O governador em exercício que não teve nenhum voto decidiu que um estádio de 700 milhões de reais, com capacidade para 70 mil pessoas, deverá ser construído.
A capital do país possui um atendimento médico deficiente: a rede pública não dá conta da demanda e a rede particular se esbalda em preços exorbitantes. Para complicar, os aprovados em concursos públicos para os hospitais não assumem as vagas porque sabem que encontrarão péssimas condições de trabalho. Falta de tudo porque o gerenciamento é feito nas coxas, para que só seja possível comprar e contratar emergencialmente, evitando as complicações da lei de licitações.
Quem tem plano de saúde paga uma nota preta todo mês mas não consegue se ver livre das filas. Quem precisa e pode, na hora do aperto se manda para São Paulo.
A capital do país tem uma enorme rede pública de ensino. Mas quem tem um mínimo de juízo matricula as crianças em caríssimas escolas particulares. Para curso superior, todo mundo quer mesmo é mandar os filhos estudar na América ou Europa.
A capital do país também é a capital mundial dos policiais nos quartéis. Milhares de PMs passam nos concorridíssimos concursos, mas são inaptos para o trabalho nas ruas. Eles passam o dia cuidando de papéis. A bandidagem se esbalda.
Toda a grana para os gastos com saúde, educação e segurança no Distrito Federal vem dos cofres da União.
O dinheiro dos gordos impostos pagos pelos brasilienses poderiam ser investidos inteiramente em infraestrutura. Mas temos um metrô que não atende a 10% da população, um transporte público caro e ineficiente, e milhares e milhares de carros nas ruas de Brasília. Não existe estacionamento para tanto carro e de vez em quando o governador que não teve nenhum voto resolve mostrar serviço. Daí ele tira um monte de PMs dos quartéis e coloca para guinchar carros e aplicar multas.
As obras de infraestrutura demoram anos a serem concluídas. Quando o governador que foi preso ainda governava, uma pista de menos de dois quilômetros demorou 16 meses para ser asfaltada. A pista passa em frente a um dos maiores shoppings da cidade. Não é área residencial. E poderia ter sido feita em muito, muito menos tempo. O atual governador, que não teve nenhum voto, também é um campeão em longevidade operística. Um trecho da ligação BSB-Taguatinga deve completar os 24 meses de espera por conclusão sob a sua batuta, que começou em março.
Essa é a capital do país. Não tenho nenhum candidato ao governo local. Acho que a representação política local não está fazendo jus aos enormes gastos que temos para sustentá-la.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Vote bem II
Recebi um monte de e-mails de gente achando o meu último post muito ingênuo.
Outros disseram que foi meio besta, mesmo.
Teve um monte de sujeitos dizendo que político é tudo igual, tudo farinha do mesmo saco.
Outros disseram que todo o sistema está falido e não vale a pena desperdiçar tempo com isso.
Alto lá.
Não é tudo igual. Tem gente boa e séria.
Ou pelo menos gente que não é escandalosamente inabilitada e desonesta.
E eu vou votar em algumas dessas pessoas com "h": habilitadas e honestas.
O sistema está capenga, mas se eu virar as costas e dar de ombros será pior para mim e para os que me cercam.
Todo mundo sabe da história do papagaio que tentava combater um incêndio levando água no bico. Os outros papagaios ficavam caçoando dele. Faziam corinhos escrotos.
_En-char-ca! En-char-ca!
Outros já tratavam logo de fugir.
_Dá no pé, lôro! Abra suas asas, solte suas feras!
E o danado do papagaio ali, firme, levando água no bico.
Ele morreu queimado, mas não deixou de fazer o que achava que era certo. E é por isso, por essa moral, que se conta a história do papagaio.
Às vezes eu me sinto bem papagaio.
Outros disseram que foi meio besta, mesmo.
Teve um monte de sujeitos dizendo que político é tudo igual, tudo farinha do mesmo saco.
Outros disseram que todo o sistema está falido e não vale a pena desperdiçar tempo com isso.
Alto lá.
Não é tudo igual. Tem gente boa e séria.
Ou pelo menos gente que não é escandalosamente inabilitada e desonesta.
E eu vou votar em algumas dessas pessoas com "h": habilitadas e honestas.
