quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Porcada


Muitas pessoas dizem que aprendem com seus erros e insucessos. Eu mesmo sou desse jeito, vivo falando que errar é humano, logo sou um jerico fracassado. Erro um bocado. Dou com os burros n´água. Digo besteira, dou mancada. E aí, se a minha mulher me der uma dica ou um beliscão, sou capaz de perceber onde é que dei um fora e aprender com isso. O difícil é me lembrar, mas eu aprendo. É um exercício diário, ou quase, pois é raro o dia em que coloco a cabeça no travesseiro e não dou uma pancada na testa ao lembrar de uma trapalhada que fiz no final da manhã, no meio da tarde, ou ainda pouco antes de escovar os dentes. Nessa hora, minha mulher se virava compreensiva e me perguntava se por acaso eu não teria nenhuma novidade para contar. Isso mudou um pouco desde que comecei este blog porque agora ela reclama que tudo o que a gente conversa acaba parando na "porcaria do caminho". Mas, em geral, digo que não tenho. Nunca fui de facilitar as coisas, é um erro, eu sei, mas digo para mim mesmo que é só uma característica pitoresca da minha personalidade.

_Ah, qualé? Vai fazer C.D. e não me contar?

_C.D.? Que diabos é C.D.? - eu disse.

_Careca, você tem um blog família, lembra? Não dá para falar todas as siglas.

_C.D. é o mesmo que ânus açucarado?

_Você pode escrever ânus no seu blog?

_Posso, é claro. Posso até descrever um, se eu quiser.

_Ugh!

_Por quê essa cara? Todo mundo tem ânus, oras.

_Mas só você quer escrever sobre isso. Pare. Estou mudando de assunto. Diga lá, qual foi a mancada de hoje? - ela disse.

_Nada demais, nada demais.

_Estou esperando, desembucha logo.

_Não vou dizer. Todo mundo comete erros, sabia? Veja o Filipão, por exemplo. Ele afundou a seleção de Portugal, não foi? Depois deu um empurrãozinho no Palmeiras para a segundona, não é? Pois olha ele lá, na Seleção. Porque todo mundo sabe que agora, depois de errar tanto, ele só poderá acertar, não é mesmo? E o Parreirão? Vem colecionando fracassos sucessivos, naufragou a África do Sul e agora vai ajudar o Filipão, quer dizer, dois errados fazem um acerto, correto?

_Nem aqui, nem na China. E o que isso tem a ver com a sua carecada do dia?

_É assim que você chama? Carecada?

_Às vezes eu também penso em descabelada do dia, mas tenho que estar de bom humor.

_Não foi nada, não foi nada. É que eu me lembrei de um cacófato que eu vivia cometendo, sem querer.

_Qual?

_Porcada. Antigamente, quando eu era redator, eu costumava ter muita coisa para escrever e tinha que ser muito rápido. Às vezes eu simplesmente não conseguia me livrar desse cacófato no texto e tinha que entregar logo o texto para o locutor. Nessas horas, eu costumava orientar o locutor a falar bem pausado, para disfarçar o cacófato, mas não tinha jeito, ficava porcada. Uma vez, o chefe de redação, que era uma besta idiota, entrou no estúdio e arrancou a nota do locutor. Ele transformou a nota num quadrinho e grudou no quadro de avisos da redação, como alerta para os redatores não repetirem o cacófato.

_Que sujeito grosseiro! E o que você fez?

_Ele não era tão mau. E depois daquilo eu passei a me vigiar melhor. Aprendi com o erro, sabe? Nunca mais escrevi uma nota com "por cada".

_Acho que você inventou essa história só para não me contar a sua carecada do dia.

_Caramba, se eu ganhasse um real por cada vez que...

_Ahá!







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