domingo, 4 de janeiro de 2015

Fazendo sala

Os conselhos maternos são sábios e os bons exemplos também. Me arrependo profundamente de não ter aprendido com a minha mãe a fazer uma boa sala. Oportunidade não faltou. Ela até hoje faz uma sala fantástica, cheia de atenções e mimos, com o cafezinho chegando na hora certa, no tempo justo e perfeito. Não é só uma questão de encaixar uma boa conversa, fazer as perguntas no momento adequado, ouvir pacientemente e manter a cara de interessado no assunto quase sempre rotineiro e insípido das conversas cotidianas. É fazer tudo isso de coração aberto, coisa que não se finge nem se encena, é meio que um exercício de poesia. Ou todos os versos são bons e compõem uma coisa boa, ou tudo desanda e se acaba em rima pobre, a visita se irrita e quer sair logo da casa da gente.

Vendo a minha mãe, passei a dividir as pessoas em "saleiras" e "não-saleiras", não tem meio termo. Quem faz sala mais ou menos é ruim de xinfra, o "saleiro" de verdade não tem dia ruim, é quase sempre bom e muitas vezes excelente. Por isso, embora de vez em quando eu possa acertar mais do que errar, reconheço que sou do tipo "não-saleiro". Já tentei atribuir meus fracassos à minha mãe, que desde os meus tempos de menino sempre recebeu muita visita, tanta que eu acabava indo para os fundos da casa, cansado e entediado da conversa adulta que não entendia e que não me interessava. Mas um dia finalmente aprendi que os filhos culpam os pais por suas próprias falhas e que a maturidade só nos chega quando paramos de apontar para os outros e batemos no peito, arrependidos e com humildade sincera, e assumimos os nossos malfeitos e as decisões estúpidas.

O problema é que agora eu já estou meio chucro, feito pau torto, desaprendo mais do que aprendo as coisas. Então eu faço sala para as visitas observando a minha mulher, que é bem "saleira" e sabe tirar café na hora mais adequada. Sozinho eu me atrapalho todo, fico oferecendo coisas sem parar, interrompo conversa embalada, levanto antes da hora ou lembro de coisas urgentíssimas e sem a menor importância e perco o fio da meada no meio de um papo bacana.

_(...) E então, o que você acha? - perguntou outro dia uma visita importante, uma pessoa muito querida que veio me visitar.

_Hum, sobre isso não tenho opinião formada - eu disse.

_Como assim?

_Preciso refletir mais sobre o assunto. Ainda é cedo para ser assim...taxativo - eu disse, bem sério.

_Eu só perguntei se você acha que vai chover, criatura!

_Talvez. Que tal um cafezinho?

Sou eu, "não-saleiro".


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