sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O último presente

Acho que todo mundo passa por isso. O último e mais difícil presente de Natal da lista tem de ser o de alguma pessoa querida, que você se preocupa à beça em agradar, mas nem sempre consegue. É aquela pessoa que, por mais que você tente se manter firme, é capaz de abalar a sua segurança. Ela sabe onde atingir o seu amor próprio no lugar onde ele é mais sensível porque te conhece bem demais. Talvez mais do que você mesmo. Na minha lista, essa pessoa é a minha mãe. Só falta o presente dela e hoje quase que encontramos. Mas no último instante eu percebi um pequeno defeito no acabamento da peça escolhida e desisti da compra a tempo. Eu simplesmente sabia que aquele pequeno defeito seria observado de imediato por minha mãe. Ela disfarça muito bem, não deixaria isso transparecer, não faria nenhum comentário. Ela sorriria, elogiaria a escolha, seria superbacana e carinhosa e agiria como se nada de ruim tivesse acontecido, pelo contrário. Só que não. Eu também a conheço muito bem e de algum modo saberia que ela havia encontrado um defeito. Na minha cabeça, isso a deixaria triste consigo mesma porque eu teria, por displicência, adquirido uma peça com defeito. Sim, é complicado. Mas todo mundo sabe que os pais muitas vezes se culpam pelos erros dos filhos, ou exageram suas virtudes, ou superestimam suas qualidades e sublevam seus defeitos. Ou o contrário de tudo isso. Na verdade, é um pouco de tudo, não existem regras quanto a isso, apenas um monte interminável de tipos e combinações possíveis. Mas eu sou supersticioso, e procuro evitar que algumas coisas ruins que eu imagino efetivamente aconteçam.



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