_Nesse universo paralelo, eu digo para a minha filha, as feias é que eram bonitas. Todo mundo era lindão, corpo sarado, ninguém tinha celulite, ruga, nariz torto, orelhão de abano. Só os feios. Eles é que apareciam nas capas de revistas, nos comerciais de televisão, nos out-doors, nas filipetas e nos banners dos anúncios na internet. Elas, as feiosas horrorosas, venciam os concursos de feiúra e viravam estrelas de cinema, lançavam penteados, roupas e perfumes da moda. As mulheres mais feias do mundo faziam muito sucesso, os homens se matavam por causa delas, guerras heróicas eram travadas. E as mulheres lindas e belas de todo o planeta queriam ser como elas, as feiosas mais feias do mundo. Pagavam fortunas para os cirurgiões plásticos enfeiarem elas um pouquinho, entortar um nariz, aumentar uma orelha, faziam dietas incríveis para ganhar peso e conquistar algum tipo de flacidez, ficavam meses sem fazer exercícios, na maior preguiça e sedentarismo do mundo. Era incrível. Mas todo mundo queria ser feio desde pequeno. E não era fácil ser feio. Primeiro porque ninguém perdoava a feiúra alheia.
_Fulana nasceu com o bumbum virado pra lua! Ela é feia, rica e feliz - diziam as invejosas.
_E o marido também é horroroso! - dizia a invejosa mais invejosa de todas.
_Pai, paiê! - disse a minha filha, interrompendo a minha história da feiúra.
_Pode falar - eu disse.
_Pai, eu estou com sono. E já sou grande. Não precisa mais de história para dormir.
_Nesse universo paralelo, os filhos é que contavam histórias para os pais...
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