quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Bolsas

Minha mulher adora bolsas. E nestes mais de 15 anos de casados, ela já teve uma porção delas, tantas que perdi a conta. Basta dizer que ela costuma usar rotineiramente umas 4 bolsas, alternando o uso entre o trabalho e as outras saídas cotidianas. Multiplique pelos dias úteis da semana e você já sabe quantas bolsas ela usa por mês.

Homem é diferente, é claro. Eu só uso uma única bolsa, preta, tipo capanga com aba. Tem bem uns 10 anos. Antigamente eu usava uma pochete, mas este foi um dos itens condicionais para o matrimônio. Ela só aceitou a aliança depois que eu prometi que não usaria a pochete, o pulôver sobre os ombros e nem a capa de telefone celular(o Neo) clipada no cinto. Eu parecia o Batman, fala a verdade!

Mas isso acabou. Embora reconheça que minha mania de pochete fosse imensa. Era tão grande que demorei uns 10 anos só para deixar de procurar coisas na minha cintura. Em plena crise de abstinência de pochete aderi ao chaveiro-mosquetão. Ando sempre com dois. Tenho mais chaves que um guarda penitenciário de filme antigo. E cópias. Organizadas em chaveiros-mosquetão.

O pulôver foi mais fácil de parar de usar nos ombros, nem penso mais nisso, ainda mais agora que faz calor em plena temporada de chuva. Além disso, o pulôver nos ombros ficou marcado como coisa de coroa, e coroas como eu não querem parecer ainda mais coroas. Só ando com ele amarrado na cintura. Minha mulher se afasta rápido quando amarro o pulôver e age como se não me conhecesse, apressando o passo. Aí eu também ando mais rápido, tentando alcançá-la, é uma confusão. Uma vez um guardinha chegou a me abordar no shopping.

_A senhora conhece esse homem? - ele disse.

Minha mulher balançou a cabeça e o guardinha deu aquela pegada de pinça mecânica de caranguejo no meu pobre braço.

_É minha mulher! É minha esposa! - eu disse.

_Vamos conversar lá na salinha - disse o segurança.

_Eu posso provar, eu tenho a certidão de casamento aqui, ó - e eu puxo o documento, as certidões de nascimento das crianças, mostro o nome dela gravado na aliança. O guardinha, a contragosto, acabou se convencendo.

Só de pirraça, essa não foi a última vez que amarrei o pulôver na cintura. Ainda hoje, quando uso pulôver, eu amarro ele na cintura e minha mulher dispara a andar depressa só que eu não tento mais alcançá-la. Fico na minha, seguindo à distância, fingindo olhar as vitrines, atento às suas tentativas de se misturar com a multidão, como se eu fosse um agente secreto perseguindo uma espiã. Por alguns poucos minutos, coisa pouca mesmo, ela consegue escapar do meu campo de visão. Posso apostar que é nesse tempinho de nada que ela escolhe uma nova bolsa.

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