Durante muito tempo ouvi dizer que só é possível escrever se você possui um bom motivo. Existem, é claro, bilhões de bons motivos por aí, e você só precisa de um deles - um bonzinho, nem precisa ser excelente - para por mãos à obra. Poderia ser por vaidade. Pelo desejo de ser amado. Pela vontade de ser lembrado. Por dinheiro. Pelo desafio. Uma aposta. Para impressionar uma pessoa. Para passar o tempo. Agradar ou desagradar alguém. Um presente. Uma piada. Uma chacota. Qualquer coisa.
Sim, descobri que não basta ter um motivo na cabeça. É preciso tê-lo pulsando no coração, é lógico. Também é preciso por mãos-à-obra, ter disciplina e um mínimo de dedicação diária. Mas o principal é o motivo. Por isso, confesso que fiquei um pouco surpreso quando percebi, logo após o início deste ano, que eu não conseguia mais encontrar nenhum motivo para escrever. As coisas que eu escrevia acabava apagando porque estavam carregadas de pessimismo e amargura, coisas que eu não queria e não quero deixar estampados no Caminho do Careca.
Poxa, tanta coisa acontecendo. O país em frangalhos. Os políticos aprontando. A turma de sempre e a turma mais nova roubando pra dedéu, e eu aqui, perdido num tremendo drama, sem encontrar nenhum motivo para sentar e escrever uma poucas linhas no blog, diariamente, como fiz durante tantos anos para mim e para minha querida kombi de leitores.
Tentei, com muito esforço, voltar a falar com entusiasmo e bom humor sobre as pequenas coisas que acontecem na minha vida e da minha família. Afinal, este blog sempre celebrou o impacto do que é irrelevante, o valor do que é perfeitamente descartável, a memória do que é efêmero. Mas a verdade é que um clima de sombreamento e melancolia acabou por me envolver e passei a considerar tudo, até mesmo o que é desimportante e pouco digno de nota, como algo que deveria ficar mesmo sem registro algum.
Sei que estou completamente errado, que é exatamente sobre as miseráveis e mínimas desventuras do cotidiano que devo me debruçar e escarafunchar até encontrar uma centelha de sentido, uma faísca cintilante de vida, mas, confesso, tenho sido burro demais para procurar nos lugares certos, só tenho achado coisas desesperadas e com um baixo astral da porra.
Por isso, depois de muito pensar e enrolar pacas, resolvi que vou escrever apenas quando der na veneta, ainda que não tenha nenhum motivo. O que me levou àquela música do Tim Maia. Que, por sua vez, me levou a uma rápida pesquisa na Internet que me fez descobrir que os 10 primeiros álbuns do Tim Maia se chamam "Tim Maia".