sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
Pais e Filhos
_Mãe, eu estava pensando... - disse a minha filha, na hora do jantar.
_Ixi, aí vem pergunta difícil - eu pensei, diminuindo o ritmo das mastigadas para não perder nada.
_Pode falar - disse a minha mulher.
_Será que você não teria outros filhos? - ela disse.
_Como assim? Você quer ter mais irmãos? - disse a minha mulher.
_Isso talvez. Mas eu queria saber se você não teve outros filhos antes da gente, sem ser com o papai.
_Epa! - eu disse.
_Não, não. Eu não tive. Você e seu irmão sãos os meus dois únicos filhos - disse a minha mulher.
_E você, paiê?
_Mesma coisa.
_Tem certeza, paiê?
_Tenho. Mas por quê essas perguntas? Andou vendo novela?
_Não, paiê, é que a família da gente é muito sem-graça. Eu tenho uma porção de amigas com um monte de irmãos de pais e mães diferentes. Por quê a gente não é assim?
_Não sei, filha. Eu juro que estamos tentando fazer tudo certinho.
_Ixi, aí vem pergunta difícil - eu pensei, diminuindo o ritmo das mastigadas para não perder nada.
_Pode falar - disse a minha mulher.
_Será que você não teria outros filhos? - ela disse.
_Como assim? Você quer ter mais irmãos? - disse a minha mulher.
_Isso talvez. Mas eu queria saber se você não teve outros filhos antes da gente, sem ser com o papai.
_Epa! - eu disse.
_Não, não. Eu não tive. Você e seu irmão sãos os meus dois únicos filhos - disse a minha mulher.
_E você, paiê?
_Mesma coisa.
_Tem certeza, paiê?
_Tenho. Mas por quê essas perguntas? Andou vendo novela?
_Não, paiê, é que a família da gente é muito sem-graça. Eu tenho uma porção de amigas com um monte de irmãos de pais e mães diferentes. Por quê a gente não é assim?
_Não sei, filha. Eu juro que estamos tentando fazer tudo certinho.
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
Mala ou mochila
No primeiro dia de aula, a mochila do meu filho arrebentou uma roda de vez.
_Putz, e o mecânico disse que ainda aguentava uns dois meses - disse a minha mulher.
_Eu sei, eu sei, foi uma avaliação superficial, e eu achei que as calçadas e vias públicas estariam em melhores condições. Sem mencionar o peso. Eles aprovaram uma lei que proíbe excesso de peso nas mochilas escolares, mas parece que ainda não pegou. Então, somadas as péssimas condições de infra-estrutura, o domínio chinês do mercado de bolsas e mochilas escolares, a falta de fiscalização e a precariedade sistêmica, fui induzido ao erro. Ao invés de dois meses, a mochila só aguentou um dia - eu disse.
_Pô, Careca, só faltou botar a culpa no FHC - ela disse.
_Rá, rá. Eu acho que o melhor será usar aquela malinha pequena, de viagem, até que a alta temporada de preços de mochila passe e as ofertas comecem a aparecer - eu disse. Não há nenhum exagero nisso. Uma mochila custa de 30 a trocentos mangos, mas se ela possui rodinhas, o preço salta para algo próximo a uma cópia de bolsa Hermés ou Victor Hugo.
_Malinha? Não, senhor, todo mundo vai zoar o menino. E as promoções só começam em abril, não vai dar para esperar muito tempo.
_Vai por mim, vi um monte de meninos e meninas com malas ao invés de mochilas na escola. Ninguém vai reparar - eu disse.
Mas eu nem sempre acerto. Os outros meninos repararam e zoaram pacas.
_Foi duro, pai, toda hora alguém perguntava para onde eu estava indo.
_E o que você dizia?
_Posso falar?
_Não, pode deixar. Eu pensei que você e os colegas iriam curtir. Essa malinha é menor que uma mochila, tem rodas de poliuretano, cabo telescópico e cadeado embutido. É samsonite. Fiz um monte de viagens com ela.
_Pois é, os caras disseram que é bem velhinha - disse meu filho.
