quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ganhamos um hamster


A família será aumentada até a próxima segunda-feira com a chegada de um novo membro, um hamster que meu filho ganhou num sorteio na escola. No quarto ano, os alunos escolhem um animal de estimação para a sala e passam dois semestres a cuidar do bicho. A turma do meu filho escolheu um hamster, que acreditavam ser um legítimo representante do sexo masculino e por isso devidamente batizado com um nome de homem, Juscelino, uma singela homenagem ao presidente que inventou Brasília. No meio do ano, alguma coisa aconteceu e descobriu-se que Juscelino não era o que aparentava, era fêmea e estava prenha. As crianças não hesitaram, mudaram o nome do hamster para Sara, numa bela homenagem à mulher do presidente que inventou Brasília. Logo, logo, Sara pariu sete hamsterzinhos. Mas alguém se esqueceu de dar comida para Sara, que teve depressão pós parto e desenvolveu uma agressividade canibal faminta sobre os filhotes que foram sendo mutilados e reduzidos em número até a decisão do sorteio do sobrevivente, que aconteceu hoje.

Na reunião de segunda-feira, só depois é que me lembrei, a professorinha falou alguma coisa sobre enviar mensagem por e-mail quem não quisesse ficar com o hamster. Pelo menos metade dos presentes deixaram claro que não eram contrários a ficar com animais de estimação, mas hamsters estavam fora de cogitação. Eu não tenho desculpa, esqueci total de mandar o e-mail.

Por isso não fiquei surpreso quando o meu filho me contou como foi o sorteio.

_Pai, eu tive uma sorte danada, você nem imagina. Pra começar, duas meninas tiraram o hamster, mas as mães delas não deixaram. Depois a professora tirou o Rogério, mas ele já vai cuidar da Sara durante as férias, então não valeu. Aí a professora tirou outra menina, pai, mas a mãe dela também não deixava então a professora teve que fazer um outro sorteio, imagina. Aí, quando eu já estava desistindo, a professora disse que dessa vez tinha tirado um me-ni-no e toda a galera da sala ficou vibrando, uuuuuuuhhhhh. E depois a professora falou que o menino sorteado tinha cabelo comprido e eu, nossa, será que é verdade? Será que sou eu? Mas tem um monte de menino cabeludo na sala e a gente berrou muito, pai. E por último ela disse que tinha sido eu, nossa, eu nem acreditei. Será que eu posso ficar com ele, pai?

Eu disse sim, é claro.

_Mas antes de comemorar, confira com a sua mãe se não há nenhum problema. Se ela concordar, existem algumas condições. Você será responsável pelo hamster. Eu não vou limpar gaiola, não vou alimentá-lo e nem verificar se ele está com água suficiente ou se está se exercitando. Sua mãe e a Rose também não vão fazer isso. Cuidar dele será sua obrigação. Já cuidamos do Rafa e da Beta, não vamos cuidar de outro bicho. Outra coisa: o Rafa come hamsters, então tome cuidado com ele. Ele vai sentir o cheiro do hamster e ficar de tocaia. Se você se descuidar, ele vai caçar o ratinho. E os hamsters são frágeis, se você ficar pegando muito ele vai morrer depressa. Então, se a sua mãe deixar e se você concordar com isso, o hamster será bem-vindo.

E quando minha mulher chegou do trabalho, o menino foi correndo perguntar se havia algum problema.

_Você está brincando, não é? É brincadeira. Ninguém ganhou hamster nenhum.

_É sério, mãe.

_Tá, sei. Boa piada. E seu pai e sua irmã estão nessa com você.

_Não é brincadeira, mãe, eu ganhei no sorteio.

E então ele contou novamente como foi a coisa, dessa vez com mais interjeições e caretas.

Minha mulher deixou, mas fez uma proposta oblíqua para que o hamster ficasse com a gente por apenas três meses. Depois desse período o bicho seria doado para a turma da minha filha, que também tinha um hamster, mas o coitado não conseguiu sobreviver. O menino resistiu fortemente à idéia. E já escolheu o nome do hamster. Se for "homem", vai se chamar Filé.



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