Muitas pessoas acreditam que depois de um certo tempo, não importa quantos anos você faça, a sua idade interior é a que conta. Alguns felizardos com esse raciocínio se gabam de ter uma idade próxima dos trinta anos, ou seja, nem muito jovem e inexperiente e nem velho e cansado de dar com a cara na parede. Eu costumava pensar da mesma maneira. Eu achava que tinha estacionado por volta dos 33, 34 anos, era essa a idade da minha auto-imagem. Eu acreditava. Que burrice.
Antes dos 35, eu acreditava que uma série de conquistas ainda estavam alinhadas à minha frente, eu só precisaria esticar o braço com um pouco mais de vontade para alcançar tudo e agarrar o que achasse melhor. Não que eu ainda não tivesse experimentado fracassos e desacertos. Não, senhor. Não, senhora. Eu já tinha sido feito de bobo, traído, chutado, enganado e menosprezado várias e várias vezes antes de chegar a essa tenra idade. Também tinha conseguido uns sucessos bestas, uma consolação ali, outra acolá. Mesmo assim eu me achava. Mesmo assim eu fazia a conta nos dedos e acreditava que os bônus sobrepujavam os ônus, os reveses e as porradas. O mundo estava logo após a soleira, eu só precisava apertar o passo para entrar na classe executiva, acelerar um pouco e colar na primeira classe, pertinho da porta da cabine do piloto e de olho no decote da aeromoça.
Então, outro dia eu fiquei examinando umas fotos antigas que colocaram no Facebook, do tempo da faculdade. Ali estava eu, com cara de menino, uns óculos redondos de imitação de aro de tartaruga. Tenho eles até hoje, não jogo fora nem garrafa de Gatorade. Tentei entrar na minha cabeça de antigamente e consegui, sem muito esforço. Eu era um lunático sonhador. Um maluco sortudo que conseguiu sobreviver a excessos com cigarros e birita, um pouco covarde, arrogante e muito, muito limitado. Naqueles dias, eu acreditava que minhas chances eram reduzidas no mundo competitivo e cada vez mais agressivo que eu avistava. Eu teria que andar com o bumbum encostado na parede e pensar muito antes de cada passo no campo minado. Com um pouco de sorte eu poderia conquistar algumas coisas, mas elas seriam bem efêmeras. Seria bom manter a cabeça e o tom de voz mais baixo e aproveitar todas as oportunidades que surgissem, porque seriam as únicas. Tudo o que eu deixasse passar, babau, nunca mais veria. Espere aí, eu disse. Esse sou eu até hoje!
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