo, esse HD novo. Tem mais luzes, mais neon. Tem um prato de DVD que é vertical. Achei maneiro.
Daqui a alguns anos, vamos comprar monolitos negros hipersensíveis, iguais aos de 2001, de Stanley Kubric. Nossa idéia de futuro é moldada no nosso passado de crianças sonhadoras. Os leitores de Júlio Verne é que começaram essas revoluções.
Eu já quis sonhar o futuro. Hoje, não mais. O que está estampado nos livros é que me alegra. Como as coisas que escreve o Elmore Leonard.
Estou estreiando hoje, com esse post, um novo computador HP, com o novo Janelas 7. Eles nem mandam CD com os computadores novos. E ao invés daquele monte de livretos, CDs, ofertas, softwares e coiserada, agora é tudo pouco, sem fio, econômico. Nem isopor eles colocam dentro da caixa de papelão. O plástico parece mais biodegradável. Tem pouco papel. Parece que tem menos lixo. A aparência do PC também é mais compacta, pesada, hermética. Ele é mais estreito e mais baixo, esse HD novo. Tem mais luzes, mais neon. Tem um prato de DVD que é vertical. Achei maneiro.
Daqui a alguns anos, vamos comprar monolitos negros hipersensíveis, iguais aos de 2001, de Stanley Kubric. Nossa idéia de futuro é moldada no nosso passado de crianças sonhadoras. Os leitores de Júlio Verne é que começaram essas revoluções.
Eu já quis sonhar o futuro. Hoje, não mais. O que está estampado nos livros é que me alegra. Como as coisas que escreve o Elmore Leonard.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Pimenta no prato dos outros
Eu adoro pimenta. E molho de pimenta também. Não sou um aficcionado, como o Simpson, o Scooby e o Salsicha, mas também me amarro em pimenta. E hoje, na hora do almoço, pedi o molho de pimenta para esquentar um pouco o bife com cebolas, o arroz com feijão e milho, a couve refogada e picada, a vagem e outras coisitas que desfrutamos. A Rose às vezes capricha. A Rose é a cozinheira-babá-faxineira e graduanda em assistência social que trabalha aqui em casa. Ela está cada vez mais perto do diploma. E distante dos velhos e bons serviços.
_Rose, por favor, traga aquele molho de pimenta - eu pedi.
_Está congelada, seu Careca - explicou a Rose, sacudindo o vidro do molho de pimenta na cozinha. Estava branco feito as melhores vodkas.
_Ponha no micro-ondas, oras - eu disse, bancando o valentão sabe-tudo.
Minha mulher olhou para mim, mas não falou nada. Meus filhos também olharam para mim, mas falaram de outras coisas. Num instante eu me distraí, falando de outros assuntos importantes.
_Puxa vida, o Rafael parece que está roxo. Não ele está bem roxinho, o que foi isso - eu perguntei.
_Foi canetinha - explicou uma das crianças. Essa é a primeira segunda-feira do período de férias, mas já pintaram o cachorrinho de roxo com canetinha.
_Expliquei a eles que não pode fazer isso - disse a minha mulher, me estendendo o vidro do molho de pimenta. Estava quente no fundo e gelado na parte de cima. Como sempre faço, dei uma sacudida básica no molho de pimenta destampei e borrifei delicadamente sobre o bife.
_Minha nossa! - disse o meu filho.
_Santa Cacilda Becker e Venerável Bibi Ferreira - eu disse, olhando para o vermelho vivo do molho de pimenta no meu prato.
_Pai, você fez uma piscina de pimenta!
Obviamente, depois que aconteceu, todos me lembraram que não se deve colocar o vidro do molho de pimenta no micro-ondas. O plástico que tem aquele furinho no centro se expande e depois encolhe, perde a firmeza.
Recoloquei a tampa de plástico no vidro e rosqueei a tampa externa, verde. Fui para o trabalho depois do almoço e nem pensei mais nisso.
Quando voltei, na hora do jantar, aconteceu novamente. Mas desta vez com o prato de sopa da minha mulher. A tampa de plástico com o furinho foi para o lixo, definitivamente. E a pimenta, excelente, está bem no finzinho.
_Rose, por favor, traga aquele molho de pimenta - eu pedi.
_Está congelada, seu Careca - explicou a Rose, sacudindo o vidro do molho de pimenta na cozinha. Estava branco feito as melhores vodkas.
