terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Ventiladores

Não há como não falar do calor. Se não fossem umas brisas ocasionais e os ventiladores ligados na potência máxima aqui em casa já teríamos derretido e grudado no colchão. Sim, durante o dia sempre é possível procurar um lugar mais arejado, uma esquina de vento, manter a hidratação na medida certa com bebidas geladas e leques, ou curtir um ventinho balançando nas redes. O problema é durante a noite. O calor espanta o sono e aumenta a insônia. Não temos ar condicionado nos quartos. Na época da reforma optamos pelos ventiladores de teto, uma decisão econômica e burra, e hoje disputamos os melhores ventiladores da casa.

Nem sempre foi assim, pois houve um tempo em que os ventiladores de teto funcionavam. Infelizmente, isso não durou muito. O eletricista que trabalhou na reforma , se dependesse de mim, seria jogado no meio do caminho dos quatro cavaleiros do Apocalipse para ser pisoteado na ida e na volta pela fome, guerra, peste e morte. Pensando bem, eu também entraria na fila. Mas não importa mais. Os ventiladores pifaram há uns quatro anos, eu mesmo troquei dois e um terceiro nunca funcionou direito. Os dois que eu troquei eram bem pebas e foram prejudicados pela instalação deficiente e pelos frequentes saltos de energia da minha rua no bairro. Aliás, foi durante a troca que fui perceber o péssimo trabalho do eletricista, que usou uma sequência de cores diferente do padrão. Por causa disso, no quarto do meu filho o ventilador só funciona se uma das lâmpadas do ventilador estiver um pouquinho acesa, o que só é possível se a potência do ventilador estiver no máximo, o dimmer estiver pela metade e o clic da lâmpada estiver desligado. Lembro de ter tentado várias combinações de fios e cores para corrigir a coisa, mas essa foi a minha melhor sequência então resolvi deixar como está até chamar um novo eletricista.

O grande problema dos eletricistas é que eles são careiros. Por isso, resolvi pegar umas indicações de eletricistas com o meu irmão. Como qualquer pessoa do mundo sabe, meu irmão não é o tipo de cara que joga dinheiro fora. Não me lembro de ninguém que o tenha chamado de mão-aberta, muito embora seja generoso de coração e alma. Por outro lado, uma das minhas irmãs costuma dizer que ele seria capaz de atravessar uma piscina olímpica com um Sonrisal em cada mão. Mas acho exagero.

_Tem o Benones e o Pecêzinho - disse o meu irmão.

_O Benones é aquele das lâmpadas do jardim? - eu disse.

_Isso, isso. Pô, você sempre lembra dessas lâmpadas. Foi um pequeno engano e ele corrigiu - disse ele.

_Corrigiu só a metade. Caramba, para ligar as lâmpadas eu ainda tenho que acionar três interruptores em três lugares diferentes, um na churrasqueira, outro na varanda e o terceiro na cozinha!

_Você precisa superar isso. O Benones é ótimo, você só precisa ficar junto dele para que o trabalho saia direitinho - disse meu irmão.

_Estou com preguiça de vigiar gente. E o Pecêzinho? Ele é bom? - eu disse.

_Bom, o cara é bom. Religioso. Ele é bem direito. Nunca foi preso. Não que eu saiba.

_Não, ele é bom eletricista?

_É. Quer dizer, ele é bom, mas o forte do Pecêzinho é a parte hidráulica.

_O Pecêzinho é bombeiro, então?

_É. Mas ele manja de elétrica. Se o Benones não puder, vai de Pecêzinho que ele dá conta do recado.

_Peraí, mas lá na sua casa não teve aquele problema de vazamento e infiltração?

_Teve, mas já está tudo resolvido. O Pecêzinho mesmo foi lá e arrumou tudo.

_Que bom, que bom. Então me dá os telefones dos caras...

E depois eu agradeci ao meu irmão e guardei os telefones na carteira. O calor está grande, mas hoje estava até bem nublado. Então vou esperar mais um pouco. Não custa nada, não é? E aqui em casa tem ventilador portátil pra todo mundo.


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