_Está zero bala! Viajei mais de 10 mil quilômetros com essa mala e ela está novinha! - eu disse.
_Tudo bem, pai. Eu vou com a mochila sem rodinhas - ele disse.
_São mais de quatro quilos. Vai ficar com a coluna torta e nem a mochila vai aguentar - eu disse.
Felizmente um dos primos emprestou uma mochila usada e em perfeito estado.
_Putz, e o mecânico disse que ainda aguentava uns dois meses - disse a minha mulher.
_Eu sei, eu sei, foi uma avaliação superficial, e eu achei que as calçadas e vias públicas estariam em melhores condições. Sem mencionar o peso. Eles aprovaram uma lei que proíbe excesso de peso nas mochilas escolares, mas parece que ainda não pegou. Então, somadas as péssimas condições de infra-estrutura, o domínio chinês do mercado de bolsas e mochilas escolares, a falta de fiscalização e a precariedade sistêmica, fui induzido ao erro. Ao invés de dois meses, a mochila só aguentou um dia - eu disse.
_Pô, Careca, só faltou botar a culpa no FHC - ela disse.
_Rá, rá. Eu acho que o melhor será usar aquela malinha pequena, de viagem, até que a alta temporada de preços de mochila passe e as ofertas comecem a aparecer - eu disse. Não há nenhum exagero nisso. Uma mochila custa de 30 a trocentos mangos, mas se ela possui rodinhas, o preço salta para algo próximo a uma cópia de bolsa Hermés ou Victor Hugo.
_Malinha? Não, senhor, todo mundo vai zoar o menino. E as promoções só começam em abril, não vai dar para esperar muito tempo.
_Vai por mim, vi um monte de meninos e meninas com malas ao invés de mochilas na escola. Ninguém vai reparar - eu disse.
Mas eu nem sempre acerto. Os outros meninos repararam e zoaram pacas.
_Foi duro, pai, toda hora alguém perguntava para onde eu estava indo.
_E o que você dizia?
_Posso falar?
_Não, pode deixar. Eu pensei que você e os colegas iriam curtir. Essa malinha é menor que uma mochila, tem rodas de poliuretano, cabo telescópico e cadeado embutido. É samsonite. Fiz um monte de viagens com ela.
_Pois é, os caras disseram que é bem velhinha - disse meu filho.
_Está zero bala! Viajei mais de 10 mil quilômetros com essa mala e ela está novinha! - eu disse.
_Tudo bem, pai. Eu vou com a mochila sem rodinhas - ele disse.
_São mais de quatro quilos. Vai ficar com a coluna torta e nem a mochila vai aguentar - eu disse.
Felizmente um dos primos emprestou uma mochila usada e em perfeito estado.
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Sex shop em São Paulo
A pergunta parece ter surgido naturalmente, no meio de uma conversa sobre uma ida ao Aquário da cidade. Mas reconheci uma leve hesitação na voz, o que me deu a certeza imediata de que minha filha de nove anos de idade havia ensaiado a questão várias vezes antes de reunir coragem para dizê-la em voz alta. Ou talvez estivéssemos passando pela Rua Augusta, onde existe uma loja dessas bem na esquina.
_Mãe, o que é sex shop? - disse a minha filha.
_É uma loja onde as pessoas compram produtos para fazer sexo - respondeu a minha mulher, de bate-pronto.
_Viu? Eu não falei? Quem mandou você perguntar! - disse o meu filho.
_Ué, mas ela fez bem em perguntar. Quando a gente não sabe uma coisa, não tem problema nenhum perguntar - eu disse.
_Acontece que ela já sabia a resposta - disse o meu filho.
_E o que tem dentro da loja? - continuou a menina.
Eu fiz uma recapitulação mental do que eu me lembrava de ter visto na única visita que fiz a uma sex-shop, há algumas décadas. Vi engenhocas do arco da velha, o que inclui uma coisa que parecia uma lanterna maglite para seis pilhas das grandes. O que eu responderia?
