sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
Eu voltei, rá, rá, rá
Voltei. Depois de duas semanas em São Paulo, voltei para a capital brasileira. Nada mudou. Aqui continua chovendo todos os dias, os preparativos para a copa ainda não recuperaram o atraso e a inflação está chutando a porta de bicuda. Mas em casa estamos todos ótimos, com boa saúde e de humor renovado para encarar a pauleira de 2014. No ano passado o bicho pegou, mas a coisa pega pra valer, você sabe, é em ano de eleição. Voltei primeiro para o FB, com comentários em posts diversos. Como sempre acontece, alguém ficou bravo comigo e tratou logo de me chamar de militante direitista. Bom, direita é quem está ao lado da situação, o que não é o meu caso. Politicamente, sou um torcedor sentado. Nessa posição, obviamente não posso ser um esquerdista de quatro enquanto lambo as maçanetas dos poderosos. Torço pela liberdade, justiça e pela oportunidade de estar vivo para ver mais criminosos corruptos serem julgados de acordo com o devido processo legal e amargarem uma cana. É difícil, mas graças ao Barbosa isso ainda acontece nessas paragens. Força, Barbosão! Se não fosse pelo Meritíssimo, e algumas pouquíssimas exceções, o país já teria chafurdado de vez.
Minhas Férias - Fui para São Paulo com a minha família. Comecei por Ubatuba, tradicional balneário paulista. Fiz aquela descida de oito quilômetros de curvas em sessenta graus, a melhor e mais emocionante montanha-russa do planeta. Os engenheiros que construíram aquela estrada deveriam entrar para o livro dos recordes. Aliás, na semana passada todos os recordes do livro foram batidos de uma vez só por um brasileiro. No liquidificador. Ficamos hospedados em casa modesta, alugada pela família. Não importa, as crianças só queriam saber de praia e durante quatro dias praia foi o que tiveram. As praias de Ubatuba, para quem não sabe, ficam numa espécie de condomínio-reserva-ecológica. Isso significa que você tem que pagar para deixar o carro estacionado numa descida esburacada ou estará sujeito a reboque. O restante da infra-estrutura é igual ao das praias chiques da Espanha. Estou brincando, é claro. Não há infra-estrutura, o que significa problema sério se você precisar ir ao banheiro para números maior do que um. As praias paulistas estão cheias de gente bonita. Mas não encontrei mais do que duas ou três dessas pessoas. Em compensação, todo mundo era como eu: fora de forma, meio mole e precisando eliminar a barriga. A inflação na praia paulista é galopante. Tinha água de coco a seis reais no primeiro dia. Subiu para sete no segundo e oito no terceiro. No quarto dia eu levei uma coca comprada no super. Mas tem pastel. Foi a primeira vez que comi pastel na praia. Gostei e recomendo. Tinha uma barraca que oferecia 40 tipos de pastel. Fiquei com o clássico "de carne" porque é melhor não arriscar muito nessas horas. Sabe como é o ditado, maionese só se come em casa. Também tinha pamonha, queijo coalho, milho cozido, salsicha no espeto, churrasquinho, churros e picolés variados. No último dia experimentei de tudo, até o picolé de marca alternativa. Dei sorte novamente.
Foi no segundo dia que eu perdi os óculos. Eu não amava o meu par de óculos. Mas eram meus há pelo menos cinco anos e ainda mandavam bem. Uma única onda furtiva numa manhã especialmente sem ondas se aproveitou do descuido e derrubou o meu primeiro par de multifocais. Desisti de procurar depois de meia hora. A água não estava muito transparente e eu havia levado um óculos reserva. Sempre levo um óculos reserva e ele passa as férias trancado numa mala, mas desta vez, por mais sorte ainda, eu havia deixado o óculos no carro. Vou até a descida esburacada onde está o carro mas não o encontrei. Eu tremi um pouco até sacar que não estava na descida esburacada certa. Depois que encontrei o carro mesmo sem enxergar quase nada fiquei feliz porque só machuquei um dos pés. A vida prosseguiu normalmente. O único problema é que os óculos são velhos, escuros e pequenos. Fico parecido com um traficante analfabeto, não consigo ler patavinas e os fãs de marijuana ficam acendendo cigarros perto de mim. Minha mulher acha que eu estou exagerando e vamos andar pela praia. Ela só começa a entender o meu ponto de vista depois que o décimo rapazola pergunta se eu tenho fogo.
_Não, meu irmão, eu não tenho - e é verdade, não ando com isqueiros há dez anos.
Em seguida aos dias na praia fomos para Taubaté. É uma bela cidade, mas não deu pra ver muita coisa com os meus óculos escuros. A rapaziada continuava a me pedir fogo. Fazia um calor horrendo e, logo em seguida, chovia a cântaros. Choveu granizo durante os quatro dias em que estivemos lá. Numa das vezes, as pedras de gelo quebraram diversas telhas da casa onde estávamos hospedados. Para espairecer, fizemos uma visita relâmpago a S.J. dos Campos. Compramos chocolate e voltamos. No caminho vimos a famosa fábrica de facas artesanais ao lado da estrada, mas estava fechada. Então paramos num local onde havia um laguinho artificial cheio de patos e peixes. Ficamos alimentando peixes e patos até as crianças enjoarem. Na véspera de ir embora, meus óculos novos transparentes ficaram prontos. A rapaziada parou de pedir fogo, ufa.
Partimos para São Paulo, capital, numa bela manhã de sol. O GPS funcionou direitinho e encontramos o hotel sem muita dificuldade, bem no centro da cidade, pertinho da Praça da República, a dois quarteirões do metrô. Maravilha. Achei o centro meio pichado, um cheiro meio ruim, mas tudo bem. Só que não. Depois de um passeio prolongado, voltamos de táxi ao hotel à noitinha. Foi então que eu vi a multidão de noiados da Cracolândia, parecia um episódio de Walking Dead com os "walkers" mais nutridos e rápidos. É lógico que disfarcei o medo conversando com o taxista, perguntando se ele se sentia seguro andando por ali à noite.
_Eu não ando por aqui à noite. Eu só passo por aqui quando tem rádio de hotel conhecido. Depois das nove eu não venho por aqui. Não tem ninguém.
_E esse monte de gente?
_Encrenca. Eu não paro.
Naquela noite eu descobri que a Cracolândia não se resume a dois, três ou quatro quarteirões de São Paulo. O que chamam de Cracolândia compreende mais de 27 bairros próximos da região central e no centro da capital paulista. Sorte minha e nossa, novamente. Restringimos os passeios pela cidade e adotamos o toque de recolher voluntário da maioria das famílias da cidade. E aí prosseguimos com a programação, sem maiores incidentes. Valeu a pena? Bom, digamos que não faria tudo do mesmo jeito novamente nem a pau, Juvenal.
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