domingo, 14 de junho de 2009

Uma peruca para ser MAD Beethoven

A minha vida inteira, percebi outro dia, eu desejei ter um busto de Beethoven na estante. Músico genial, cantado em verso e prosa, homenageado por Chuck Berry e pelos Beatles, Beethoven sempre fez falta aqui em casa. Embora eu só tenha notado essa ausência flagrante depois que eu comprei um kit “aprenda-a-fazer-escultura-sozinho”. Eu ando muito artístico, desde que comecei esse blog.

Ocorre que eu aproveitei um mega-ofertão de uma loja e trouxe um kit desses pra casa, no ano passado. O kit-escultura ficou dentro de um armário, pegando poeira, um tempão. E aí, num dia perto do carnaval, enquanto eu procurava os meninos durante mais uma seção de “Monstro do Armário”, tropecei no kit-escultura.

Depois, passaram mais algumas semanas, o kit empoeirou de novo. E teria ficado mais tempo empoeirado se não fosse o último feriado. É que, no sábado, liguei para o meu amigo Cabeça, para combinar o almoço tradicional de todo sábado.
_Pô, Careca, isso são horas? – ele me disse, à guisa de alô.
_Acorda, vagal, vamos almoçar – eu emendei, de bate-pronto.
_Estou em Lisboa, animal, sofrendo intensamente de jet-lag – ele me informou.
_Pô, Cabeça, o Brasil em crise e você torrando os reais em pastéis de Belém e vinho do Porto, que falta de patriotismo!
_Portugal é só o primeiro pit-stop. Dessa vez, vamos para a Itália – esnobou o Cabeça.
_Aproveita a viagem – falei, desligando o telefone. Só então me toquei da diferença de fuso horário. Então deixei passar mais cinco minutos, que era o tempo do Cabeça voltar a dormir e liguei novamente, é claro.
_Desculpe estar ligando novamente, Cabeça, mas é que senão depois eu esqueço. Aproveitando a sua ida à Itália, pode me fazer um favor?
_Tudo bem, ô Careca, fala aí – ele disse, prestativo.
_ Traz uma marguerita? Não, traz uma quatro queijos!
Considerando a diferença de fuso horário, até que ele não me xingou muito.

O que me traz, novamente, ao assunto da escultura. Bom, eu e minha mulher ficamos sem companhia para o almoço tradicional com o Cabeça e a Mulher do Cabeça, por isso acabamos por almoçar rapidinho. E depois, voltando mais cedo para casa, eu acabei abrindo o kit-escultura. E a primeira lição do kit escultura é fazer uma escultura de uma pessoa que você conheça bem, que é você mesmo. Eu segui todas as instruções cuidadosamente. Usei espelhos. Observei a minha própria cara com atenção. Amassei papel alumínio. Fiz uma base legal. E aí mostrei para a minha mulher:
_Quê ce acha, amor?
_Sei não, me lembra alguém, mas não me lembra você – ela disse, cautelosa.
_Vou ler o manual de instruções de novo – eu disse, resignado.

Fiz mais um esforço artístico e coloquei mais daquela massa plástica. Com a espátula, tentei reforçar relevos, detalhar nariz, boca e olhos. Aí desisti. Sem querer derrubei a cabeça no chão, junto com uma tinta e outros badulaques que estavam sobre a mesa. Enquanto eu lavava as mãos eu escutei ela comentar:
_Agora ficou parecido com o Mad, amor – ela falou, rindo como se me consolasse ter feito um busto ficar parecido com o Alfred Newman sem cabelos.
_E se você colocar uma peruca, vai ficar igualzinho àqueles bustos do Beethoven – ela continuou.
_Acho que eu não me conheço direito – eu falei, a título de desculpa.
_Ou então está ficando surdo – ela completou.
_Vai ver, meu dente da frente vai cair...

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