O sistema está capenga, mas se eu virar as costas e dar de ombros será pior para mim e para os que me cercam.
Todo mundo sabe da história do papagaio que tentava combater um incêndio levando água no bico. Os outros papagaios ficavam caçoando dele. Faziam corinhos escrotos.
_En-char-ca! En-char-ca!
Outros já tratavam logo de fugir.
_Dá no pé, lôro! Abra suas asas, solte suas feras!
E o danado do papagaio ali, firme, levando água no bico.
Ele morreu queimado, mas não deixou de fazer o que achava que era certo. E é por isso, por essa moral, que se conta a história do papagaio.
Às vezes eu me sinto bem papagaio.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Vote bem
Faço votos para que você vote bem.
Para que vote em quem você realmente acredita que o representa.
Em quem você tem certeza que lê as coisas antes de assinar.
Em quem você sabe que não esconde dinheiro na meia, em envelopes pardos e gavetas.
E eu torço para que essa pessoa para quem você empresta a sua própria voz seja digna.
Eu torço para que ela seja mesmo a sua voz, opinião e palavra.
E que neste exercício ela proteja a sua liberdade como se fosse a própria.
E que seja forte e firme em suas decisões e em respeito às leis.
E que te deixe orgulhoso de ser por essa pessoa representado.
Para que vote em quem você realmente acredita que o representa.
Em quem você tem certeza que lê as coisas antes de assinar.
Em quem você sabe que não esconde dinheiro na meia, em envelopes pardos e gavetas.
E eu torço para que essa pessoa para quem você empresta a sua própria voz seja digna.
Eu torço para que ela seja mesmo a sua voz, opinião e palavra.
E que neste exercício ela proteja a sua liberdade como se fosse a própria.
E que seja forte e firme em suas decisões e em respeito às leis.
E que te deixe orgulhoso de ser por essa pessoa representado.
Trombone Shorty EPK from randyforeman on Vimeo.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Manifesto em defesa da democracia
O Manifesto estará sendo lançado nesta quarta-feira, dia 22, às 12 horas, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo.
"SE LIGA BRASIL"
"MANIFESTO EM DEFESA DA DEMOCRACIA
Em uma democracia, nenhum dos Poderes é soberano.
Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e alma à soberania do povo.
Acima dos políticos estão as instituições, pilares do regime democrático. Hoje, no Brasil, os inconformados com a democracia representativa se organizam no governo para solapar o regime democrático.
É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais.
É inaceitável que a militância partidária tenha convertido os órgãos da administração direta, empresas estatais e fundos de pensão em centros de produção de dossiês contra adversários políticos.
É lamentável que o Presidente esconda no governo que vemos o governo que não vemos, no qual as relações de compadrio e da fisiologia, quando não escandalosamente familiares, arbitram os altos interesses do país, negando-se a qualquer controle.
É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em fingir honestidade.
É constrangedor que o Presidente da República não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas vinte e quatro horas do dia. Não há "depois do expediente" para um Chefe de Estado. É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura. Ele não vê no "outro" um adversário que deve ser vencido segundo regras da Democracia , mas um inimigo que tem de ser eliminado.
É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses.
É repugnante que essa mesma máquina oficial de publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da estabilidade econômica e política, com o fim da inflação, a democratização do crédito, a expansão da telefonia e outras transformações que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.
É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de encabrestar o Senado. É um escárnio que o mesmo Presidente lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário.
Cumpre-nos, pois, combater essa visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe conferem licença para rasgar a Constituição e as leis. Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las.
É preciso brecar essa marcha para o autoritarismo.
Brasileiros erguem sua voz em defesa da Constituição, das instituições e da legalidade.
Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos.
manifestoemdefesadademocracia@gmail.com
"SE LIGA BRASIL"
"MANIFESTO EM DEFESA DA DEMOCRACIA
Em uma democracia, nenhum dos Poderes é soberano.
Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e alma à soberania do povo.
Acima dos políticos estão as instituições, pilares do regime democrático. Hoje, no Brasil, os inconformados com a democracia representativa se organizam no governo para solapar o regime democrático.
É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais.
É inaceitável que a militância partidária tenha convertido os órgãos da administração direta, empresas estatais e fundos de pensão em centros de produção de dossiês contra adversários políticos.
