quarta-feira, 16 de abril de 2014

Inglória

A minha existência é uma luta inglória para conseguir salvar a minha identidade de forças esmagadoras. É sério? Não, claro que não. Mas achei essa frase do balacobaco na orelha do livro "No Sufoco", de Chuck Palahniuk. Que nunca li, por sinal. Estou arrumando a estante dos livros não lidos no escritório. Isso nunca é fácil porque interrompo a arrumação o tempo inteiro para folhear livros que não li, livros que já li e gostei, livros que li e não gostei mas que agora começam a se mostrar interessantes, livros que li pela metade e que releio algumas partes, livros que definitivamente não voltarei a ler, livros que amo intensamente e que sempre me capturam e livros que esqueci que eu tinha. Esse do Chuck cai no último caso.

Não me lembrava de tê-lo comprado. Deve ter sido na esteira do entusiasmo da leitura do genial "Clube da Luta". A capa mostra um desenho anatômico dos músculos do corpo humano. A orelha do livro não é muito inspiradora, mas essa frase salta aos olhos. Já fui um sujeito muito mais pretensioso do que sou hoje, mas nem naqueles hiperbólicos dias conseguiria bolar uma frase tão gloriosamente empolada de empáfia. É preciso um mínimo de talento e autoconsciência para se cometer o pecado da soberba. Não existe arrogância sem que haja também um excesso de benevolência na auto-avaliação, um erro crasso de julgamento, uma indulgência permissiva com as nossas enormes limitações. Por outro lado, nem sempre a humildade é sinal de um rigoroso exercício de caráter e moral, de um disciplinado e inteligente trabalho do cérebro e do reconhecimento de que é sempre possível aprender alguma coisa. Não. Às vezes a humildade é só uma expressão resignada de nossa incapacidade de ação.

Folheando o livro descubro que algumas páginas estão coladas. Isso me chateia profundamente. Verifico novamente e percebo que não é o velho problema das páginas que não foram recortadas direito. Foi algo mais sério. O livro foi molhado em algum momento de sua história e pelo menos quatro páginas ficaram irremediavelmente coladas. Agora, portanto, acabo de descobrir que sou o proprietário há vários anos de um livro que não li e que, se algum dia tiver a intenção de lê-lo será melhor garantir que as páginas 245, 246, 247 e 248 estejam descoladas.

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