Rafa é o cãozinho shi-tzu que minha filha ganhou de aniversário de 5 anos. Ele agora está com quatro anos. Ele passa o dia inteiro ao meu lado, se eu deixar. E geralmente eu deixo. Gosto da companhia do Rafa. Ele é silencioso na maior parte do tempo. E quando ele está cheio de ficar ao meu lado, ele simplesmente se levanta e vai se deitar em outro lugar.
Nesses quatro anos de convivência aprendi algumas coisas sobre o Rafa. Sou um péssimo observador de cachorros e não posso dizer que aprendi muito. O essencial é que o Rafa não gosta de nada que altere a rotina. Ele gosta de receber um biscoito e de encontrar a tijela de ração cheia pela manhã, além de água pura. Ele late insuportavelmente se não receber o biscoito. E também torra a paciência se a tijela não for lavada com capricho antes de receber a porção de ração. É preciso abrir a porta para que ele vá para o quintal antes das sete. Atrasos não são tolerados, o Rafa não espera para fazer o número um e o número dois.
No almoço o Rafa fica na dele. Ele está com saudades das crianças e por volta de uma da tarde ele estará de prontidão no topo da escada, de preferência com um brinquedo na boca, aguardando a chegada da minha filha e, depois, do meu filho. É preciso brincar um pouco com ele antes de almoçar. As crianças sabem que o Rafa adora meias e por isso unem o útil ao agradável. Elas chegam da escola e atiram os calçados em qualquer lugar, com as meias dentro. O cachorro só amplia a bagunça. No início dessa mania de meias, as crianças ficaram com uma coleção de pares sem par. Para acabar com o problema decidimos comprar apenas meias brancas. As meias continuam sumindo, mas ninguém repara nos pares improvisados.
À tarde, o cachorro faz praticamente o que fez durante a manhã. Deita-se ao meu lado ou tira um cochilo em algum canto da casa. Como o interfone está quebrado, ele agora não late quando alguma visita bate palmas lá fora. É bem bucólico esse negócio de ficar sem campainha e interfone. É bem legal escutar palmas e a pessoa dizer "ô de casa". O Rafa também gosta porque não se irrita com o barulho. Ele também possui os ouvidos melhores que os meus, e sempre me chama a atenção quando eu não escuto as pessoas chamando lá fora.
Falando em ouvidos, uma das coisas que eu observo no Rafa é a "hora da coçada na orelha". Isso acontece umas duas ou três vezes por dia. Por algum motivo que desconheço e tenho preguiça de procurar saber, o Rafa às vezes é acometido de uma coceira violenta nos ouvidos que o leva a esfregar a cabeça freneticamente no chão. Às vezes, eu ajudo. Mas o Rafa é autossuficiente, ele gosta mesmo é de atravessar a sala com uma das orelhas colada ao chão. Ele faz isso até o ataque de coceira passar ou ficar cansado, o que vier primeiro.
À noite o ritual da alimentação se repete. Biscoito, água e tijela limpa com ração. O Rafa acredita que um dos lados do sofá é propriedade exclusiva dele. Ele não é exigente quanto à programação da TV, desde que o seu lugar no sofá esteja garantido.
É muito raro o Rafa reclamar de alguma coisa. Em geral, ele reclama apenas quando alguém o deixa o portãozinho da escada fechada, impedindo que ele fique fingindo ser um tapete perto de um de nós. Quando isso acontece, ele faz um choramingo parecido com o rangido que a geladeira daqui de casa faz. Esse barulho infernal é muito semelhante a um gemido prolongado e pode ser até um pouco assustador. Às vezes também tenho a impressão de que o Rafa e a geladeira estão conversando. A máquina transmite vibrações gélidas que fazem o cachorro se lamentar em voz alta, sei lá. Outras vezes, quando é bem tarde e todos já estão dormindo, tenho a impressão de ouvir o Rafa e vou até a cozinha, preocupado. Mas é só o barulho da geladeira.
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