É lamentável que o Presidente esconda no governo que vemos o governo que não vemos, no qual as relações de compadrio e da fisiologia, quando não escandalosamente familiares, arbitram os altos interesses do país, negando-se a qualquer controle.
É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em fingir honestidade.
É constrangedor que o Presidente da República não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas vinte e quatro horas do dia. Não há "depois do expediente" para um Chefe de Estado. É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura. Ele não vê no "outro" um adversário que deve ser vencido segundo regras da Democracia , mas um inimigo que tem de ser eliminado.
É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses.
É repugnante que essa mesma máquina oficial de publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da estabilidade econômica e política, com o fim da inflação, a democratização do crédito, a expansão da telefonia e outras transformações que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.
É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de encabrestar o Senado. É um escárnio que o mesmo Presidente lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário.
Cumpre-nos, pois, combater essa visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe conferem licença para rasgar a Constituição e as leis. Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las.
É preciso brecar essa marcha para o autoritarismo.
Brasileiros erguem sua voz em defesa da Constituição, das instituições e da legalidade.
Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos.
manifestoemdefesadademocracia@gmail.com
domingo, 19 de setembro de 2010
Caraca!Caraca!
O sujeito chegou no trabalho, abriu a gaveta e encontrou um envelope. Pardo. Abriu com cuidado. Uma conta salgada. Brutal.
_Caraca!Que conta é essa? Vem cá, isso aqui é meu mesmo?
_Pssst, fica quieto.
_Caraca!Que conta é essa? Vem cá, isso aqui é meu mesmo?
_Pssst, fica quieto.
sábado, 18 de setembro de 2010
Ainda temos reserva moral?
Talvez ela esteja aqui.
http://www.youtube.com/watch?v=Sy2b0m89ZQk&feature=player_embedded
http://www.youtube.com/watch?v=Sy2b0m89ZQk&feature=player_embedded
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Música do dia
A Casa
Era uma casa muito engraçada
Não tinha teto, não tinha nada
Ninguém podia entrar nela, não
Porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
Porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
na rua dos bobos numero zero
Vinicius de Moraes
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
terça-feira, 14 de setembro de 2010
O Careca um dia muda
Dois grandes amigos, o Bob e o Rodrigo Alarrádel, mandaram mensagens para dizer que se mudaram. As mensagens nem chegaram juntas, apenas chegaram no mesmo dia. O Alarrádel é solteiro e se mudou para um dos bairros nobres de Brasília. O Bob é casado e indicou o novo endereço em São Paulo, num bairro super-chique.
Também tenho sentido vontade de mudar de endereço. A última mudança foi há uns dez anos, quando eu e a minha mulher mudamos para o apartamento atual. Éramos uma família pequena, naquela época. Só o casal e uma primavera enorme, plantada num vaso gigantesco, que o Cabeça não quis mais e deu de presente pra gente. Hoje é diferente. Tivemos que nos livrar da primavera, porque as crianças nasceram e precisavam de mais espaço. Hoje elas estão maiores e precisam de ainda mais espaço, mas quando falo em mudança, as crianças desconversam.
_Hablas espanhol? - diz o meu filho, de sete anos, espremendo graça.
_Que passa? - pergunta a minha filha, entrando de cabeça na piada.
_Filhotes, falando sério, vocês gostariam de morar num outro lugar?
_Hasta la vista, baby - diz o meu filho, aparentemente esgotando o vocabulário em espanhol.
_Baby, baby, baby - canta a minha filha, em sua milionésima imitação do Justin Bieber.
Eu fico na minha, não insisto. Até porque não tenho paciência nem para o Justin Bieber original. Para me consolar, ás vezes penso que esse desejo de mudança é igual a um vírus forte que as crianças vão acabar pegando também. E por isso me ponho a sonhar acordado, pensando numa casa ampla, com quintal e cerca viva. Grama baixa, bem cuidada. Uma piscina, talvez. Rafa, o cachorrinho shi-tsu pulando feliz e saltitante pelo gramado. Eu, suado e queimado de sol, cortando a grama com um carrinho de mão. Eu pisando num doce enquanto corto a grama...
