quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Bandidas

_Poucas vezes nós fazemos a pergunta realmente importante, a que merece uma resposta esclarecedora. Mas a verdade também é que muitas vezes recebemos as melhores respostas do mundo para as perguntas que não foram feitas ainda. Então, continuamos perdidos.

Conversar com o Velho Tom às vezes era complicado. Ele era metido a filósofo. E gostava de dizer que usava o “método dialético/quântico de investigação da realidade”. Eu nunca fiz a menor menção de querer saber o que isso significava, o que me poupou de um monte de asneiras. Mas ele sabia ser divertido quando queria.

_Aposto como faço aquele sujeito me pagar uma cerveja, ele dizia.

E num instante já estava sentado e conversando com um cara que ninguém nunca tinha visto antes. E no final, o sujeito lhe pagava não somente uma, mas várias cervejas. Até o dia em que acabava indo se juntar a nós, de pé, ao lado do balcão, ao perceber que era o único jeito de não acabar pagando cerveja para o Velho Tom ou outra pessoa qualquer. Nós éramos assim. A turma do chopp. Grana contada para dois, no máximo três chopps, e um quibe, ou um kafta, ou uma coxinha. Depois, zarpar de volta para casa, a passo, fazendo xixi nas árvores.

As mesas do bar eram apenas para ocasiões festivas ou para quando uma garota precisava ser impressionada. Em geral, o balcão era somente para nós, os habitués sem grana, os descolados calejados e sem dinheiro, os caras que só de vez em quando conseguiam uma garota bonita, uma namorada esperta. E não era uma questão de simpatia. Sabíamos ser simpáticos. Era uma questão de visão de futuro próximo. Não podíamos esperar uma semana, ou um mês. Tínhamos 18 anos. Tudo era para agora. E algumas meninas, só de olhar dava para perceber que nunca topariam rachar um motel entrando a pé. Não, senhor. Não esta noite. E outras, meu amigo, não deixariam o motel escapar nem se tivessem que pagar sozinhas. E essas você deixava de lado, só por enquanto, para uma situação de emergência. Você sabe, um olhar maroto, sem significar sim, mas também sem significar um não. E havia aquelas maravilhosas que também olhavam e desafiavam o seu olhar, o seu bolso e a sua libido. As Bandidas se sentavam sozinhas, desafiadoras. Ou então se juntavam em grupos de três, quatro. Eram as melhores. E valia a pena tentar alguma coisa hoje, agora.

Nós, do balcão, conhecíamos diversas Bandidas e trocávamos informações. No topo do ranking havia a Aninha, a Vera, a Sandra, a Lenora e a Ivete. Malu, Babete e Tina, Joana, Fofão e Bia. Por último, mas ainda assim uma gata, estava a Lusa. Sempre chegava por último. O Velho Tom já havia estado com todas. E por isso, era respeitado como o maior conquistador do pedaço. As Bandidas eram sensacionais. E é lógico que também trocavam informações sobre todos nós.

E nessa noite em que tudo aconteceu, estávamos todos lá, a Turma do Chopp. E o time das Bandidas também. Menos a Lusa, que nessa noite não apareceu. Ou talvez tenha aparecido depois que eu já tinha saído, com a Lenora. Não importa. (Continua)

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