domingo, 26 de janeiro de 2014
Cumprimentando a galera
- Ultimamente tenho observado o modo como as pessoas se cumprimentam e desenvolvi uma pequena teoria a respeito do assunto. Sim, você pode chamar isso de falta do que fazer. Mas o fato é que o modo como as pessoas dizem "olá, como vai" também fala muito sobre a personalidade não só de quem cumprimenta, mas também de quem é cumprimentado.
_Putz, lá vem você com essas conversas. Basta a gente ter a sorte de entrar num shopping sem rolezinho e você engata esses papos non-sense.
_Não, benzinho, não é assim não. Tá certo que está difícil ir a um shopping sem dar de cara com um flash mob da periferia, mas não é todo dia que eu teorizo sobre os cumprimentos.
_Não é? É que você é esquecido pacas. Você já me falou isso uma porção de vezes.
_Não me lembro. Acho que essa é uma conversa inédita.
_Uma ova. Você vai me falar dos caras que não apertam a mão direito, só encostam os dedos na palma da mão. Em seguida vai se lembrar dos sujeitos que têm super-apertos de mão, que gostam de entrar em filas de autoridades só para trincar os dedos dos políticos que detestam. Também vai falar dos sujeitos que gostam de parecer que são maçons, com uns apertões esquisitos com o dedão. Depois vai me falar dos maçons, que realmente têm um sinal secreto no cumprimento, que você já soube mas se esqueceu desde que parou de beber.
_Caramba, já te falei tudo isso?
_Umas vinte vezes. E também já falou dos sujeitos que têm as mãos quentes e suadas e dos caras que têm as mãos geladas, e de como isso não significa que essas pessoas sejam tímidas, inseguras ou qualquer coisa. Só significa que têm as mãos úmidas.
_Já te falei das pessoas que cumprimentam com carinho?
_Não. Dessas eu não me lembro.
_É uma categoria nova, reparei nela outro dia. Chamo esses caras de "quarto grau".
_Por quê?
_Um aperto de mão, um abraço normal, isso é um contato de "terceiro grau", coisa banal e comum. Agora o que os caras do "quarto grau" fazem é incrementar o que é tradicional e corriqueiro. Um número quatro não aperta simplesmente a sua mão. Ele a segura durante um tempo absurdo e antes de desapertar a sua mão ele reforça o cumprimento com a outra mão. É uma coisa de louco. O quarto grau vem com a mão esquerda e a encobre com cuidado, fazendo conchinha com a mão do cumprimentado. É uma das coisas mais grudentas do mundo. É pior do que lesma.
_Ugh! Acho que já levei um cumprimento desses. É uma sensação apavorante. E o que significa?
_Proteção. O aperto de mão de quarto grau quer dizer que o sujeito está oferecendo amparo, conforto e proteção para o cumprimentado. Mas também pode significar uma demonstração de força e poder, de que a pessoa é capaz de te envolver completamente e também de te dominar.
_Não! Sério?
_É a minha interpretação, mas posso estar errado.
_E como é o abraço de quarto grau?
_A pessoa não te dá um simples abraço, ela segura seus braços com os dela e encosta a bochecha no seu ombro, com a cabeça inclinada. Ao mesmo tempo, a pessoa fica alisando suas costas, devagarinho.
_Não, esse aí você inventou. Nunca ninguém fez isso comigo.
_Ah, não? Esse aí é o clássico abraço de Vó. É aquele amplexo total e reparador, também muito comum entre pais e filhos e vice-versa.
_E quando não é pessoa da família?
_Então é amigo íntimo de longa data ou de pessoa que tem a pretensão de amizade eterna.
_Nunca tinha pensado nisso.
_Mas tem mais. Você já reparou naqueles caras que dão tapinha na barriga?
_Não, isso não existe.
_Mas é claro que sim. Está cheio de gente que cumprimenta assim. O cara que você não vê há anos se aproxima, aperta a sua mão e daí a pouco dá duas palmadinhas rápidas na sua barriga, ou alisa ela, de leve. E ainda diz, "me liga, a gente se fala", enquanto alisa a sua barriga.
_Cruzes! Que horror!
_E o cara que faz cafuné na sua nuca? Nunca viu?
_Não, aí você já pulou o corguinho. Isso não existe...
E eu só escutei mais ou menos até aqui, porque começou uma correria no shopping. Eu achei que poderia ser um rolezinho e por isso piquei a mula, rapidinho.
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