_Ponha no micro-ondas, oras - eu disse, bancando o valentão sabe-tudo.
Minha mulher olhou para mim, mas não falou nada. Meus filhos também olharam para mim, mas falaram de outras coisas. Num instante eu me distraí, falando de outros assuntos importantes.
_Puxa vida, o Rafael parece que está roxo. Não ele está bem roxinho, o que foi isso - eu perguntei.
_Foi canetinha - explicou uma das crianças. Essa é a primeira segunda-feira do período de férias, mas já pintaram o cachorrinho de roxo com canetinha.
_Expliquei a eles que não pode fazer isso - disse a minha mulher, me estendendo o vidro do molho de pimenta. Estava quente no fundo e gelado na parte de cima. Como sempre faço, dei uma sacudida básica no molho de pimenta destampei e borrifei delicadamente sobre o bife.
_Minha nossa! - disse o meu filho.
_Santa Cacilda Becker e Venerável Bibi Ferreira - eu disse, olhando para o vermelho vivo do molho de pimenta no meu prato.
_Pai, você fez uma piscina de pimenta!
Obviamente, depois que aconteceu, todos me lembraram que não se deve colocar o vidro do molho de pimenta no micro-ondas. O plástico que tem aquele furinho no centro se expande e depois encolhe, perde a firmeza.
Recoloquei a tampa de plástico no vidro e rosqueei a tampa externa, verde. Fui para o trabalho depois do almoço e nem pensei mais nisso.
Quando voltei, na hora do jantar, aconteceu novamente. Mas desta vez com o prato de sopa da minha mulher. A tampa de plástico com o furinho foi para o lixo, definitivamente. E a pimenta, excelente, está bem no finzinho.
O clima mudou
Eu não sei nada sobre clima. Não sei nada sobre o tempo, também. Mas alguma coisa mudou e, em alguns lugares, foi para pior. Mas nem sempre. Veja o clima político, por exemplo. Altas temperaturas com possibilidades de mais chuvas e trovoadas no Distrito Federal. Muitos torcem para que raios atinjam alguns corruptos mais notórios. Eu também. O mar não está para meias e panetones, mas o clima é bom.
No Supremo Tribunal, nuvens negras deveriam pairar sobre as cabeças dos ministros que decidiram manter a censura sobre o Estadão. Daqui a pouco, as pautas serão decididas nos gabinetes dos juízes. Predominarão notícias sobre o clima? Tenho as minhas dúvidas. Mas nem vale mais a pena comentar decisão do Supremo. As supremas cabeças estão nas nuvens, há muito tempo. O clima é ruim.
No plano internacional, depois das sapatadas, agora é hora da chuva de porrada nos políticos boquirrotos. Começaram pelo italiano Berlusconi, que ficou conhecido por nocautear profissionais do sexo de todos os sexos. Torço para que a moda chegue aqui, já tenho uma lista de políticos que, na minha modesta opinião, deveriam ser nocauteados em público. Mas acho que vamos precisar importar boxeadores cubanos para dar conta do recado. O clima é ameno, até.
Desde já aviso que não sou a favor nem contra as mudanças climáticas. Elas acontecem, é tudo. Acho que a humanidade, tadinha, não está com essa bola toda. Não somos capazes de alterar a temperatura do planeta. Nosso nível de flatulência ainda não é elevado o bastante, embora alguns indivíduos da política já atinjam marcas elefantinas, diariamente. Somos, no entanto, capazes de provocar nossa própria destruição e também das espécies que nos circundam. Em geral, destruímos o que mais gostamos. Gente, água, árvore, bicho. O clima é de morte, eu sei.
O modo como as coisas estão indo é que não é legal. Falta tempo pra tudo. E não há clima para otimismo. As coisas, vistas do avesso, parecem fazer mais sentido. Daí porque não estranhei que o Nobel da Paz fosse para o presidente de um país que continua em guerra, que vai mandar mais 30 mil soldados para a guerra e que não fala mais em parar com a guerra. Ao contrário, deixa cada vez mais claro que se não der, pau vai comer. Está certo? Está errado? O clima é de não se discute.
Em todos os lugares, o pragmatismo vence a utopia de um mundo mais equilibrado, com mais oportunidades para todos. Estamos mais e mais distantes do “brotherhood of men”. E nem estou me lamentando, sempre achei essa conversa meio invertida. O clima é blasé.
