terça-feira, 23 de junho de 2009

Bié,bié, diploma

Eu poderia ficar de fora dessa, afinal já deixei o jornalismo há alguns anos. Mas resolvi deixar a minha opinião sobre o fim da exigência do diploma.

Quem sair da faculdade hoje, só com o diploma de jornalista, é um sério candidato a virar outro tipo de profissional. Já era difícil, mesmo com a exigência do diploma: poucas vagas, competição brutal, pouquíssimos veículos concentrados em rede e controlados por pequenos grupos políticos, acúmulo de funções, horas extras não remuneradas a dar com o pau e baixos salários.

Agora, sem a exigência do diploma: poucas vagas, competição brutal, pouquíssimos veículos, acúmulo de funções, horas extras a dar com o pau, baixos salários e concorrência com especialistas de outras categorias.

O diploma era uma reserva de mercado num mercado autofagista, mas que estabelecia, a seu modo, uma competição entre jornalistas. Mesmo assim, via de regra, jornalista morria cedo, sem grana, cheio de dívidas e com um monte de processos nas costas.

A partir dos trinta anos comecei a ir a enterros dos caras que tinham cinquenta, que eram os chefes diretos. Aos trinta e três, fui a quatro enterros no mesmo ano, todos de jornalistas amigos, na faixa dos cinquenta. Dois deles, Mário e Fausto, foram meus chefes e gurus profissionais. Sabiam tudo, tinham testemunhado e coberto todas as grandes histórias de suas épocas, fumavam feito caiporas e morreram de ataques fulminantes.

Ambos eram ferrenhos adeptos da objetividade.
O fim da exigência não impede:
.um aviltamento salarial ainda maiord.
.o canibalismo e a competição desenfreada por vagas nas empresas de comunicação com outras categorias, como médicos, economistas, advogados, cientistas políticos, etc.

Isso já ocorre há muito tempo na área de publicidade, onde a palavra final é de quem paga.
.a concentração de poder e influência de alguns veículos.

O fim da exigência também não garante:
.maior qualidade dos profissionais de comunicação.
.informação isenta e equilibrada.

O fim da exigência do diploma também não modifica a lógica brasileira da concessão de rádio e tv. O poder costuma premiar os já poderosos com as concessões.

O mundo passa por uma crise de empregos. Muita gente acha que a desregulamentação é uma excelente solução.

Eu tenho as minhas dúvidas.


Go, Gary, go!

O mundo também passa por uma transformação gigantesca do papel e da forma de atuação dos veículos de comunicação. Recentemente, o ilustrador Gary Taxali fez um protesto que atraiu alguma atenção na Internet. Foi contra o Google. O maior site de buscas da Internet, que movimenta bilhões de dólares, enviou a Gary um convite para que ele fizesse uma ilustração para o Google.

_Sim, e o quanto ganho com isso?
_Não lhe pagaremos nada. Ganharás a divulgação do seu trabalho para zilhões de pessoas no planeta.
_Vão se f... - respondeu Gary.

No final, tudo o que ele ganhou com a recusa foi o mesmo que o Google disse que ele ganharia. Mesmo assim, fiquei fã do Gary. Ele fez o que todo mundo adorava ver o Carlitos fazer. Chutou a bunda do cartola.

Nenhum comentário:

Frase do dia