_Ah, tem cremes para massagens, perfumes, e um monte de coisas para deixar as pessoas mais confortáveis e... bonitas para fazer sexo com quem amam - disse a minha mulher.
Putz, putz, putz! Eu pensei, em ritmo de discoteca. Ainda bem que eu não precisei responder essa. Eu tenho certeza de me embolaria todo e acabaria mencionando lanternas maglite, pilhas grandes, chicotes e algemas.
_Pai, você já comprou alguma coisa numa sex-shop? - disse a minha filha.
Putz, putz, putz! Não escapei. Oh, oh, oh, não mencione lanternas, nem pilhas, nem chicotes e nem algemas...
_E então, pai? Já comprou alguma coisa? - disse o meu filho.
_Estou tentando me lembrar. Acho que não.
_Não? - disse a minha mulher.
E isso me deixou surpreso, portanto fiz uma nova busca mental acelerando o search ao máximo e aí, tchans, lembrei na hora que eu efetivamente havia comprado uma única coisa naquele sex-shop que eu e minha mulher visitamos, há tantos anos.
_Não. Quer dizer, sim.
_O quê? O quê? - disseram as crianças.
_Chiclete - eu disse, triunfante, para decepção das crianças.
_Chiclete de morango - disse a minha mulher, com aquele sorriso no canto da boca que só eu sei o que significa.
E isso deixou as crianças quietas por algum tempo. Mas não muito.
_Pai, podemos comprar chiclete no sex-shop? - disse a minha filha.
_Não! - eu disse, encerrando a conversa definitivamente.
_Mãe, o que é sex shop? - disse a minha filha.
_É uma loja onde as pessoas compram produtos para fazer sexo - respondeu a minha mulher, de bate-pronto.
_Viu? Eu não falei? Quem mandou você perguntar! - disse o meu filho.
_Ué, mas ela fez bem em perguntar. Quando a gente não sabe uma coisa, não tem problema nenhum perguntar - eu disse.
_Acontece que ela já sabia a resposta - disse o meu filho.
_E o que tem dentro da loja? - continuou a menina.
Eu fiz uma recapitulação mental do que eu me lembrava de ter visto na única visita que fiz a uma sex-shop, há algumas décadas. Vi engenhocas do arco da velha, o que inclui uma coisa que parecia uma lanterna maglite para seis pilhas das grandes. O que eu responderia?
_Ah, tem cremes para massagens, perfumes, e um monte de coisas para deixar as pessoas mais confortáveis e... bonitas para fazer sexo com quem amam - disse a minha mulher.
Putz, putz, putz! Eu pensei, em ritmo de discoteca. Ainda bem que eu não precisei responder essa. Eu tenho certeza de me embolaria todo e acabaria mencionando lanternas maglite, pilhas grandes, chicotes e algemas.
_Pai, você já comprou alguma coisa numa sex-shop? - disse a minha filha.
Putz, putz, putz! Não escapei. Oh, oh, oh, não mencione lanternas, nem pilhas, nem chicotes e nem algemas...
_E então, pai? Já comprou alguma coisa? - disse o meu filho.
_Estou tentando me lembrar. Acho que não.
_Não? - disse a minha mulher.
E isso me deixou surpreso, portanto fiz uma nova busca mental acelerando o search ao máximo e aí, tchans, lembrei na hora que eu efetivamente havia comprado uma única coisa naquele sex-shop que eu e minha mulher visitamos, há tantos anos.
_Não. Quer dizer, sim.
_O quê? O quê? - disseram as crianças.
_Chiclete - eu disse, triunfante, para decepção das crianças.
_Chiclete de morango - disse a minha mulher, com aquele sorriso no canto da boca que só eu sei o que significa.
E isso deixou as crianças quietas por algum tempo. Mas não muito.
_Pai, podemos comprar chiclete no sex-shop? - disse a minha filha.
_Não! - eu disse, encerrando a conversa definitivamente.