No Supremo Tribunal, nuvens negras deveriam pairar sobre as cabeças dos ministros que decidiram manter a censura sobre o Estadão. Daqui a pouco, as pautas serão decididas nos gabinetes dos juízes. Predominarão notícias sobre o clima? Tenho as minhas dúvidas. Mas nem vale mais a pena comentar decisão do Supremo. As supremas cabeças estão nas nuvens, há muito tempo. O clima é ruim.
No plano internacional, depois das sapatadas, agora é hora da chuva de porrada nos políticos boquirrotos. Começaram pelo italiano Berlusconi, que ficou conhecido por nocautear profissionais do sexo de todos os sexos. Torço para que a moda chegue aqui, já tenho uma lista de políticos que, na minha modesta opinião, deveriam ser nocauteados em público. Mas acho que vamos precisar importar boxeadores cubanos para dar conta do recado. O clima é ameno, até.
Desde já aviso que não sou a favor nem contra as mudanças climáticas. Elas acontecem, é tudo. Acho que a humanidade, tadinha, não está com essa bola toda. Não somos capazes de alterar a temperatura do planeta. Nosso nível de flatulência ainda não é elevado o bastante, embora alguns indivíduos da política já atinjam marcas elefantinas, diariamente. Somos, no entanto, capazes de provocar nossa própria destruição e também das espécies que nos circundam. Em geral, destruímos o que mais gostamos. Gente, água, árvore, bicho. O clima é de morte, eu sei.
O modo como as coisas estão indo é que não é legal. Falta tempo pra tudo. E não há clima para otimismo. As coisas, vistas do avesso, parecem fazer mais sentido. Daí porque não estranhei que o Nobel da Paz fosse para o presidente de um país que continua em guerra, que vai mandar mais 30 mil soldados para a guerra e que não fala mais em parar com a guerra. Ao contrário, deixa cada vez mais claro que se não der, pau vai comer. Está certo? Está errado? O clima é de não se discute.
Em todos os lugares, o pragmatismo vence a utopia de um mundo mais equilibrado, com mais oportunidades para todos. Estamos mais e mais distantes do “brotherhood of men”. E nem estou me lamentando, sempre achei essa conversa meio invertida. O clima é blasé.
domingo, 13 de dezembro de 2009
De olhos bem fechados
Não é sobre o filme do Rober Altman. Meus olhos estão melhores, com tanto antibiótico que estou tomando. Mas remédio me deixa indisposto.
sábado, 12 de dezembro de 2009
Os olhos do Monstro Careca
Estou com os olhos inchados. Muito inchados. Amanheci na quinta-feira com os olhos irritados e embaçados. Quando olhei no espelho, levei um susto.
_Santa Limonada Azeda do Batman! - eu disse, quando vi o Monstro Careca refletido no espelho.
Minha mulher veio ver. Viu. Disfarçou uma careta.
_Está feio,heim!- ela disse.
Estava feio. E piorou. Na sexta-feira, fui ao médico pela terceira vez, nos últimos três meses. Ele também achou que a coisa estava feia.
_O que é que provoca isso, doutor - eu perguntei.
Ele enrolou. Ninguém sabe direito. Só se sabe que o terçol é a inflamação que resulta da descamação da pele abaixo dos cílios, que acaba por entupir as glândulazinhas que lubrificam os olhos. Não se sabe direito o que provoca a descamação da pele. Só se recomenda lavar os cílios com shampoo. E também tomar antibióticos, para combater os sintomas.
_Vou te receitar uma pomada, um colírio, um comprimido e shampoo para os cílios - disse o médico.
_Vai ser a primeira vez que eu vejo um shampoo numa receita - eu disse, rindo.
_Não, eu não vou colocar o shampoo na receita. Shampoo não é remédio - disse o doutor, entediado.
_Tudo bem. Estou só brincando.
_Queria manter o bom-humor de olhos inchados - disse o oftalmologista.
_É uma questão de ver a coisa com bons olhos - eu disse. Não foi o melhor dos trocadilhos, mas ele riu também.
À noite, minha filha, de cinco anos, finalmente reparou nos meus olhos. Os óculos que eu uso disfarçam um pouco o problema do terçol.
_Paiê, o que é isso no seu olho - ela perguntou.
_Papai está virando um Moonnnstroooo - eu disse, tirando os óculos.
Ela se encolheu e começou a chorar.
_É brincadeira, filha. É só uma coisa que vai passar - expliquei, abraçando a minha princesinha.
