segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

É Natal

Ping. Ping. Ping. O dia começou com goteira nova aqui em casa. E justo sobre o armário de roupas da minha mulher, um lugar injustíssimo para goteiras. Subi no sótão e ali estava ela, a origem da goteira. Um joelho no encanamento, um pequeno gotejamento. Corri para buscar minhas tralhas de encanador amador. Aqui em casa eu sou jardineiro amador, encanador amador, carpinteiro amador, eletricista amador, tudo amador. Amo que é uma beleza e realmente adoro consertar as coisas eu mesmo. E só desisto de tentar quando o estrago já está muito grande. Desta vez não foi muito diferente. Afinal, era apenas um pequeno gotejamento. Mas dez minutos depois a pequena fissura no joelho do encanamento se transformou numa fissura coberta com fita veda rosca. E uma hora mais tarde, quando o bombeiro profissional chegou, ele ficou embasbacado ao observar uma bola gotejante de fita veda rosca no encanamento. Em dez minutos ele serrou o cano e substituiu a parte estragada.

_Posso levar isso aqui? - ele disse, apontando para a enorme bola de fita veda rosca com um cano atravessado, no canto do sótão.

_Não. Eu vou transformar essa maçaroca numa bola de verdade. Se eu conseguir mais umas fita isolantes, posso criar a minha própria bola de boliche caseira - eu disse.

_Nunca vi um remendo tão grande - ele disse.

_Eu tenho mania de grandeza. Mas não foi proposital. No início parecia que tudo terminaria rapidamente e que apenas mais uma volta seria o suficiente para conter o vazamento. Mas de repente parece que o joelho se esfarelou e o vazamento ficou realmente grande. E o pior é que eu nem podia descer para desligar o registro, pois o teto ficaria inundado. Eu só podia continuar enrolando, enrolando e enrolando para diminuir o vazamento e ganhar tempo. Antes de você chegar eu já havia descido com cinco baldes cheios. Bom, águas passadas. O serviço ficou em 90?

_Fica por 80 se me deixar levar o remendo - ele disse.

_De jeito nenhum - eu disse.

_70 e eu levo a bolota de fita veda-rosca - ele disse.

_Não, senhor, não está à venda - eu disse.

_60, é a minha última oferta - ele disse.

Caramba, 30 pratas por um pedaço de lixo, eu pensei. Mas depois eu imaginei o bombeiro chegando em casa, ou voltando para a oficina com aquele tosco remendo que eu demorei metade da manhã para fazer e simplesmente rindo do meu esforço e da minha incompetência. Prevaleceu o amor-próprio. Paguei os 90.

Depois que o sujeito foi embora eu me arrependi. Que bobagem, poderia ter economizado trinta pratas. É Natal. É tempo dos homens de boa vontade. E que importância tem se o bombeiro risse da minha ridícula bola de fita de pvc? E se ele estivesse agora mesmo rindo de mim por ter recusado um desconto de 30 pratas num pedaço de cano estragado? Jamais saberei. Não é assim também com o Natal?

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