Também penso em algumas árvores frutíferas no quintal. Numa safra de jabuticabas. Numa safra de laranjas. Numa safra de mexericas. Goiabas. Manguinhas, quiçá? Também penso em caixas de marimbondos e em mim mesmo fugindo de um monte deles. E abelhas. Tenho horror a abelhas e marimbondos, fazer o quê?...
Mas não deixo esses pensamentos desagradáveis me dominarem. Na verdade, o desejo de mudança é altamente positivo e revigorante. Eu sonho com um monte de paredes para as minhas estantes e livros. Um quarto bacana para eu transformar em escritório. Um outro quarto bacana para eu transformar em oficina de marcenaria e aeromodelismo. Um outro quarto...tudo bem, as crianças e a minha mulher também vão se mudar para lá, então deixo pelo menos um quarto para os três, rá,rá,rá. E a sala, é claro, as crianças também poderão ficar por ali, desde que não mexam na estante, é claro.
_Crianças - eu tento novamente - vocês gostariam de ter um quarto de brinquedos quando formos morar num outro lugar?
_Esto es muy esquisito - diz o meu filho.
_Onde você está aprendendo espanhol? - eu pergunto.
_No DVD do Ben 10, pai.
_Sei, Você enjoou de ver em português e agora assiste em espanhol.
_É,paiê, e eu assisto a Barbie em espanhol - explica a minha filha.
_E em chinês também - diz o menino.
Olho para o lado e lá está minha mulher com o que parece ser um sorriso de apoio e solidariedade.
_E você, minha querida, também gostaria de um quarto só para você?
_Jo no compreendo - ela diz.
Eles vivem fazendo complô.
Também tenho sentido vontade de mudar de endereço. A última mudança foi há uns dez anos, quando eu e a minha mulher mudamos para o apartamento atual. Éramos uma família pequena, naquela época. Só o casal e uma primavera enorme, plantada num vaso gigantesco, que o Cabeça não quis mais e deu de presente pra gente. Hoje é diferente. Tivemos que nos livrar da primavera, porque as crianças nasceram e precisavam de mais espaço. Hoje elas estão maiores e precisam de ainda mais espaço, mas quando falo em mudança, as crianças desconversam.
_Hablas espanhol? - diz o meu filho, de sete anos, espremendo graça.
_Que passa? - pergunta a minha filha, entrando de cabeça na piada.
_Filhotes, falando sério, vocês gostariam de morar num outro lugar?
_Hasta la vista, baby - diz o meu filho, aparentemente esgotando o vocabulário em espanhol.
_Baby, baby, baby - canta a minha filha, em sua milionésima imitação do Justin Bieber.
Eu fico na minha, não insisto. Até porque não tenho paciência nem para o Justin Bieber original. Para me consolar, ás vezes penso que esse desejo de mudança é igual a um vírus forte que as crianças vão acabar pegando também. E por isso me ponho a sonhar acordado, pensando numa casa ampla, com quintal e cerca viva. Grama baixa, bem cuidada. Uma piscina, talvez. Rafa, o cachorrinho shi-tsu pulando feliz e saltitante pelo gramado. Eu, suado e queimado de sol, cortando a grama com um carrinho de mão. Eu pisando num doce enquanto corto a grama...
Também penso em algumas árvores frutíferas no quintal. Numa safra de jabuticabas. Numa safra de laranjas. Numa safra de mexericas. Goiabas. Manguinhas, quiçá? Também penso em caixas de marimbondos e em mim mesmo fugindo de um monte deles. E abelhas. Tenho horror a abelhas e marimbondos, fazer o quê?...
Mas não deixo esses pensamentos desagradáveis me dominarem. Na verdade, o desejo de mudança é altamente positivo e revigorante. Eu sonho com um monte de paredes para as minhas estantes e livros. Um quarto bacana para eu transformar em escritório. Um outro quarto bacana para eu transformar em oficina de marcenaria e aeromodelismo. Um outro quarto...tudo bem, as crianças e a minha mulher também vão se mudar para lá, então deixo pelo menos um quarto para os três, rá,rá,rá. E a sala, é claro, as crianças também poderão ficar por ali, desde que não mexam na estante, é claro.
_Crianças - eu tento novamente - vocês gostariam de ter um quarto de brinquedos quando formos morar num outro lugar?
