domingo, 7 de junho de 2009

O segundo livro que estava lendo

Como a minha kombi de leitores já sabe, eu tenho um estratagema para conseguir ler um livro aqui em casa. Eu escolho dois livros na estante e deixo no banheiro. É a única forma de evitar a fúria organizadora da Rose, a governanta-babá-cozinheira-passadeira e futura assistente social que trabalha aqui em casa. Se eu deixar apenas um livro, a Rose guardará. Com dois, um ela pensa que a minha mulher pode estar lendo um deles. Desse modo, ela não mexe em nenhum.


Dessa vez, no entanto, cometi um erro estratégico com o meu estratagema. Escolhi "Amor e Exílio", a autobiografia até os trinta anos do Isaac Bashevis Singer, o quarto maior escritor de todos os tempos. O primeiro é Dostoiévsky, o segundo é Henry Miller, o terceiro é uma porção de escritores empatados, e o quarto é o Singer, junto com o Canetti.

Pois essa autobiografia, com esse título romântico, meio feminino, eliminou as possíveis dúvidas da Rose. Ela guardou o Motim no Bounty na estante. Demorei dois dias para encontrar o livro na estante. Perdi o pique dessa leitura.

Acabei devolvendo o livro para a estante. Esse é sempre um momento solene. Deixo um pedaço de papel, marcando o ponto onde parei a leitura. Anoto a data e o horário da desistência. E também o motivo. "Perdi o pique". "Achei um saco". "Não vale nada". "Monte de lixo". "Tente outra vez".

Um dia, quando folhear aquele livro novamente na estante, terei ao menos uma pista do que me fez abandonar a leitura. E muitas vezes, o abandono não tem nada a ver com o livro em si, mas com a hora e o dia da desistência.

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