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
As aulas recomeçaram
Acabou a mamata. Ao invés de percursos rápidos de dois minutos e meio, as rotinas da manhã agora passarão a ser de corridas de 35 minutos até a parte sul da cidade, onde agora meu filho mais velho está matriculado. Sim, resistimos o máximo que foi possível, mas a escola nem tão alternativa começou a se revelar pouco desafiadora o que mais tarde pode vir a significar também uma desvantagem competitiva. Achamos que o menino estava aprendendo pouco e questionando muito. As perguntas tinham muito pouco a ver com curiosidade e aprendizado e muito a ver com teimosia, rebeldia e mera vontade de confrontar qualquer imposição de regras. A troca de escola exigiu um elaborado roteiro de conversação e convencimento desenvolvido pela minha mulher. Posso dizer com tranquilidade que ela convenceu a mim e ao menino com facilidade. Tenho certeza de que ficaríamos milionários se o método fosse comercializado.
Antes de mudar de escola fizemos uma análise detalhada dos prós e contras da mudança, inclusive do esforço logístico. Também colocamos na ponta do lápis o aumento de despesas com transporte e alimentação. Com a nova escola, não será possível almoçar juntos todos os dias da semana, o que é profundamente lamentável. Vamos ter que fazer desse limão uma limonada e aproveitar ao máximo os três dias de refeições unidos que restaram durante a semana.
Mudar de escola é uma coisa impensável para meninos de dez anos. Mas não são sequer cogitados por meninas de nove. Por isso, decidimos que ainda não é hora de mudar nossa princesa. Ela está com uma turminha bacana há quatro anos e ainda não é chegada a hora. De qualquer forma, deixamos estabelecido que essa situação não é definitiva e que podemos voltar atrás se tudo piorar muito.
Entretanto, a julgar pelos sorrisos e grande entusiasmo demonstrado por ambos quando voltaram da escola, creio que acertamos.
Antes de mudar de escola fizemos uma análise detalhada dos prós e contras da mudança, inclusive do esforço logístico. Também colocamos na ponta do lápis o aumento de despesas com transporte e alimentação. Com a nova escola, não será possível almoçar juntos todos os dias da semana, o que é profundamente lamentável. Vamos ter que fazer desse limão uma limonada e aproveitar ao máximo os três dias de refeições unidos que restaram durante a semana.
Mudar de escola é uma coisa impensável para meninos de dez anos. Mas não são sequer cogitados por meninas de nove. Por isso, decidimos que ainda não é hora de mudar nossa princesa. Ela está com uma turminha bacana há quatro anos e ainda não é chegada a hora. De qualquer forma, deixamos estabelecido que essa situação não é definitiva e que podemos voltar atrás se tudo piorar muito.
Entretanto, a julgar pelos sorrisos e grande entusiasmo demonstrado por ambos quando voltaram da escola, creio que acertamos.
domingo, 26 de janeiro de 2014
Cumprimentando a galera
- Ultimamente tenho observado o modo como as pessoas se cumprimentam e desenvolvi uma pequena teoria a respeito do assunto. Sim, você pode chamar isso de falta do que fazer. Mas o fato é que o modo como as pessoas dizem "olá, como vai" também fala muito sobre a personalidade não só de quem cumprimenta, mas também de quem é cumprimentado.
_Putz, lá vem você com essas conversas. Basta a gente ter a sorte de entrar num shopping sem rolezinho e você engata esses papos non-sense.
_Não, benzinho, não é assim não. Tá certo que está difícil ir a um shopping sem dar de cara com um flash mob da periferia, mas não é todo dia que eu teorizo sobre os cumprimentos.
_Não é? É que você é esquecido pacas. Você já me falou isso uma porção de vezes.
_Não me lembro. Acho que essa é uma conversa inédita.
_Uma ova. Você vai me falar dos caras que não apertam a mão direito, só encostam os dedos na palma da mão. Em seguida vai se lembrar dos sujeitos que têm super-apertos de mão, que gostam de entrar em filas de autoridades só para trincar os dedos dos políticos que detestam. Também vai falar dos sujeitos que gostam de parecer que são maçons, com uns apertões esquisitos com o dedão. Depois vai me falar dos maçons, que realmente têm um sinal secreto no cumprimento, que você já soube mas se esqueceu desde que parou de beber.