_Esto es muy esquisito - diz o meu filho.
_Onde você está aprendendo espanhol? - eu pergunto.
_No DVD do Ben 10, pai.
_Sei, Você enjoou de ver em português e agora assiste em espanhol.
_É,paiê, e eu assisto a Barbie em espanhol - explica a minha filha.
_E em chinês também - diz o menino.
Olho para o lado e lá está minha mulher com o que parece ser um sorriso de apoio e solidariedade.
_E você, minha querida, também gostaria de um quarto só para você?
_Jo no compreendo - ela diz.
Eles vivem fazendo complô.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
A minha entrevista imaginária com a Franka
Eu vivo deixando comentário no blog da Franka, o Frankamente. E agora que ela começou um programa de entrevistas na Rádio USP eu comentei que ela poderia inovar e lançar um programa de entrevistas às avessas. Eu sou um comentarista de blog bem metido a besta. E foi com a maior empáfia que eu escrevi o meu comentário, depois que me deu um estalo. Ao invés de ser a entrevistadora de sempre com suas perguntas, eu sugeri para a Franka ser a entrevistada de sempre no seu próprio programa. E disse que ela deveria convidar os famosos que ela conhece. E todos eles e elas entrevistariam a Franka.
A Franka conhece um monte de gente famosa. Eu sei porque vivo lendo o blog dela. Por lá já desfilaram o Antônio Fagundes, a Irene Ravache, o Mário Prata, o Niltinho Bicudo, e também o ... bom, sei lá, minha memória é horrível, mas ela vive lendo peça de teatro e sendo lida por um monte de artista de novela, de teatro e de TV, só gente da elite do jet-set multimilionário da Avenida Paulista e adjacências.
Depois fiquei pensando que talvez fosse interessante se a Franka também fosse entrevistada por pessoas não-muito-famosas. Sim, porque o número de pessoas famosas é bem escasso, e num instante todos os famosos-mega-fabulosos já terão entrevistado a Franka e sobrariam somente os famosos-meio-xumbregas, aqueles caras que a gente vê na rua e não se anima a pedir autógrafo. Esses xumbreguinhas são mais numerosos, mas o programa de rádio da Franka, tenho certeza, vai virar rapidamente uma coqueluche e num instante esses caras também já se esgotarão. Sobrariam quem? Quem? Os famosos-com-cara-de-pidão. Todo mundo já viu no aeroporto, no shopping, na praia ou naquele hotel em que entrou para descolar um café de graça. Esses pidõezinhos são bem ruins para fazer perguntas e meio chatos, mas fazer o quê? Não é todo dia que um famoso-mega-fabuloso surge por aí, né?
Então. Aí quando acabasse o estoque de pidõezinhos, quem sobraria? Quem? Quem? Os não-famosos, é lógico. Os seres humildes e modestos, como eu, que optaram voluntariamente por fazer parte da humanidade que vaia e critica, mas que também aplaude, apupa e tieta.
Nessa hora, no final da fila, lá estaria o Careca, com as perguntas anotadas para entrevistar a Franka. E na minha vez, eu sei, eu sei, eu sei, eu teria que fazer um esforço gigantesco para controlar os meus instintos mais elementares. Eu ficaria remoendo e me contorcendo para não mandar um beijo pra você, Franka, e outro pro papai e pra mamãe. Hellooooo!
domingo, 12 de setembro de 2010
Sal para pequenos pesadelos
Ultimamente eu tenho chegado um bocado cansado do trabalho. E como já não escrevo diariamente no blog, procuro me concentrar nas crianças. Minha filha e meu filho. Ela tem apenas cinco anos e quer fazer valer a sua vontade. Eu tenho medo de satisfazer todos os seus desejos, porque me ensinaram que isso não é bom para as crianças. Não é mesmo. Mesmo assim, eu gostaria muito de satisfazer todas as vontades da princesinha.
E ela tem uma cisma com sal. Gosta de colocar sal na salada. E coloca sal demais se você deixar. E também gosta de lamber o saleiro. Vigiar a menina é difícil, ela fala pelos cotovelos. E isso distrai a gente. Então eu e a minha mulher vigiamos o saleiro, é mais fácil. Mas ainda assim eu me distraio ouvindo a voz da minha menina.