Mas ela ficou encolhida, me evitando.
Meu filho, no entanto, adorou a idéia.
_Monstro, uêbaaa! - e começamos a andar como os zumbis e múmias dos desenhos do Scooby Doo.
_Moonstroo, mooonstroooo! - as pernas duras, como as múmias dos desenhos, que não conseguem dobrar os joelhos. Como as bonecas Barbie, que minha filha adora. Opa.
_Eu não vou virar Monstro, filha. Amanhã ou depois, meus olhos já estarão normais. E míopes.
Mesmo assim, ela não quis mais saber de abraços comigo. Só para o Rafael, o cãozinho shitsu que disputa comigo os carinhos da princesa daqui de casa. Às vezes eu abraço a minha filha e sinto o cheiro do Rafael nos cachinhos dourados. Aí entendo alguns dos sofrimentos de Otelo.
Hoje de manhã, o terçol arrefeceu um pouco. E agora mesmo, quando escrevo essas linhas, minha filha se aproximou choramingando.
_Paiê, bati o cotovelo.
Foi um longo abraço. Durante ele, eu repeti dezenas de vezes que a dor ia passar. Depois ela disse que meus olhos estavam melhores.
_Paiê, eu sei que você não vai virar monstro - ela me falou, com uma dúvida ainda surgindo lá atrás, na entonação do voz.
_Vou siiiiiimmmmmmmm - eu disse. E saí andando atrás dela, como um Frankenstein de joelhos não-dobráveis.
_Santa Limonada Azeda do Batman! - eu disse, quando vi o Monstro Careca refletido no espelho.
Minha mulher veio ver. Viu. Disfarçou uma careta.
_Está feio,heim!- ela disse.
Estava feio. E piorou. Na sexta-feira, fui ao médico pela terceira vez, nos últimos três meses. Ele também achou que a coisa estava feia.
_O que é que provoca isso, doutor - eu perguntei.
Ele enrolou. Ninguém sabe direito. Só se sabe que o terçol é a inflamação que resulta da descamação da pele abaixo dos cílios, que acaba por entupir as glândulazinhas que lubrificam os olhos. Não se sabe direito o que provoca a descamação da pele. Só se recomenda lavar os cílios com shampoo. E também tomar antibióticos, para combater os sintomas.
_Vou te receitar uma pomada, um colírio, um comprimido e shampoo para os cílios - disse o médico.
_Vai ser a primeira vez que eu vejo um shampoo numa receita - eu disse, rindo.
_Não, eu não vou colocar o shampoo na receita. Shampoo não é remédio - disse o doutor, entediado.
_Tudo bem. Estou só brincando.
_Queria manter o bom-humor de olhos inchados - disse o oftalmologista.
_É uma questão de ver a coisa com bons olhos - eu disse. Não foi o melhor dos trocadilhos, mas ele riu também.
À noite, minha filha, de cinco anos, finalmente reparou nos meus olhos. Os óculos que eu uso disfarçam um pouco o problema do terçol.
_Paiê, o que é isso no seu olho - ela perguntou.
_Papai está virando um Moonnnstroooo - eu disse, tirando os óculos.
Ela se encolheu e começou a chorar.
_É brincadeira, filha. É só uma coisa que vai passar - expliquei, abraçando a minha princesinha.
Mas ela ficou encolhida, me evitando.
Meu filho, no entanto, adorou a idéia.
_Monstro, uêbaaa! - e começamos a andar como os zumbis e múmias dos desenhos do Scooby Doo.
_Moonstroo, mooonstroooo! - as pernas duras, como as múmias dos desenhos, que não conseguem dobrar os joelhos. Como as bonecas Barbie, que minha filha adora. Opa.
_Eu não vou virar Monstro, filha. Amanhã ou depois, meus olhos já estarão normais. E míopes.
Mesmo assim, ela não quis mais saber de abraços comigo. Só para o Rafael, o cãozinho shitsu que disputa comigo os carinhos da princesa daqui de casa. Às vezes eu abraço a minha filha e sinto o cheiro do Rafael nos cachinhos dourados. Aí entendo alguns dos sofrimentos de Otelo.
Hoje de manhã, o terçol arrefeceu um pouco. E agora mesmo, quando escrevo essas linhas, minha filha se aproximou choramingando.
_Paiê, bati o cotovelo.
