sexta-feira, 19 de junho de 2009

Um poeta entre os canibais

Eles estão por toda parte. Eles estão lá fora. E eles são Canibais. É muito fácil ver todos daqui de cima, pela janela do apartamento. E os canalhas ficam me vigiando.

Aí toca a campainha e chega o Poeta. Nunca avisa, o Poeta. É sempre uma surpresa.

_Pronto, chegou quem faltava! – ele diz e vai correndo abrir uma cerveja, fazer uma bandeja de queijo temperado de tira-gosto. Os poetas são entrões, todo mundo sabe disso. E adoram cerveja, vinho e tira-gosto.

O Poeta examina a geladeira e reclama das coisas que vê.

_Pô, só tem comida saudável! Cadê as salsichas? Cadê as guloseimas?

O Poeta vasculha a geladeira.

_Não tem vodka no congelador?

O Poeta examina os armários.

_Cadê o baconzitos? E o amendoim? Castanha-do-pará? Cadê a macadâmia? O pistache? Pô? Cadê os belisquetis?

E o Poeta, com uma bandeja de gulodices e com a cerveja gelada caminha para o sofá.

_Tem vídeo novo aí? Lá no bolso do meu casaco tem um pirata do novo Transformers, quer ver? Tem um vídeo da Beyoncéé também, do outro lado do casaco. Ué, não curte essas coisas? Que cara mais desantenado. E aposto que nem tem canal adulto da TV a cabo! Acertei!

_Cadê a mulher? Embarangou-se? Tenho de tirar o boné para o Caetano. “Mulher não pode embarangar” é uma das melhores frases do século. O Caetano é demais! O Caetano é um sábio! E viva Paulinho da Viola! E viva Paulinho da Viola!

Mas tem dia que eu não tenho paciência com o Poeta.

Hoje coloquei o Poeta entre os Canibais.

Daqui de cima estou vendo ele tentar convencer os Canibais, na base da metáfora.

Coitado.

Não sobrou nem a unha.

Poetas são descartáveis. E alimentam os Canibais.

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