_Caramba, já te falei tudo isso?
_Umas vinte vezes. E também já falou dos sujeitos que têm as mãos quentes e suadas e dos caras que têm as mãos geladas, e de como isso não significa que essas pessoas sejam tímidas, inseguras ou qualquer coisa. Só significa que têm as mãos úmidas.
_Já te falei das pessoas que cumprimentam com carinho?
_Não. Dessas eu não me lembro.
_É uma categoria nova, reparei nela outro dia. Chamo esses caras de "quarto grau".
_Por quê?
_Um aperto de mão, um abraço normal, isso é um contato de "terceiro grau", coisa banal e comum. Agora o que os caras do "quarto grau" fazem é incrementar o que é tradicional e corriqueiro. Um número quatro não aperta simplesmente a sua mão. Ele a segura durante um tempo absurdo e antes de desapertar a sua mão ele reforça o cumprimento com a outra mão. É uma coisa de louco. O quarto grau vem com a mão esquerda e a encobre com cuidado, fazendo conchinha com a mão do cumprimentado. É uma das coisas mais grudentas do mundo. É pior do que lesma.
_Ugh! Acho que já levei um cumprimento desses. É uma sensação apavorante. E o que significa?
_Proteção. O aperto de mão de quarto grau quer dizer que o sujeito está oferecendo amparo, conforto e proteção para o cumprimentado. Mas também pode significar uma demonstração de força e poder, de que a pessoa é capaz de te envolver completamente e também de te dominar.
_Não! Sério?
_É a minha interpretação, mas posso estar errado.
_E como é o abraço de quarto grau?
_A pessoa não te dá um simples abraço, ela segura seus braços com os dela e encosta a bochecha no seu ombro, com a cabeça inclinada. Ao mesmo tempo, a pessoa fica alisando suas costas, devagarinho.
_Não, esse aí você inventou. Nunca ninguém fez isso comigo.
_Ah, não? Esse aí é o clássico abraço de Vó. É aquele amplexo total e reparador, também muito comum entre pais e filhos e vice-versa.
_E quando não é pessoa da família?
_Então é amigo íntimo de longa data ou de pessoa que tem a pretensão de amizade eterna.
_Nunca tinha pensado nisso.
_Mas tem mais. Você já reparou naqueles caras que dão tapinha na barriga?
_Não, isso não existe.
_Mas é claro que sim. Está cheio de gente que cumprimenta assim. O cara que você não vê há anos se aproxima, aperta a sua mão e daí a pouco dá duas palmadinhas rápidas na sua barriga, ou alisa ela, de leve. E ainda diz, "me liga, a gente se fala", enquanto alisa a sua barriga.
_Cruzes! Que horror!
_E o cara que faz cafuné na sua nuca? Nunca viu?
_Não, aí você já pulou o corguinho. Isso não existe...
E eu só escutei mais ou menos até aqui, porque começou uma correria no shopping. Eu achei que poderia ser um rolezinho e por isso piquei a mula, rapidinho.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
Eu voltei, rá, rá, rá
Voltei. Depois de duas semanas em São Paulo, voltei para a capital brasileira. Nada mudou. Aqui continua chovendo todos os dias, os preparativos para a copa ainda não recuperaram o atraso e a inflação está chutando a porta de bicuda. Mas em casa estamos todos ótimos, com boa saúde e de humor renovado para encarar a pauleira de 2014. No ano passado o bicho pegou, mas a coisa pega pra valer, você sabe, é em ano de eleição. Voltei primeiro para o FB, com comentários em posts diversos. Como sempre acontece, alguém ficou bravo comigo e tratou logo de me chamar de militante direitista. Bom, direita é quem está ao lado da situação, o que não é o meu caso. Politicamente, sou um torcedor sentado. Nessa posição, obviamente não posso ser um esquerdista de quatro enquanto lambo as maçanetas dos poderosos. Torço pela liberdade, justiça e pela oportunidade de estar vivo para ver mais criminosos corruptos serem julgados de acordo com o devido processo legal e amargarem uma cana. É difícil, mas graças ao Barbosa isso ainda acontece nessas paragens. Força, Barbosão! Se não fosse pelo Meritíssimo, e algumas pouquíssimas exceções, o país já teria chafurdado de vez.