Foi um longo abraço. Durante ele, eu repeti dezenas de vezes que a dor ia passar. Depois ela disse que meus olhos estavam melhores.
_Paiê, eu sei que você não vai virar monstro - ela me falou, com uma dúvida ainda surgindo lá atrás, na entonação do voz.
_Vou siiiiiimmmmmmmm - eu disse. E saí andando atrás dela, como um Frankenstein de joelhos não-dobráveis.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
A propósito de nada
Uma vez a turma combinou de passar o reveillon na Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Não pude ir, estava escalado para o trabalho. Eles ficaram acontonados num hotel japa que tem por lá e gostaram muito.
_Foi maravilhoso, Careca. Você perdeu - alguns deles me disseram.
_Foi lindo, Careca. Você devia ter ido com a gente - outros falaram.
Aí alguém me contou uma estranha história sobre um par de chinelos perdidos na areia. Outra pessoa me falou que não gostou muito da comida do hotel. Uma terceira me disse que a cama, de tatame, não era das mais confortáveis. Tinha muito mosquito. Não havia nada para fazer. Era muito isolado. Choveu horrores. Foi atacado por um monte de abelhas assassinas. Queimou as solas dos pés sem o par de chinelos.
Nada disso arrefeceu a minha vontade de ter ido naquela viagem. Se eu pudesse retroceder no tempo, eu arranjaria um jeito de estar naquela viagem, com a turma. Nem pela farra, nem nada. Só pela companhia.
Quando vai chegando o final do ano, eu fico nostálgico e com uma vontade louca de ir para a beira do mar. Fazer o quê.
_Foi maravilhoso, Careca. Você perdeu - alguns deles me disseram.
_Foi lindo, Careca. Você devia ter ido com a gente - outros falaram.
Aí alguém me contou uma estranha história sobre um par de chinelos perdidos na areia. Outra pessoa me falou que não gostou muito da comida do hotel. Uma terceira me disse que a cama, de tatame, não era das mais confortáveis. Tinha muito mosquito. Não havia nada para fazer. Era muito isolado. Choveu horrores. Foi atacado por um monte de abelhas assassinas. Queimou as solas dos pés sem o par de chinelos.
Nada disso arrefeceu a minha vontade de ter ido naquela viagem. Se eu pudesse retroceder no tempo, eu arranjaria um jeito de estar naquela viagem, com a turma. Nem pela farra, nem nada. Só pela companhia.
Quando vai chegando o final do ano, eu fico nostálgico e com uma vontade louca de ir para a beira do mar. Fazer o quê.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Quê qui há, velhinho
Ainda estou improvisando com o teclado do laptop da minha mulher. Isso explica a ausência total do ponto de interrogação. Inclusive no título desse post. Nunca consegui encontrar o ponto de interrogação no teclado do laptop. É bem verdade que também não procuro com muita paciência. Acho que posso passar sem o ponto de interrogação de vez em quando.
Vejam a situação da porrada na multidão que protestava, pacificamente, contra a corrupção no DF. As imagens são chocantes. Ninguém merece. Felizmente, no dia, evitei voltar para casa no almoço, senão teria sido um espectador preso no trânsito local. Mas posso escrever sem a menor hesitação quanto à pontuação que a PM não poderia ter distribuído porretadas e feito as cavaladas que fez. Sem vírgula nenhuma.
O governador se desfiliou, o que também é uma coisa que não exige interrogação. Nem ponto. Acho que deve continuar o processo e entregar o bastão.
Mas algumas dúvidas permanecem. O uso de palavras de baixo calão em discursos, por exemplo. Acho mais apropriado em comediantes. Dercy Gonçalves gostava muito de palavras de baixo calão. Eu não gosto. Acho deselegante. E também gosto de inventar eufemismos. O que foi dito no Maranhão, por exemplo, é "aquilo que o gato enterra". Ou "aquilo que o elefante não cheira". "O que bóia". Mesmo assim, é muita escatológico, né.
Né. Puxa vida, ponto de interrogação é essencial para sujeitos como eu, né.
Vejam a situação da porrada na multidão que protestava, pacificamente, contra a corrupção no DF. As imagens são chocantes. Ninguém merece. Felizmente, no dia, evitei voltar para casa no almoço, senão teria sido um espectador preso no trânsito local. Mas posso escrever sem a menor hesitação quanto à pontuação que a PM não poderia ter distribuído porretadas e feito as cavaladas que fez. Sem vírgula nenhuma.
