Neste sábado fizemos os preparativos para ir à Festa Junina da escola das crianças. Eles mudaram de uma escola alternativa mais perto de casa para uma outra escola um pouco menos alternativa, que é bem mais longe. O estranho é que demoro menos tempo para levar os dois para essa escola. A distância é maior, o trajeto é mais reto e o trânsito é bem menos intenso.
O meu filho e a minha filha, de seis e quatro anos, respectivamente, ensaiaram as quadrilhas exaustivamente nas últimas semanas. Estavam super-animados e felizes. E nós corremos com a preparação para chegar na hora certa, na escola alternativa. A menina quis sardas e trancinhas. Ficou uma caipirinha muito linda com o vestido de chita, cheio de fitas vermelhas e laços. O Chapéu de palha deu um toque todo especial.
A calça jeans do meu filho estava pra lavar. Então tivemos todo um trabalho de convencimento para uma outra calça comprida e para uma camisa de botões. O menino não quis a pintura de bigode fajuto, nem costeleta, nem nada. Só o chapéu-de-palha. Também fez questão de um lenço vermelho. E também ficou um caipira super-bonito com um par de botinas e um cinto com fivela grande, que eu havia feito ainda no ano passado.
A minha mulher preparou uma bandeja enorme de cachorro-quente e um bolo de milho. Também levamos uns quatro litros de suco. Como no sábado o trânsito é bem tranqüilo, chegamos com folga. O clima da escola, de festa caseira, estava muito bom.
E as quadrilhas das crianças foram super-legais, com aqueles meninos todos se atrapalhando com as mímicas e mesuras, os gestos e gentilezas, e errando os passos. Mas todos curtiram, não teve nem choro e nem menino parado no meio da quadra, fazendo beicinho. As crianças estavam se divertindo e a platéia também. Super-legal.
Aí entrou a turma da quarta série. Os meninos vestidos de calça e camisetas pretas. As meninas de colant preto.
_Gente, acho que vai rolar uma quadrilha jazz! – eu falei, só para levar uma cotovelada dolorida da minha mulher nas costelas. Com os olhos, ela me indicou a professora da turma da quarta série. A professora também estava de colant preto e sapatilhas de balé pretas. Ela me olhava como os pitbulls olham para os seres humanos. Ela também disse alguma coisa em iídiche ou sânscrito na minha direção, enquanto batia o pé esquerdo, com as mãos na cintura. Temi pela minha existência medíocre sob aquele olhar rotweilleriano. Se a música não tivesse começado eu teria que ser levado para uma farmácia e submetido ao tratamento contra a raiva e tétano.
A música não era xote, nem baião, nem xaxado e nada que tivesse sanfona, triângulo e zabumba.Em seguida, assisti, escandalizado, à mais terrível demonstração de que a educação infantil caminha rapidamente para a mais corrupta degringolação lisérgica e porra-louca. As crianças não fizeram coisa nenhuma que tivesse a menor parecença com uma quadrilha, com festa junina, ou com pula-fogueira. Parecia um balé Pink Floyd. Uma alegoria para um poema de William Carlos William. Uma dança para los lobos de la marijuana amarga. Mas não falei nada. Aplaudi com todo mundo. Sorri para as crianças. Acenei. Dei tchau. Só no final é que não pude resistir:
_Viva São João Ninja! Viva!!
E dessa vez minha mulher nem me deu cotovelada.
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