Eu lembro que gostava de lamber o prato quando era menino. Minha mãe perdia a paciência. Meu irmão lambia o prato às escondidas. Então eu também aprendi a lamber o prato às escondidas, até que um dia quebrei um prato. Minha mãe perdeu a paciência. Eu também perco a paciência. Antigamente os pais podiam perder a paciência numa boa, sem sentir doses cavalares de culpa. Hoje em dia é diferente. Você já se sente culpado só de pensar em perder a paciência. Mesmo assim, ás vezes a faina de controle é exagerada e me pego tomando o saleiro das mãos da menina no meio de uma refeição.
Nessas horas ela se chateia e eu também fico chateado comigo mesmo. A gentileza deve ser uma prática permanente, de todos os minutos, e muitas vezes eu me pego sendo um grosseirão detestável justamente com as pessoas que eu mais amo.
Mas agora já é noite. Minha mulher está na faculdade. E meu filho, de sete anos, foi dormir na casa do primo. Ela e a prima de seis anos de idade pedem uma sessão de cinema. E você já sabe como é. Basta um pacote de pipocas de micro-ondas, um DVD e apagar a luz. Como está frio, eu também levo cobertor para as meninas no sofá. Quando elas estão bem confortáveis, eu inicio o DVD e vou para a cozinha, três minutos de potência máxima para uma pipoca com manteiga. Quando fica pronta, coloco a pipoca em duas vasilhas de metal e salpico um pouco de sal por cima. As meninas adoram pipoca. E filmes das Barbie. Aliás, até eu gosto de filme da Barbie. São cheios de ação e aventura. E canções. Adoro filmes com cantoria. Até hoje assisto filmes do Elvis. E Dean Martin. Frank Sinatra. A diferença é que nos filmes da Barbie, as mulheres mandam um bocado nos homens. Pensando bem, é quase igual ao que acontece na vida real.
_Coloca mais sal, paiê?
_É, tio, mais sal - diz a prima.
_Não senhoras, já tem sal à beça. Muito sal faz mal.
_Ah, paiê, só um pouco.
_Não.
Antigamente os pais podiam tacar sal e manteiga à vontade na pipoca das crianças sem sentir doses cavalares de culpa. Hoje em dia, eu sinto culpa só de olhar para o saleiro. E a minha mulher não está em casa. Não dá para vigiar o saleiro sozinho.
Mas eu já estou cansado de assistir Barbie e as Mosqueteiras então venho para o computador.
De onde eu escrevo, um reflexo no blindex me permite observar o filme na TV e também as crianças no sofá. As duas meninas não parecem muito concentradas no filme. Começo a ler as notícias e me distraio com o que acontece neste país. Novas denúncias pipocam de todos os lados. Os suspeitos de sempre dizem que não sabem de nada. As pesquisas mostram que a eleição dos suspeitos de sempre vai ser uma barbada. As pesquisas mostram que a maioria está muito satisfeita e quer continuidade. As pesquisas mostram que as pessoas insatisfeitas querem continuar insatisfeitas. Como era mesmo a frase sobre a unanimidade do Nelson Rodrigues?
Escuto um barulho vindo da cozinha. Foi lá que eu deixei o saleiro.
_ Filha, por favor não ponha mais sal na pipoca - eu digo.
_Tá bom, paiê!
_Você e sua prima vão ficar com muita sede se puserem mais sal. Faz mal à saúde.
- Tá bom, paiê!
_ Eu não vou levantar e pegar água para meninas com sede.
Eu continuo a ler as notícias. São tão boas que é difícil conter as lágrimas. Às vezes tenho a impressão de que um desfecho bom se aproxima, mas em outras perco a esperança. As meninas adormecem no sofá, no meio do filme. Eu arrumo as camas e depois vou carregar as crianças. Rafael, o cachorro shi-tsu da minha filha, fica tentando arrancar as meias das crianças no caminho. Aí volto para o computador.
_Paiê - berra a minha filha, assim que estou de volta.
_O que é? Está com sede?
_Não paiê, tive um pesadelo. Dos pequenos.
_Sei. Aí ficou com sede, né?
_Só um pouquinho, paiê.
_E sua prima também teve pesadelo?
_O meu foi bem grandão, tio!!
