quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
O Careca em mais um yackshaving
Elvis Presley and Ann Margret - The Lady Loves Me
Ainda estou me adaptando a 2013. Já me acostumei a acordar cedo novamente para a rotina do leva-e-traz da escola das crianças. Continuo com raiva do horário de verão. Já atualizei todas as dezenas de programas e aplicativos que o computador avisou que eu precisava atualizar. E também já fiz uma lista de coisas novas que preciso baixar e aprender a usar. Já comecei a planejar o pagamento dos impostos. Arrumei todas as notas fiscais, pedi o desconto no IPVA, comecei a preparar o terreno para escrever a melhor história curta que eu já escrevi. Mas ainda estou me adaptando. As coisas de casa e da família são as mais instigantes, ainda que algumas sejam bem maçantes.
Tive um aviso de que preciso ir urgente ao dentista, igual à música de João Bosco. Mas não tenho alma de artista. Um salário fixo, com férias regulares, mesmo sem plano de saúde bastaria para comprar, com folga, os meus anseios de liberdade e os meus sonhos de igualdade e fraternidade. Mas estou sem ofertas, continuo em casa. Às vezes, para espairecer, fico bisbilhotando os amigos no Facebook. Não vejo um monte deles há anos, mas graças á Internet posso xeretá-los à vontade. Muitos deles viajaram para passar o Carnaval em lugares paradisíacos, que, para mim, é qualquer lugar longe de batuque, Ivete e ziriguidum. Outros fizeram exatamente o contrário, correram para o meio da folia, do batuque, com Ivete e ziriguidum. Os dois lados fizeram questão de documentar suas opções para passar o Carnaval. Fechei, como já disse, com o time da calmaria. E da bisbilhotagem.
Foi graças à mais pura bisbilhotagem que acabei descobrindo que um dos meus ídolos, o escritor Tibor Fischer, escreveu um livro em 2011 sobre a Guerra de Tróia(Crushed Mexican Spiders). Putz! Onde é que ele estava com a cabeça? Cavuco mais um pouco na internet e descubro que um resenhista editou uma entrevista de Tibor Fischer em que ele diz um monte de coisas interessantes sobre o livro. Mas ele diz coisas ainda mais interessantes sobre coisas que não escreveu. Em certo momento, Tibor diz que alguns escritores dizem que não gostam muito de ler, mas que esse não era absolutamente o seu caso. Ele disse que gosta muito de ler e que geralmente sai de casa, em Londres, carregando um livro para ler durante os longos trajetos de metrô ou ônibus que costuma fazer. Tibor então fala que muitos escritores acreditam que é possível escrever sobre qualquer coisa e realmente fazem isso muito bem, embora isso não seja suficiente. Para se escrever, diz Tibor Fischer, é preciso escolher muito bem sobre o que se quer escrever. Uma narrativa sobre a ida ao supermercado, por exemplo, ainda que muito bem escrita, dificilmente seria capaz de entretê-lo durante um trajeto de 40 minutos do metrô. Bacana, eu pensei, isso é puro Tibor. Ele diz para ninguém fazer o que ele vive fazendo, que é escrever sobre nada como se fosse sobre qualquer outra coisa.
Alguns minutos depois eu estou, não me pergunte como cheguei até lá, vendo on-line o filme "O Homem do Braço de Ouro", de Otto Preminger, estrelado por Frank Sinatra. Frank faz o papel de um baterista/jogador que volta da guerra viciado em drogas. Kim Novak faz o papel da mulher que o apóia em seus esforços para se livrar do vício, em Chicago. Não sei o motivo, mas fico pensando que esse é o papel que custou a cabeça do cavalo ao diretor de cinema em "O Poderoso Chefão". E então eu volto a Tibor Fischer, mas antes que eu comece a pensar em mais enredos confusos, na sucessão do Papa, naquele quadro profético de Francis Bacon sobre o fim dos tempos, eu encontro o vídeo acima, em que Elvis Presley canta para Ann Margret enquanto ela desfila em maiôs bem comportados. Ainda há esperança, eu penso, ainda há esperança. Mas Tibor Fischer tem toda razão, é claro. É preciso pensar naqueles quarenta minutos de imersão total e completa, em que seja possível encaixar uma canção, uma tirada engraçada, um ato de insanidade, a iluminação de um ato de bondade e um ponto final.
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