O governador se desfiliou, o que também é uma coisa que não exige interrogação. Nem ponto. Acho que deve continuar o processo e entregar o bastão.
Mas algumas dúvidas permanecem. O uso de palavras de baixo calão em discursos, por exemplo. Acho mais apropriado em comediantes. Dercy Gonçalves gostava muito de palavras de baixo calão. Eu não gosto. Acho deselegante. E também gosto de inventar eufemismos. O que foi dito no Maranhão, por exemplo, é "aquilo que o gato enterra". Ou "aquilo que o elefante não cheira". "O que bóia". Mesmo assim, é muita escatológico, né.
Né. Puxa vida, ponto de interrogação é essencial para sujeitos como eu, né.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
O piloto sumiu
Sempre tive fixação por aeromodelos. Montei dezenas de aeromodelos e ainda existe um monte deles espalhados aqui em casa. De vez em quando, a Rose(babá-cozinheira-graduanda-faxineira-passadeira-faz-tudo) vai tirar o pó de alguma estante e destroça uma asa, destrói um trem-de-pouso. Eu não ligo muito. É bom ter um pretexto para remontar um aeromodelo estático, consertar um pedaço, retocar a pintura. Mas os planadores, muitas vezes, não têm conserto. Os aviões de balsa e papel de seda com dope, de tão ressecados, se espatifam sozinhos. Ás vezes um menino se distrai e quebra um Spitfire. Eu conserto. Às vezes some uma roda. Depois eu a encontro, meses depois. Mas já não serve mais, pois substituí o trem de pouso por uma base para exposição em vôo, ou simplesmente desisti do aviãozinho. Tenho uma caixa pequena, só de pedaços de aviões.
Só tenho muito ciúme de um pequeno avião que pintei caprichosamente de azul escuro. É um Corsair. Do tipo usado em porta-aviões, com asas em ângulo e dobráveis. É um belo aeromodelo. Outro dia eu o remontei, cuidadosamente, usando um removedor de cola, lixando partes adaptadas. Pintei novamente, com retoques caprichados. Encontrei novos decalques e apliques. Ficou legal. Só não encontrei o pequeno piloto.
Havia um pequeno piloto dentro do aeromodelo estático. Tirei para retocar a pintura, para pintar o uniforme com a cor certa do uniforme, um bege amarronzado. Na hora de pintar, não encontrei mais o boneco.
Terminei os retoques e dei o trabalho por terminado. Isso foi há uma semana. Somente hoje me lembrei que Rafael, o cãozinho shitsu daqui de casa, me observava atentamente enquanto fazia os reparos no aeromodelo.
Caso tenha ocorrido o que penso que ocorreu, já que o bicho gosta de roer tudo e qualquer coisa, terei de providenciar um funeral digno para o piloto, caso encontre seus despojos.
Só tenho muito ciúme de um pequeno avião que pintei caprichosamente de azul escuro. É um Corsair. Do tipo usado em porta-aviões, com asas em ângulo e dobráveis. É um belo aeromodelo. Outro dia eu o remontei, cuidadosamente, usando um removedor de cola, lixando partes adaptadas. Pintei novamente, com retoques caprichados. Encontrei novos decalques e apliques. Ficou legal. Só não encontrei o pequeno piloto.
Havia um pequeno piloto dentro do aeromodelo estático. Tirei para retocar a pintura, para pintar o uniforme com a cor certa do uniforme, um bege amarronzado. Na hora de pintar, não encontrei mais o boneco.
Terminei os retoques e dei o trabalho por terminado. Isso foi há uma semana. Somente hoje me lembrei que Rafael, o cãozinho shitsu daqui de casa, me observava atentamente enquanto fazia os reparos no aeromodelo.
Caso tenha ocorrido o que penso que ocorreu, já que o bicho gosta de roer tudo e qualquer coisa, terei de providenciar um funeral digno para o piloto, caso encontre seus despojos.
Black Drawing Chalks
"My Favorite Way" by Black Drawing Chalks (OFFICIAL) from Marck Al on Vimeo.
Tentativa de colocar um vídeo ótimo de uma excelente banda de rock de ... Goiânia.