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
A roupa nova do rei
A educação é estupenda.
Nossas crianças obtêm resultados deslumbrantes em testes de conhecimento.
As escolas, os colégios e universidades são de primeiro mundo.
Estudantes e pesquisadores do mundo inteiro fazem fila para vir para cá.
Os serviços de saúde são excelentes e acessíveis.
Não falta médico, hospital e remédio desde o dia 31 de dezembro de 2002.
O transporte público é uma beleza.
As estradas são ótimas.
E as melhores, é lógico, são as que não cobram pedágio.
Os aeroportos são do balacobaco.
Tem emprego de montão.
A previdência social é superavitária.
Os impostos são poucos e inteligíveis.
O leão não vaza dados. Sigilo é sigiloso.
A qualidade dos serviços públicos é sensacional.
As filas e o pistolão foram extintos.
Os políticos e executivos do governo detestam mordomias e são honestos.
Não metem a mão no dinheiro público.
Não empregam parentes e cupinchas.
E não se ocupam só de favorecer os amigos e prejudicar os adversários.
Eles adoram um debate franco, aberto e livre, jamais agridem quem discordar de suas idéias.
São gentis, estudiosos e abominam o autoritarismo.
Eles desaprovam o uso de montanhas de dinheiro para a construção de estádios de futebol.
A polícia é super-eficiente e nunca tortura.
A segurança é total.
Bandido não tem vez.
A polícia tem a confiança de todos.
Corrupto vai para a cadeia.
A justiça é célere.
Só existem advogados do bem, que nunca pactuam com o crime.
As instituições são sólidas e firmes, não falta gente de bem.
E isso inclui os institutos de pesquisa eleitoral.
A liberdade é inatacável e inabalável.
E o presidente?
O presidente é um cidadão exemplar que respeita a lei.
Nossas crianças obtêm resultados deslumbrantes em testes de conhecimento.
As escolas, os colégios e universidades são de primeiro mundo.
Estudantes e pesquisadores do mundo inteiro fazem fila para vir para cá.
Os serviços de saúde são excelentes e acessíveis.
Não falta médico, hospital e remédio desde o dia 31 de dezembro de 2002.
O transporte público é uma beleza.
As estradas são ótimas.
E as melhores, é lógico, são as que não cobram pedágio.
Os aeroportos são do balacobaco.
Tem emprego de montão.
A previdência social é superavitária.
Os impostos são poucos e inteligíveis.
O leão não vaza dados. Sigilo é sigiloso.
A qualidade dos serviços públicos é sensacional.
As filas e o pistolão foram extintos.
Os políticos e executivos do governo detestam mordomias e são honestos.
Não metem a mão no dinheiro público.
Não empregam parentes e cupinchas.
E não se ocupam só de favorecer os amigos e prejudicar os adversários.
Eles adoram um debate franco, aberto e livre, jamais agridem quem discordar de suas idéias.
São gentis, estudiosos e abominam o autoritarismo.
Eles desaprovam o uso de montanhas de dinheiro para a construção de estádios de futebol.
A polícia é super-eficiente e nunca tortura.
A segurança é total.
Bandido não tem vez.
A polícia tem a confiança de todos.
Corrupto vai para a cadeia.
A justiça é célere.
Só existem advogados do bem, que nunca pactuam com o crime.
As instituições são sólidas e firmes, não falta gente de bem.
E isso inclui os institutos de pesquisa eleitoral.
A liberdade é inatacável e inabalável.
E o presidente?
O presidente é um cidadão exemplar que respeita a lei.
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
O Novo Caminho do Careca
Tá, tá, táá...(Lembra da música do seriado O Homem de seis milhões de dólares? Pois é, toca ela na cabeça)
(Desce BG)
Senhores, nós podemos reconstruir esse blog.
Ele será melhor, mais forte, mais rápido?
Não.
Eu nem me chamo Steve Austin.
Vem aí, o Novo Caminho do Careca.
(Sobe BG)
A nova logo estréia hoje.
(Desce BG)
Senhores, nós podemos reconstruir esse blog.
Ele será melhor, mais forte, mais rápido?
Não.
Eu nem me chamo Steve Austin.
Vem aí, o Novo Caminho do Careca.
(Sobe BG)
A nova logo estréia hoje.
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