Minhas Férias - Fui para São Paulo com a minha família. Comecei por Ubatuba, tradicional balneário paulista. Fiz aquela descida de oito quilômetros de curvas em sessenta graus, a melhor e mais emocionante montanha-russa do planeta. Os engenheiros que construíram aquela estrada deveriam entrar para o livro dos recordes. Aliás, na semana passada todos os recordes do livro foram batidos de uma vez só por um brasileiro. No liquidificador. Ficamos hospedados em casa modesta, alugada pela família. Não importa, as crianças só queriam saber de praia e durante quatro dias praia foi o que tiveram. As praias de Ubatuba, para quem não sabe, ficam numa espécie de condomínio-reserva-ecológica. Isso significa que você tem que pagar para deixar o carro estacionado numa descida esburacada ou estará sujeito a reboque. O restante da infra-estrutura é igual ao das praias chiques da Espanha. Estou brincando, é claro. Não há infra-estrutura, o que significa problema sério se você precisar ir ao banheiro para números maior do que um. As praias paulistas estão cheias de gente bonita. Mas não encontrei mais do que duas ou três dessas pessoas. Em compensação, todo mundo era como eu: fora de forma, meio mole e precisando eliminar a barriga. A inflação na praia paulista é galopante. Tinha água de coco a seis reais no primeiro dia. Subiu para sete no segundo e oito no terceiro. No quarto dia eu levei uma coca comprada no super. Mas tem pastel. Foi a primeira vez que comi pastel na praia. Gostei e recomendo. Tinha uma barraca que oferecia 40 tipos de pastel. Fiquei com o clássico "de carne" porque é melhor não arriscar muito nessas horas. Sabe como é o ditado, maionese só se come em casa. Também tinha pamonha, queijo coalho, milho cozido, salsicha no espeto, churrasquinho, churros e picolés variados. No último dia experimentei de tudo, até o picolé de marca alternativa. Dei sorte novamente.
Foi no segundo dia que eu perdi os óculos. Eu não amava o meu par de óculos. Mas eram meus há pelo menos cinco anos e ainda mandavam bem. Uma única onda furtiva numa manhã especialmente sem ondas se aproveitou do descuido e derrubou o meu primeiro par de multifocais. Desisti de procurar depois de meia hora. A água não estava muito transparente e eu havia levado um óculos reserva. Sempre levo um óculos reserva e ele passa as férias trancado numa mala, mas desta vez, por mais sorte ainda, eu havia deixado o óculos no carro. Vou até a descida esburacada onde está o carro mas não o encontrei. Eu tremi um pouco até sacar que não estava na descida esburacada certa. Depois que encontrei o carro mesmo sem enxergar quase nada fiquei feliz porque só machuquei um dos pés. A vida prosseguiu normalmente. O único problema é que os óculos são velhos, escuros e pequenos. Fico parecido com um traficante analfabeto, não consigo ler patavinas e os fãs de marijuana ficam acendendo cigarros perto de mim. Minha mulher acha que eu estou exagerando e vamos andar pela praia. Ela só começa a entender o meu ponto de vista depois que o décimo rapazola pergunta se eu tenho fogo.
_Não, meu irmão, eu não tenho - e é verdade, não ando com isqueiros há dez anos.
Em seguida aos dias na praia fomos para Taubaté. É uma bela cidade, mas não deu pra ver muita coisa com os meus óculos escuros. A rapaziada continuava a me pedir fogo. Fazia um calor horrendo e, logo em seguida, chovia a cântaros. Choveu granizo durante os quatro dias em que estivemos lá. Numa das vezes, as pedras de gelo quebraram diversas telhas da casa onde estávamos hospedados. Para espairecer, fizemos uma visita relâmpago a S.J. dos Campos. Compramos chocolate e voltamos. No caminho vimos a famosa fábrica de facas artesanais ao lado da estrada, mas estava fechada. Então paramos num local onde havia um laguinho artificial cheio de patos e peixes. Ficamos alimentando peixes e patos até as crianças enjoarem. Na véspera de ir embora, meus óculos novos transparentes ficaram prontos. A rapaziada parou de pedir fogo, ufa.