Dica excelente do Gravetos e Berlotas, aí do lado.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Uma campanha honesta
Sou um ingênuo. Gostaria de acreditar que se todos os candidatos recebessem dinheiro público para suas campanhas não haveria corrupção. Gostaria de acreditar que se os partidos fossem fortalecidos, não haveria troca-troca de partidos nem legendas de aluguel. Gostaria de acreditar que a existência de leis mais duras, com a previsão de penas severas, levaria alguém a pensar duas vezes antes de aceitar “panetones”.
Mas não acredito. Políticos são pessoas. E as pessoas agem de acordo com suas vontades e valores. Ninguém é levado a aceitar propina. Ninguém é corrupto porque está sendo chantageado. Ao contrário. Propina só aceita quem quer. É o corrupto que faz chantagem. Corruptor e corrompido são farinha do mesmo saco, ambos são corruptos.
As coisas são simples. As linhas retas existem. Existe o preto. Existe o branco. Quem pega pacote de dinheiro vivo para custear despesa de campanha não está cruzando uma nebulosa linha cinzenta. Está agindo de forma errada, criminosa.
É óbvio. Cristalino. Ululante.
Sou um ingênuo. Gostaria de acreditar que se o voto fosse distrital as coisas seriam diferentes. Gostaria de acreditar que se houvesse mais fiscalização antes e depois das eleições haveria uma diminuição do número de políticos corruptos. Gostaria de acreditar que se fosse exigida ficha limpa dos candidatos haveria redução da ladroagem e da safadeza na política.
Também gostaria de acreditar que a culpa é da lei de licitações, do excesso de arbítrio dos tribunais de contas, da fraqueza das nossas instituições, da ausência da reforma política, da falta do voto distrital, da história da nossa formação cultural e da baixa escolaridade do povo. Mas não acredito em nada disso.
Acho que a culpa da corrupção é de quem é corrupto. E com o corrupto deve ficar. Simples assim. Que pague, aqui, as penas pelos seus erros.
Sou um ingênuo, eu sei. Mesmo assim, parece que a gente honesta está calada ou não tem ninguém para atirar a primeira pedra.
Ou talvez estejam faltando pedras. Por via das dúvidas, ando com uma no bolso.
De qualquer maneira, no ano que vem, eu gostaria de ver um candidato ter a coragem de dizer todos os dias, na campanha da TV: "Olha, gente, até hoje nós gastamos tanto com a campanha. E está tudo registrado no banco tal. Não usamos dinheiro vivo. É tudo DOC. Não tem papel moeda de igreja, de culto, de grupo. Não tem grana de doleiro. Não tem bufunfa de empréstimo no Paraguai. Perfeitamente auditável e tudo na Internet. E tem mais: eu sou honesto.
Sou um ingênuo. Eu disse.
Mas não acredito. Políticos são pessoas. E as pessoas agem de acordo com suas vontades e valores. Ninguém é levado a aceitar propina. Ninguém é corrupto porque está sendo chantageado. Ao contrário. Propina só aceita quem quer. É o corrupto que faz chantagem. Corruptor e corrompido são farinha do mesmo saco, ambos são corruptos.
As coisas são simples. As linhas retas existem. Existe o preto. Existe o branco. Quem pega pacote de dinheiro vivo para custear despesa de campanha não está cruzando uma nebulosa linha cinzenta. Está agindo de forma errada, criminosa.
É óbvio. Cristalino. Ululante.
Sou um ingênuo. Gostaria de acreditar que se o voto fosse distrital as coisas seriam diferentes. Gostaria de acreditar que se houvesse mais fiscalização antes e depois das eleições haveria uma diminuição do número de políticos corruptos. Gostaria de acreditar que se fosse exigida ficha limpa dos candidatos haveria redução da ladroagem e da safadeza na política.
Também gostaria de acreditar que a culpa é da lei de licitações, do excesso de arbítrio dos tribunais de contas, da fraqueza das nossas instituições, da ausência da reforma política, da falta do voto distrital, da história da nossa formação cultural e da baixa escolaridade do povo. Mas não acredito em nada disso.
Acho que a culpa da corrupção é de quem é corrupto. E com o corrupto deve ficar. Simples assim. Que pague, aqui, as penas pelos seus erros.
Sou um ingênuo, eu sei. Mesmo assim, parece que a gente honesta está calada ou não tem ninguém para atirar a primeira pedra.
Ou talvez estejam faltando pedras. Por via das dúvidas, ando com uma no bolso.
De qualquer maneira, no ano que vem, eu gostaria de ver um candidato ter a coragem de dizer todos os dias, na campanha da TV: "Olha, gente, até hoje nós gastamos tanto com a campanha. E está tudo registrado no banco tal. Não usamos dinheiro vivo. É tudo DOC. Não tem papel moeda de igreja, de culto, de grupo. Não tem grana de doleiro. Não tem bufunfa de empréstimo no Paraguai. Perfeitamente auditável e tudo na Internet. E tem mais: eu sou honesto.
Sou um ingênuo. Eu disse.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Uma árvore de Natal caprichada
Terminamos de montar, finalmente, a árvore de Natal daqui de casa. É daquelas chinesas, compramos há uns cinco anos. E enchemos de bolas e enfeites baratos. Ela brilha, pisca e reluz, com dezenas de luzinhas piscantes. Minha mulher comprou guirlandas douradas. E estrelas. Ficou uma árvore super-carregada e kitsch. Mas ainda assim muito bonita. Os olhos das crianças brilhando quando a árvore está acesa é que foram determinantes para os enfeites. E também, é claro, o Rafael.
Como todos da minha kombi de leitores sabem, o Rafael é o cãozinho shitsu daqui de casa. Foi o presente de aniversário da minha filha, em setembro. Rafa, como o chamamos na intimidade do lar, já completou 4 meses. E agora tem uns 35 centímetros. Já consegue pular para o sofá. É um bebê brincalhão e roedor. Ele adora um canto de mesa. Uma perna de cadeira. Canto de estante.
Nós fingimos que não ligamos. E Rafa finge que não sabe que nós controlamos a vontade de espancá-lo com o jornal enrolado. Nós fazemos carinho no Rafa. E ele finge que não percebe que estamos controlando o instinto selvagem e assassino de vingarmos os móveis e demais prejuízos mobiliários. Rafa é uma espécie de roedor canino. Mas alguém disse que é melhor fingir que não nos importamos, senão ele roerá qualquer coisa sempre que desejar chamar a atenção.
Por isso, nós montamos a árvore de Natal numa mesinha de azulejos que a minha mulher adora. Foi a maneira que encontramos de evitar que o Rafa se pendure numa guirlanda e roa uma bola da árvore de Natal, ou uma lâmpada chinesa. Se bem que um choquinho não faria mal ao Rafa...
Como todos da minha kombi de leitores sabem, o Rafael é o cãozinho shitsu daqui de casa. Foi o presente de aniversário da minha filha, em setembro. Rafa, como o chamamos na intimidade do lar, já completou 4 meses. E agora tem uns 35 centímetros. Já consegue pular para o sofá. É um bebê brincalhão e roedor. Ele adora um canto de mesa. Uma perna de cadeira. Canto de estante.
Nós fingimos que não ligamos. E Rafa finge que não sabe que nós controlamos a vontade de espancá-lo com o jornal enrolado. Nós fazemos carinho no Rafa. E ele finge que não percebe que estamos controlando o instinto selvagem e assassino de vingarmos os móveis e demais prejuízos mobiliários. Rafa é uma espécie de roedor canino. Mas alguém disse que é melhor fingir que não nos importamos, senão ele roerá qualquer coisa sempre que desejar chamar a atenção.
Por isso, nós montamos a árvore de Natal numa mesinha de azulejos que a minha mulher adora. Foi a maneira que encontramos de evitar que o Rafa se pendure numa guirlanda e roa uma bola da árvore de Natal, ou uma lâmpada chinesa. Se bem que um choquinho não faria mal ao Rafa...
domingo, 6 de dezembro de 2009
Mais um crash
Pela terceira vez neste ano, meu PC foi para as cucuias. Está ficando cansativo recuperar arquivos, reintroduzir rotinas. Como sempre, isso acontece quando o retrabalho está quase concluído. Graças aos sucessivos crashes, não consegui concluir o livreto "O melhor do caminho do Careca", um pdf que pretendo disponibilizar para download. Vai ficar para o ano que vem.
Agradeço às dezenas de pessoas que mandaram e-mails preocupados com a falta de atualização do blog. A partir de segunda-feira, a normalidade estará retomada com o retorno do PC. Por hora, escrevo com a ajuda do laptop da minha mulher.
Agradeço às dezenas de pessoas que mandaram e-mails preocupados com a falta de atualização do blog. A partir de segunda-feira, a normalidade estará retomada com o retorno do PC. Por hora, escrevo com a ajuda do laptop da minha mulher.
Assinar:
Postagens (Atom)