Partimos para São Paulo, capital, numa bela manhã de sol. O GPS funcionou direitinho e encontramos o hotel sem muita dificuldade, bem no centro da cidade, pertinho da Praça da República, a dois quarteirões do metrô. Maravilha. Achei o centro meio pichado, um cheiro meio ruim, mas tudo bem. Só que não. Depois de um passeio prolongado, voltamos de táxi ao hotel à noitinha. Foi então que eu vi a multidão de noiados da Cracolândia, parecia um episódio de Walking Dead com os "walkers" mais nutridos e rápidos. É lógico que disfarcei o medo conversando com o taxista, perguntando se ele se sentia seguro andando por ali à noite.
_Eu não ando por aqui à noite. Eu só passo por aqui quando tem rádio de hotel conhecido. Depois das nove eu não venho por aqui. Não tem ninguém.
_E esse monte de gente?
_Encrenca. Eu não paro.
Naquela noite eu descobri que a Cracolândia não se resume a dois, três ou quatro quarteirões de São Paulo. O que chamam de Cracolândia compreende mais de 27 bairros próximos da região central e no centro da capital paulista. Sorte minha e nossa, novamente. Restringimos os passeios pela cidade e adotamos o toque de recolher voluntário da maioria das famílias da cidade. E aí prosseguimos com a programação, sem maiores incidentes. Valeu a pena? Bom, digamos que não faria tudo do mesmo jeito novamente nem a pau, Juvenal.
segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
Refazendo Dobbie e outros devaneios
Arctic Monkeys - Reckless Serenade
É começo de ano e existe uma longa, bem longa, lista de coisas a fazer. Mas comecei ainda no ano passado. A primeira foi refazer a cabeça de Dobbie com a resina plástica que não seca. Só me custou uns dez minutos e lá estava Dobbie refeito. Ficou parecido. À distância, com boa vontade. Fechando um dos olhos. Com muita boa vontade. Mas foi ótimo para devanear. Sempre penso em Alexander Calder quando estou mexendo com a resina plástica que não seca. Ele inventou o móbile e aquelas esculturas metálicas pesadíssimas que parecem leves e frágeis feito papel. Só que não. Em Chicago, na frente do edifício IBM, lá estava uma delas, um troço imponente e vermelho, uma forma tão intraduzível e incompreensível para mim quanto uma coreografia de balé. Sempre devaneio quando desenho, brinco de carpinteiro ou me meto a consertar coisas que não sei consertar. Mas neste ano, lá está na terceira posição, eu me comprometi a devanear menos. Não devanearás, eu escrevi. Então eu trato de não devanear.
Está quase tudo pronto para a grande viagem, está quase tudo pronto. Revisão. Checagem. Plano e roteiro. Vamos improvisar, improvisar e abusar da hospitalidade alheia. E, talvez, quem sabe, curtir uma praia lá mesmo, em Ubachuva.
sábado, 4 de janeiro de 2014
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
Revisão para viagem
Este ano fugirei do caos dos aeroportos. Vou viajar de carro e curtir o caos rodoviário. Sai mais em conta.
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
Não contem com a minha solidariedade
Cansei das tragédias das chuvas. Todo ano se repetem. As causas são bem conhecidas. Deslizamentos e enchentes, sempre nos mesmos locais, por falta de ação do poder público e também por ignorância, comodismo e idiotice das pessoas que mesmo sabendo que nada foi feito como trabalho preventivo continuam em áreas de risco(morros e margens de rios) e votando nos mesmos mentirosos que dizem que vão fazer alguma coisa e não fazem nada. Cansei dos programas de TV, dos jornais, do tom de voz dos apresentadores nos programas. Em todos eles, há um reboliço para encontrar um jeito de isentar as autoridades de qualquer responsabilidade, de clamar por solidariedade para quem não arreda pé da zona de risco e transforma a sua vida e a da sua família em moeda eleitoral encurralada.
Isso existe em todo canto. O mané que se curva e se deixa empalar para conseguir um pretenso benefício(uma obra de contenção jamais realizada na beira de um rio ou na encosta de um morro). Não vai rolar, amigo. Não vai rolar, minha amiga. Está tudo lá no Mark Twain, no conto sobre os elefantes que sumiram do circo e da criação do departamento de procura aos elefantes que sumiram. Nossos burocratas são especialistas em perpetuação e multiplicação de programas para abrigar mais burocratas. Também não me esqueci do que fizeram com a minha solidariedade nos anos anteriores, quando todos nós ficamos sabendo do desvio de doações, da bandalheira, da estocagem e venda de doações, e do desperdício e do obsceno despejo de roupas e alimentos em meio à lama de deslizamentos.
Doei, mas agora a minha solidariedade não vai muito além do meu portão, onde vejo o rosto e posso sentir de perto e ao vivo a gratidão de quem não tem outra alternativa a não ser pedir ajuda. É pouco, está bem abaixo no radar das solidariedades com o próximo e nem sequer possui um programa específico em rede nacional. Não rende sequer um minuto de assunto nas conversas de fim de ano, mas é só o que posso fazer no momento. Cansei da solidariedade em rede, não quero saber quantas toneladas de doações estão sendo reunidas nos últimos dias. Para mim, (sim, é uma reação pessoal), isso apenas prova que estamos longe de conseguir colocar no poder representantes que conseguem implantar soluções para problemas crônicos. Estamos longe disso. O melhor que conseguimos ainda é o histórico e histriônico "ele rouba, mas faz". Nos últimos anos, com o mensalão, houve uma retração. O padrão passou para "ele não sabe de nada", o que é uma grande verdade, os caras não sabem ser honestos e não conhecem a expressão "ter vergonha na cara".
Pois é. Cansei dessa choramingação anual e me recuso a fazer parte do coro do falso luto das carpideiras em rede. Estou fora.
Isso existe em todo canto. O mané que se curva e se deixa empalar para conseguir um pretenso benefício(uma obra de contenção jamais realizada na beira de um rio ou na encosta de um morro). Não vai rolar, amigo. Não vai rolar, minha amiga. Está tudo lá no Mark Twain, no conto sobre os elefantes que sumiram do circo e da criação do departamento de procura aos elefantes que sumiram. Nossos burocratas são especialistas em perpetuação e multiplicação de programas para abrigar mais burocratas. Também não me esqueci do que fizeram com a minha solidariedade nos anos anteriores, quando todos nós ficamos sabendo do desvio de doações, da bandalheira, da estocagem e venda de doações, e do desperdício e do obsceno despejo de roupas e alimentos em meio à lama de deslizamentos.
Doei, mas agora a minha solidariedade não vai muito além do meu portão, onde vejo o rosto e posso sentir de perto e ao vivo a gratidão de quem não tem outra alternativa a não ser pedir ajuda. É pouco, está bem abaixo no radar das solidariedades com o próximo e nem sequer possui um programa específico em rede nacional. Não rende sequer um minuto de assunto nas conversas de fim de ano, mas é só o que posso fazer no momento. Cansei da solidariedade em rede, não quero saber quantas toneladas de doações estão sendo reunidas nos últimos dias. Para mim, (sim, é uma reação pessoal), isso apenas prova que estamos longe de conseguir colocar no poder representantes que conseguem implantar soluções para problemas crônicos. Estamos longe disso. O melhor que conseguimos ainda é o histórico e histriônico "ele rouba, mas faz". Nos últimos anos, com o mensalão, houve uma retração. O padrão passou para "ele não sabe de nada", o que é uma grande verdade, os caras não sabem ser honestos e não conhecem a expressão "ter vergonha na cara".
Pois é. Cansei dessa choramingação anual e me recuso a fazer parte do coro do falso luto das carpideiras em rede. Estou fora.
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
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